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Dos guaranis aos chineses

Uma declaração do jovem cacique Ariel Ortega, da Aldeia Alvorecer, localizada nas proximidades de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, nos faz refletir sobre a condição de sua gente: “Aqui tem hotel, restaurante, posto de gasolina, tudo isso usando o nome Guarani, mas não tem nenhum guarani que fale por nós”. Segundo ele, os índios só têm valor na história, não na atualidade. Essa, lamentavelmente, é a realidade de um povo que já conheceu tempos de prosperidade, mas que hoje sobrevive da venda de artesanato, sem perspectivas, como mostra nossa reportagem de capa.

Se os guaranis enfrentam dias difíceis, o mesmo não se pode dizer do Brasil, que deixou para trás o estigma de país periférico e agora desponta como um dos mais importantes entre os emergentes. Seu mercado interno, depois da ascensão de milhões de pessoas à classe média, tem enorme poder de atração, como comprova a disposição de empresas chinesas de se estabelecer em território nacional, seja por meio da construção de fábricas, seja através de fusões e aquisições, com destaque para o setor automotivo. E, embora o governo brasileiro tenha recentemente tomado algumas medidas restritivas, impondo a obrigatoriedade de os veículos terem pelo menos 65% das peças fabricadas no Mercosul, uma espécie de acordo de cavalheiros vai permitir que as companhias que já haviam dado início à implantação de unidades produtivas no país alcancem esse percentual gradualmente. A maneira como os investimentos vêm sendo realizados, no entanto, é questionada por alguns especialistas, como mostramos na matéria que trata do assunto.

Este número discute também uma situação bastante preocupante: o contrabando e a falsificação de agrotóxicos. O Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, não pode permitir que suas lavouras abram espaço para tais crimes, que provocam diversos prejuízos ao país. Além de contaminar as colheitas, o uso de insumos ilegais provoca intoxicações em trabalhadores rurais e eventualmente até em consumidores, diminui a arrecadação de impostos e causa severos impactos no meio ambiente. Como a motivação para essa prática é fundamentalmente econômica, as autoridades vêm estudando formas de oferecer alternativas aos produtores, como a entrada de agroquímicos genéricos no mercado.

Esta edição traz ainda um pouco da extraordinária trajetória de Arthur Bispo do Rosário, um homem que passou cerca de 50 anos internado num manicômio e durante esse período produziu obras de arte capazes de impressionar críticos especializados, a ponto de, em 1995, figurarem na Bienal de Veneza, um dos mais conceituados eventos de artes plásticas do mundo.

Abram Szajman
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac