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Nos espaços de Internet Livre do Sesc São Paulo, não há limite de idade para o público que navega por blogs e redes sociais



Criado em 2001, o programa Internet Livre, iniciativa do Sesc São Paulo no âmbito da cultura digital, foi concebido em resposta ao que se configurava como uma das grandes revoluções mundiais na comunicação: acesso à rede e ao computador como dispositivo de conexão e troca de informações. Da arquitetura dos espaços instalados em diversas unidades – na capital, no interior e no litoral – à capacitação dos instrutores de internet e multimídia, a proposta é empregar as inúmeras possibilidades da internet e dos dispositivos tecnológicos para levar cultura, lazer e informação a cada vez mais gente. Um público formado por representantes de todas as idades e interesses.

O diferencial da ação evidencia-se na filosofia orientadora do projeto: encarar a web como um meio de educação, capaz de oferecer aos seus usuários ferramentas de aprendizado, e não somente como um veículo de entretenimento. No cotidiano desses espaços, fica clara a convivência intergeracional. Tanto  nas atividades orientadas, como as oficinas oferecidas regularmente, quanto no uso livre, crianças, jovens, adultos e idosos descobrem juntos as constantes novidades que a rede oferece, trocando experiências e informações. ““A questão sempre foi não criar ‘guetos’ dentro do trabalho da Internet Livre”, esclarece o assistente da Gerência de Ação Cultural para as áreas de artemídia e cultura digital Cássio Quitério.




Liberdade de escolha
No caso da terceira idade, a orientação do programa é oferecer meios para que os interessados possam aprender desde os movimentos mais básicos – como operar o computador, entender a função do mouse etc – até iniciar-se em níveis mais adiantados, como acontece em uma oficina de tratamento de imagens ou sobre softwares livres. “Um dos principais objetivos do Sesc com suas ações nessa área é oferecer ao usuário a capacidade de criar uma consciência crítica acerca do universo das tecnologias e da internet”, continua Cássio. “Dessa forma, as atividades nos espaços de Internet Livre com a terceira idade sempre foram nesta perspectiva: incentivar as pessoas a descobrirem todo o potencial de conhecimento possível por meio da internet.” O assistente conta ainda que, como os cursos de iniciação para esse público são feitos em grupo, além do conhecimento sobre o assunto em si, a sociabilização acaba ganhando destaque. “Muitas vezes, essas aulas reúnem pessoas que não se conhecem, pessoas que vem espontaneamente. Em seguida, formam-se grupos para outras atividades do Sesc também.”

Outro destaque do trabalho, segundo Cássio, está na maneira como as unidades programam as atividades, garantindo que a parte técnica seja passada aos usuários, mas sem perder de vista o conhecimento que pode ser adquirido por meio do uso da rede. “As ações do programa Internet Livre se baseiam na premissa de trabalhar fora do senso comum que separa as questões técnicas das culturais. Se estamos falando em iniciação à internet, em busca de conteúdos, em perceber ou mexer com as máquinas, em mexer com um software, estamos falando de um aspecto técnico também, mas sem nos preocuparmos exclusivamente com o aspecto profissionalizante”, ressalta. “Porque o objetivo é abordar os temas culturais, ou seja, uma aproximação dessa técnica por um caminho diferenciado, sempre colocando assuntos de interesse do usuário, coisas de sua rotina.”

Cássio afirma ainda que parte do know how do Sesc na área da cultura digital é justamente esse de “fazer as pessoas se interessarem pelas questões técnicas, mas sem uma camisa-de-força ou uma metodologia engessada”.


Internautas experientes
Entre os mais assíduos frequentadores da Internet Livre está Agmon Carlos Rosa, 73 anos, que se iniciou no universo da rede por meio do curso Meus Primeiros Cliques, no Sesc Campinas. “A maior dificuldade foi encarar o  ‘desafio do novo’, a revolução das informações”, conta Agmon – por e-mail, segundo ele o jeito mais fácil de contatá-lo. “Hoje, quem guarda os conhecimentos são as máquinas (a inteligência artificial), razão pela qual tivemos de optar por uma coexistência pacífica.” Os entraves, no entanto, apareceram apenas no início da jornada. Seu Agmon não demorou para entender o universo virtual e hoje até mantém um blog de poesia –www.casadopoetadecampinas.blogspot.com. “A cultura é muito importante na aceitação da maturidade”, analisa. “Tanto o grau de cultura quanto o nível intelectual são referenciais importantes.” O blogueiro explica que a internet foi um meio encontrado por ele para manter-se atualizado em sua área de interesse. “No meu caso, são literatura e a poesia em especial. A criação do blog Casa do Poeta de Campinas, já em fase mais avançada na informática, foi uma consequência [do aprendizado da internet].” E seu Agmon deixa um recado: “Enquanto nossas perdas e enfraquecimentos puderem ser contornados por um saber prático e intelectual, não se deve falar em velhice.”

Amélia Aparecida Barbosa, 62 anos, também aposta na internet para manter-se informada. Frequentadora da Internet Livre da unidade Pompeia, dona Amélia iniciou-se na informática aprendendo a utilizar o editor de texto. “Eu já sabia mexer com o computador”, conta. “Não tinha dificuldade de acesso à internet. Mas no começo, tinha medo, achava que ia quebrar.” Hoje, depois de várias pesquisas na rede para o seu primeiro livro, O Despertar de Yolanda – que aguarda uma oportunidade de ser publicado –, esse pensamento ficou no passado. “O papel da internet hoje na vida das pessoas é fundamental, principalmente para pessoas sozinhas como eu”, declara dona Amélia. “Você passa a ter amigos virtuais, fala com a família pela internet, utiliza-a como ferramenta de comunicação.”

Já Michele (pronuncia-se Miquele) G. Magliano, 79 anos, não está ainda num estágio tão avançado na sua “luta” – como ele chama – com o computador. Mas desistir nem passa por sua cabeça. “Eu ainda vou chegar ao ponto de entender o como e o porquê dessa máquina”, garante. “Por exemplo: eu dirijo, então entro no carro, rodo a chave, a eletricidade é ativada, as velas emitem faísca, ocorre a combustão e o carro começa a andar. O dia em que eu entender esse processo no computador, eu vou dominá-lo.” Seu Michele frequenta o espaço de Internet Livre da unidade Vila Mariana há dois anos.

Hoje, já possui uma conta de e-mail e escreve e imprime seus textos. “Além disso, gosto de entrar em sites estrangeiros”, diz. “Entro muito no site da [marca italiana de carros] Ferrari.” Para seu Michele, entender as novas tecnologias é uma necessidade. “Mesmo o celular. Certa vez meu carro morreu – negligência minha, eu deveria ter checado o óleo e a água –, mas, enfim, naquela situação se eu não tivesse um celular estaria perdido.”