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Entrevista

Alfredo Bosi


O professor e crítico literário analisa a produção de autores de várias épocas e fala do ensino de letras hoje


Membro da Academia Brasileira de Letras – desde 2003, ocupando a cadeira de número 12 –, o professor, crítico e historiador de literatura brasileira Alfredo Bosi graduou-se em letras neolatinas em 1958. Na época, estudou na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) – atualmente, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). “Eu entrei na faculdade em 1955, ou seja, um ano após a morte de Oswald [de Andrade, poeta modernista]”, contou o professor durante a entrevista concedida à Revista E. “Logo, todos o conheciam. Havia também um culto forte de 1922, do qual eu não participei.” Essa é uma das muitas passagens que o professor emérito da USP tem para contar, acumuladas em seus cinquenta anos de vida acadêmica, durante os quais lecionou para cerca de dez mil alunos. São histórias que vão das “brigas” entre os seguidores de Mário de Andrade e os de Oswald à chegada dos poetas concretos e suas polêmicas no cenário das artes e da crítica. E o termo “história” talvez seja mesmo o mais adequado, visto que Alfredo Bosi chegou àquele ponto em que o conhecimento adquirido – que não é pouco – se mistura com a própria vida. A seguir trechos da conversa.

“O que você já sabe e gosta, por si próprio,caminha para
estimulá-lo. É o diferente que exige reflexão,exige que a
pessoa se transporte para outra época, exige erudição, pesquisa”

Passados tantos anos do modernismo, que atacou brutalmente os parnasianos, podemos dizer hoje que o parnasianismo foi um dos grandes momentos da poesia brasileira?
O que acontece hoje é um certo reconhecimento dos parnasianos, mas apenas em alguns ambientes, como, por exemplo, a Academia Paulista de Letras, uma instituição onde esses mestres do passado – como chamava Mário de Andrade – ainda são reverenciados, por se tratar de uma academia que se volta para a cultura de todas as épocas, inclusive esta da qual falamos. No Rio de Janeiro, eu vejo, como membro que sou da Academia Brasileira de Letras, um grande respeito pelos parnasianos por parte dos meus confrades. Não vejo de forma alguma uma atitude crítica e sarcástica. Depois, alguns centros universitários, que agora estão multiplicados pelo Brasil – pós-graduações em letras por toda parte –, também mostram grande curiosidade por esses poetas que foram jogados no purgatório, no limbo. Um exemplo é a Unicamp [Universidade Estadual de Campinas].


E como estudioso da literatura brasileira, qual a sua opinião?
Eu acho que os parnasianos – com o perdão de todos os que querem recuperá-los e reestudá-los – são poetas que tiveram raros momentos de inspiração. E por causa desses momentos devem ser relidos. Mas dos três poetas parnasianos, Bilac [Olavo Bilac, 1865-1918], Raimundo Correia [1859-1911] e Alberto de Oliveira [1857-1937], sem dúvida, eu prefiro o segundo. Raimundo não é um poeta de grande eloquência, como o Bilac – dos hinos ao Brasil e à paisagem brasileira. Eu acho Bilac eloquente, quero usar essa palavra. Não acho que ele seja um grande poeta, e sim eloquente, ou seja, ele dominava a linguagem. Já Raimundo Correia é um poeta de tons menores, um poeta recolhido, meditativo. Quando ele escreve é para interiorizar aquilo que ocorre fora dele. É um poeta quase filosófico e muito inspirado também. Dos três, aquele que menos me agrada é Alberto de Oliveira. Acho-o retórico, cheio de lugares-comuns, um poeta que se repete muito. Não vejo nenhuma profundidade. Então, veja, de três, sobrar um e meio já é bastante.


Hoje se vê a história da literatura brasileira e se fala muito da Semana de 1922. A gente pode dizer que esse reconhecimento todo, os livros escritos sobre o movimento, corrobora uma grandeza literária ou o senhor acha que há um exagero quando se coteja o que se escreve sobre o movimento e o volume literário que ele produziu?
São coisas diferentes. A Semana de 1922, em si mesma, não produziu nada de notável. Ela foi apenas, digamos, a explosão de jovens cuja finalidade era substituir o parnasianismo e a cultura tradicional por uma cultura de vanguarda. Os modernistas apresentaram novidades, eram lutadores por uma transformação, mas não trouxeram, naquele momento, obras literárias de grande quilate. Era mais um momento de manifestos, de pronunciamentos. O que ficou dos modernistas foi construído depois, pouco a pouco e pelos escritores. Às vezes bastante depois, como Macunaíma [de Mário de Andrade – 1893-1945 –, a Editora Agir tem uma edição de 2008], uma das obras-primas que nós ligamos ao modernismo e que foi publicada em 1928. Manuel Bandeira [1886-1968], que pode ser considerado o maior poeta modernista, já tinha escrito vários livros importantes antes de 1922. Portanto, ele não foi um poeta formado pela Semana de 1922. Drummond [Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987], poeta, contista e cronista brasileiro, veio um pouco depois, sem dúvida afetado pelo modernismo paulista. Há poetas que estão intrinsecamente ligados ao modernismo: Mário de Andrade e Oswald de Andrade [1890-1954]. Mas, sobretudo, como poetas, porque Mário depois escreveu romances, crônicas etc. Morreu em 45, e a sua evolução literária e cultural posterior à Semana foi tão rica que não é possível considerá-lo somente um homem de 1922.

O senhor chegou a pegar a construção de uma dualidade Oswald/Mário. Como o senhor a enxerga?
Eu acredito que, pelo menos até os anos de 1960, essa dicotomia não era aprofundada como foi depois. É claro que havia pessoas que preferiam Mário de Andrade. Achavam que ele era mais sólido, grande estudioso do folclore, conhecia profundamente música, tinha um diálogo fecundo com o Nordeste e era um crítico que acolhia todos os poetas e narradores que lhe mandavam obras – além de ser um poeta e um prosador extraordinário, no caso de Macunaíma e de Contos Novos [a Itatiaia Editora tem uma edição de 1999]. E Oswald de Andrade era considerado principalmente um escritor de lampejos. Dizia coisas geniais no meio de piadas e de comentários sarcásticos. Mas um autor que em alguns raros momentos chegava a pontos altos, sobretudo na poesia. Mas fazia-se esse contraste: a Mário dava-se o prêmio do homem do estudo e da erudição, e sobre Oswald contavam-se muitas histórias e anedotas. Por exemplo: Em 1943, a Faculdade de Filosofia [da USP] já estava formando sociólogos, antropólogos etc. Vinham professores de fora, como veio Lévi-Strauss, e que ensinaram os seus primeiros discípulos a empreender pesquisas eruditas, isto é, a estudar com seriedade temas nacionais e universais. E Oswald, como tinha sido muito festejado em sua juventude, começou a se sentir meio marginalizado, porque aqueles jovens tinham já uma linguagem universitária. Então ele dizia que não suportava aqueles “chatoboys” – que eram nada menos que Antonio Candido [professor e crítico literário], Paulo Emílio [Paulo Emílio Salles Gomes, 1916-1977, historiador e crítico de cinema] e Décio de Almeida Prado [1917-2000, professor e crítico de teatro]. Mas hoje essa polarização não está mais no auge, como esteve nos anos de 1970. Acho que hoje essa dicotomia se reduz a um momento histórico “desimportante”, já superado. Como crítico e professor, não vivo esse falso problema, e julgo que a literatura brasileira depois de Mário de Andrade e Oswald de Andrade contou com nomes tão altos e tão superiores, como Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Clarice Lispector [1920-1977] e Guimarães Rosa [1908-1967], que me parece provinciano continuar debatendo quem foi o maior dos dois.



“A Semana de 1922, em si mesma, não produziu nada de notável. Ela foi apenas, digamos, a explosão de jovens cuja finalidade era substituir o parnasianismo e a cultura tradicional por uma cultura de vanguarda”




O senhor diria que o que ficou de Oswald foi a poesia?
Ah, sim...

E de Mário?
A prosa. Macunaíma, os contos – ele é um grandessíssimo contista – e os estudos de música, de folclore e suas críticas literárias primorosas. Ele foi o primeiro a descobrir Cecília Meireles e outros poetas da época. Sempre acertava a mão quando criticava.

De fato, por meio das cartas dele, é possível perceber que ele sempre se relacionou com pessoas muito interessantes.
E Oswald de Andrade era tão maldoso que dizia que Mário tinha ficado famoso porque respondia a todas as cartas que lhe mandavam os estreantes de todos os estados do Brasil...

O senhor, na época de estudante, chegou a ouvir muitas histórias sobre Mário, Oswald e o modernismo?
Eu entrei na faculdade de filosofia, no curso de letras, em 1955, ou seja, um ano após a morte de Oswald. Logo, todos o conheciam. Havia também um culto forte de 1922, do qual eu não participei. E o que ocorreu é que se sabia muito sobre o valor tanto de Mário quanto de Oswald e também sobre as diferenças entre eles. Comentava-se tudo sempre de maneira jocosa. Mas depois vieram os poetas concretos. O concretismo começou em 1956, com o primeiro manifesto da poesia concreta, e avançou depois pelos anos de 1960 e 1970, com os irmãos Campos [Haroldo de Campos, 1929-2003, poeta e tradutor, e Augusto de Campos, também poeta e tradutor] e Décio Pignatari [poeta, ensaísta, professor e tradutor]. E quando esse movimento surge, ele encontra Oswald de Andrade, um poeta que tinha sido muito influenciado pelos futuristas, por Marinetti [1876-1944, autor italiano] etc. E os concretistas tinham paixão por isso, pelo cubofuturismo de Maiakovski [1893-1930, poeta russo]. Então, eles encontraram em Oswald uma espécie de apoio para algumas de suas ideias – por exemplo, a poesia rápida, a poesia em minutos, como ele dizia. Oswald era um ponto de referência – um pouco forçadamente na verdade, porque Oswald era múltiplo, mas eles [os concretistas] ficaram com esse Oswald da poesia em minutos. E na medida em que eles o engrandeciam, Mário aparecia com um anti-Oswald, porque compunha em verso, era muito simpático ao romance nordestino, coisa que Oswald pouco apreciava. 

Como o senhor avalia a produção literária do concretismo?
O concretismo foi, curiosamente, um movimento ao mesmo tempo de poesia – seus integrantes eram e ainda são poetas –, mas também de crítica, também um projeto de restaurar certos valores e abater outros. Mas penso que os três, digamos, corifeus do concretismo são poetas. Reconheço que não tenho empatia para com a produção crítica deles. A maneira pela qual avaliam a literatura e subestimam alguns autores, ou superestimam outros. Os critérios todos de criar o que eles chamam de paideia, que seria o conjunto de autores que vale a pena ler, parecem-me discutíveis e propensos a injustiças e lacunas. Então, eu separaria o que eles chamam de crítica concreta, ou poética concreta, do talento de cada um deles. Haroldo de Campos, por exemplo, foi um tradutor extraordinário e criativo. Não só um intelectual que conhecia muitas línguas e as dominava, portanto, podia ler no original – tanto a Bíblia quanto Homero, os poetas latinos, os poetas provençais, ingleses, ele era uma verdadeira enciclopédia nesse sentido. Mas também como tradutor encontrava fórmulas muito felizes em numerosas passagens, de modo que as traduções são novos poemas. É claro que um erudito pode discordar de certas soluções, pois a tradução da poesia é uma tarefa muito ingrata, mas a gente percebe o talento extraordinário. Ele criou um estilo de tradução que até hoje é muito respeitado. No caso do Augusto de Campos, os seus poemas alcançam certa musicalidade, ele tem um ouvido muito fino para música moderna, para a dissonância. Sobretudo quando escreve em verso. E o Décio Pignatari foi um bom poeta antes de ser concreto. Ele escrevia poemas muito belos que eu lia com muito prazer, mas isso nos anos de 1950. Ele era muito talentoso como poeta pré-concreto. Era vigoroso, tinha um domínio muito grande da forma literária.

Houve uma descendência na poesia concreta?
Há vários poetas que seguem, mas não ocupam o mesmo espaço, pois parece que o concretismo exauriu a si próprio. José Paulo Paes [1926-1998, poeta, tradutor, crítico e ensaísta] dizia das várias e sucessivas revistas do movimento: “Nossa, mas há 30 anos que eles fazem a mesma revista!” Quer dizer, eles não se modificaram. Era uma doutrina tão rígida, ou tão fechada em si mesma, que não dava para evoluir como teoria. Isso não quer dizer que o Augusto de Campos não continue, como poeta, a criar textos muito interessantes. Porque ele tem muito talento. Seus textos transcendem, ultrapassam as regras poéticas do concretismo.

O senhor vem de uma época em que se ensinava literatura na escola. E hoje tem se falado

“Eu acho que eles [os parnasianos] –com o perdão de
todos os que  querem recuperá-los e reestudá-los –
são poetas que tiveram raros momentos de
inspiração. E por causa desses momentos devem
ser relidos”

muito no incentivo à leitura, em como transformar os jovens em leitores. Como professor, qual o senhor diria que é o caminho?
Quando eu comecei a dar aula de literatura brasileira, nos anos de 1970, formando, portanto, futuros professores de letras – e, por tabela, críticos literários, pessoas que, por hipótese, entendem de literatura –, o que ocorria então, e ocorreu durante vários anos, é que os cursos seguiam uma linha de acordo com a qual se principiava a dar literatura brasileira pelo período colonial. Época em que são poucos os grandes escritores, dá para contar com os dedos de uma só mão. Então começávamos com Anchieta [1534-1597, padre jesuíta nascido nas Ilhas Canárias, Espanha, e educado em Coimbra, Portugal] – temos a sorte de nosso primeiro apóstolo ter sido poeta muito inspirado, ele realmente tinha dons poéticos –, depois Vieira [António Vieira 1608-1697, escritor e religioso português], Gregório de Matos [1636-1695, poeta nascido em território brasileiro, mas de nacionalidade portuguesa, uma vez que o Brasil, na época, era uma colônia de Portugal] e depois vinham os poetas ligados à Inconfidência Mineira, do final do século 18. E nós comentávamos esses autores com muito empenho, mostrando a influência do barroco, do neoclassicismo e do arcadismo. O curso caminhava, do passado para o presente, e depois da colônia vinha o romantismo, depois o realismo, em seguida o naturalismo, o modernismo, enfim, todos esses períodos da literatura brasileira dados com seus principais autores, um em cada semestre. Eu achava isso muito bom. Durante todos os muitos anos em que isso ocorreu, o aluno saía com um conhecimento histórico e crítico sólido de toda a nossa literatura. Mas, num certo momento, houve quem questionasse: que interesse um aluno de 18, 19 anos poderia ter na literatura colonial? Eu nunca vivi esse problema, os alunos sempre se interessaram muito pelas aulas. Mas começaram a achar [refere-se ao núcleo decisório da Faculdade de Letras] que era preciso dar coisas mais contemporâneas, aquilo de que os alunos poderiam gostar. Eu dizia que não, que o professor tinha que dar algo diferente e não aquilo que o aluno já sabe ou entende. O que você já sabe e gosta, por si próprio, caminha para estimulá-lo. É o diferente que exige reflexão, exige que a pessoa se transporte para outra época, exige erudição, pesquisa. Eu sou muito favorável a que sejam dadas informações muito diferentes do que a mídia dá – sim, porque ela já dá um certo conteúdo para todos. E nós não temos que concorrer com esse tipo de cultura. Chegaríamos lá, claro. No sétimo semestre, era a hora de estudar os contemporâneos. Mas nessa altura o aluno já sabia que esses contemporâneos não saíram do nada, que eles têm passado, que a literatura brasileira vai acumulando uma série de experiências, de formas. Guimarães Rosa, que é um grandessíssimo escritor, não seria possível sem um passado, sem Euclides da Cunha [1866-1909], sem José de Alencar [1829-1877]. Existe um passado. O que aconteceu foi que o grupo achou que os modernistas e os contemporâneos deveriam ser o primeiro passo. Agora, de minha parte, eu continuo achando que, na história, o antes vem antes do depois. Existe certa experiência acumulativa pelo tempo. Quando você fala, escreve, cria, você está dentro de uma linguagem que já foi trabalhada pelos séculos. E, se você não conhece esse fluxo que vem do passado, fica parecendo que cada geração, digamos, inventou a roda. Você não sabe por que certos temas voltam, e voltam de maneira diferente. Você fica sem apoios de comparação quando o seu estudo é todo assim fragmentado. Eu acho que essa decisão foi um equívoco. Mas, por outro lado, quando um aluno tem paixão pela literatura, de alguma maneira ele compensa essas irregularidades cronológicas e vai atrás do que realmente lhe importa. Esse é o bom aluno, aquele para o qual não interessa de onde se começa, ele vai encontrar o caminho.

O senhor acha que esse caminho atual é bom para formar leitores?
Acho que ele forma leitores com um gosto muito prenunciado por aquilo que está acontecendo hoje, quer dizer, forma leitores que vão apreciar o contemporâneo e que vão ter muita dificuldade de entender textos feitos com outro espírito, em outra linguagem, em outra história. Mas isso não quer dizer que o aluno apaixonado por letras – e existem alguns, não muitos, mas existem – por si próprio não reconstitua toda a história e consiga localizar o que lhe interessa de maneira brilhante. Eu tenho alunos excepcionais. Entretanto, penso que a média dos alunos, como fez um curso colegial muito fraco, em geral muito dispersivo e sem consistência, vai ter dificuldade de reorganizar o fluxo histórico. Muitos ficam perdidos, ficam com gostos isolados, não têm hierarquias na cabeça e fazem grandes confusões. Mas eu sinto que mudar tudo isso é nadar contra a maré; então o que se deve fazer é continuar ensinando aquilo em que a gente acredita com toda a fé.

O senhor falou de Guimarães Rosa e Clarice Lispector e disse que eles são muito superiores à produção do modernismo. A pergunta é: quem, da altura desses citados, veio depois deles?
Ninguém.

E por quê?
Veja, ninguém da altura desses. Nós temos muitos bons escritores hoje. Temos uma literatura muito viva atualmente, tanto na prosa quanto na poesia, sem dúvida nenhuma. Mas como a pergunta é sobre alguém depois de Clarice e de Guimarães Rosa, que são autores de uma dimensão internacional – no sentido de poderem ser traduzidos para qualquer língua e admirados por qualquer literatura –, eu tenho de ser drástico. Vou ilustrar isso com uma experiência minha. Nos anos de 1970, sempre por sugestão de José Paulo Paes, meu guru literário, a Editora Cultrix me pediu que fizesse uma antologia dos contistas contemporâneos. Eu achei uma coisa perigosa escolher, entre vaidades literárias, pessoas vivas, alguns nomes. A encomenda era escolher 18 autores vivos. Coragem não me faltava, porém, então decidi: “Vamos lá”. Escolhi 18. Mandei uma carta para cada um; todos responderam, com seus currículos e algumas palavras afetuosas, porque eles se sentiram muito honrados. Um belo dia, uma escritora me perguntou por que eu não atualizava essa antologia, já se tinham passado trinta e tantos anos. E eu cometi uma gafe imperdoável. Disse a ela, com uma inocência que até hoje eu não sei como tive: “Mas quem eu vou colocar na altura daqueles que estão lá?”. Bom, essa pessoa nunca mais me cumprimentou. Mas paciência. Enfim, o que acontece é que hoje eu precisaria ler algumas dezenas e dezenas de autores que estão aí, porque atualmente se escreve muito. Mas não posso responder por que é assim. É uma questão aberta.


“O concretismo foi, curiosamente, um movimento ao mesmo tempo de poesia – seus integrantes eram e ainda são poetas –, mas também de crítica, também um projeto de restaurar certos valores e abater outros”