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Ressonâncias e Repercussões

por Juliana Braga de Mattos

Dia desses, lendo um texto do filósofo francês Gaston Bachelard, me deparei com as duas palavras que me serviram para o título deste artigo. Não que não as conhecesse ou, eventualmente, que já não tivesse flertado com elas na composição de uma ou outra frase ou pensamento. O que marcou o reencontro, no entanto, foi o sentido poético que Bachelard atribui a estes termos ao falar da experiência artística (mais precisamente, da poesia) e que trago aqui para dividir com vocês.

Em resumo, o filósofo falava sobre esse binômio como dupla inseparável na apreciação de uma obra artística: “na ressonância ouvimos o poema, na repercussão nós o falamos, pois é nosso”, escreve. A primeira despertaria a exuberância da obra enquanto a outra traria aprofundamentos no contato com seu interlocutor. Creio que este pensamento aborda de maneira muito pertinente uma das funções da criação artística: não apenas a de causar a surpresa ou admiração, mas, tão ou mais importante, a de criar diálogos com seu observador – em conversas que muitas vezes resultam em identificações, afirmações e certezas, mas também em dúvidas e estranhamentos (função primordial da arte).

Em mim, o impacto da idéia do filósofo foi imediato: não pude deixar de associar tais palavras às pesquisas que norteiam a próxima edição da Mostra Sesc de Artes, que neste ano busca “entrar” no caminho do público e criar momentos de pausa e reflexão poéticas, desacelerando o agitado cotidiano em que estamos imersos. Ações em distintas escalas de tempo e espaço, que criam uma desejada oscilação sobre os acontecimentos ao nosso redor, bem como formas não habituais de ocupação e fruição das obras artísticas, são elementos presentes nos trabalhos selecionados para a Mostra Sesc de Artes 2008 – em especial pelo desejo de ver ressonar e repercutir no público visitante, e mesmo nos desavisados “passantes”, as inspirações sublimes que a arte pode evocar.

Vejo reforçada nesta construção a idéia de que a arte tem um poder transformador, mas para tanto precisa ser conhecida, semeada, tornando-se constante e íntima no dia-a-dia da cidade. Quando ausente a voz do artista que nos recita seus poemas, torna-se difícil almejar que suas inspirações evoquem memórias e lirismos adormecidos – em nós, em muitos de nós e para tantos de nós. Buscamos, em nossa ação diária, e ainda mais com o evento que se aproxima, aumentar esse som – sussurro ou grito –, aguardando ansiosos as repercussões que dele surgirem.

Juliana Braga de Mattos, historiadora, é assistente da Gerência de Ação Cultural (Geac) do Sesc São Paulo.