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Saúde
Leve a sério aquele ditado que diz que as aparências enganam. Uma postura correta é mais do que uma forma socialmente adequada de se portar à mesa ou na hora de sentar-se no sofá. Assim como um corpo forte não necessariamente é aquele cheio de músculos que alguns freqüentadores de academia exibem orgulhosos. Quando o assunto é postura corporal, beleza não se põe à mesa. Cada vez mais na pauta de médicos e profissionais de educação física, essa condição vem sendo indicada como a causa de uma série de problemas ligados ao desconforto, dores e demais golpes na qualidade de vida. “É difícil conseguir ter definições de ordem muito precisas quando se fala de questões que envolvam a corporeidade do ser humano”, explica a professora de educação física e mestre em psicologia Tânia Urbanavicios Guerra. “Mas, em tese, a postura [corporal] seria um arranjo adequado do corpo no tempo e no espaço.” Ou seja, segundo Tânia, seria o mesmo que afirmar que existem, sim, formas adequadas para ficar sentado, em pé, para dormir e para uma série de outras atividades do dia-a-dia sobre as quais pouco se reflete. “Basicamente, a postura corporal envolve o sistema músculo-esquelético”, segue a professora. “Mas, ao contrário do que muitos pensam, não é algo que envolva somente a coluna vertebral. A postura bem pensada tem a sua base na posição que os pés ocupam no chão. Dessa forma, o desarranjo que se inicia nos pés pode comprometer não somente a coluna, mas também os membros inferiores, os braços, os ombros e até mesmo a cabeça e o pescoço.” Envolvendo tantas partes assim, dá para imaginar o tamanho do problema quando descuidamos da postura. “A maioria das pessoas tem pouca percepção sobre o funcionamento corporal”, afirma Tânia, que já ministrou aulas de reorganização postural por meio de um método próprio, em diversas unidades do Sesc, como Pompéia, Ipiranga, São Caetano e Carmo.
Muitas vezes, a pessoa só descobre que tem algum desarranjo quando tem um profissional que a oriente – na área da saúde, especificamente a ortopedia ou a fisioterapia em alguns casos. Ou então, quem faz esse papel é o olhar familiar, quando os pais notam que o filho está torto ou alguém chama a atenção para isso. A professora indica um bom jeito de se adiantar ao problema: prestar mais atenção em si próprio. “Olhar-se numa foto, em um filme, prestar atenção em como ficam as roupas em você, se elas ficam desarranjadas no corpo. Às vezes a gente fala que a roupa está torta, mas pode não ser a roupa, em 90% dos casos são as pessoas que entortam as roupas. Olhe-se na vertical, de frente, com uma jaqueta ou uma blusa de botão, veja se você percebe um desarranjo frontal.
O principal sintoma de qualquer problema nesse sentido é a dor e o desconforto. Mas convém não esperar chegar a esse ponto (veja dicas no boxe Mudança de postura). “Uma boa parte dos problemas posturais é desencadeada por mau uso, ou baixo uso, do sistema muscular – e mau uso significa ‘usar errado’ e baixo uso, ‘não usar’”, detalha a professora. “Pessoas com a musculatura fraca, ou seja, com um tônus muscular muito pequeno, ficam sem força, falta resistência, mobilidade articular. O somatório dessas questões, e mais todos os efeitos do cotidiano – estresse, cansaço, ritmo de vida, má alimentação, má qualidade de sono –, pode resultar num desarranjo postural.
Desafios e resultados
Diversas unidades do Sesc promovem aulas de diferentes modalidades focadas especificamente na postura do corpo. É o caso, por exemplo, da ginástica postural, na unidade provisória Avenida Paulista; da reeducação postural, no Ipiranga e Consolação; e do alongamento e postura, na unidade Ipiranga; além de ginástica, condicionamento físico e ginástica multifuncional, que compõem a programação do Sesc nas demais unidades da capital, interior e litoral. “A técnica [exercícios focados na postura corporal] também é oferecida aos nossos freqüentadores por meio de vivências, campanhas de saúde, palestras, workshops e eventos temáticos”, esclarece Claudia Righetti, assistente da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo (GDFE). “Promover o desenvolvimento de um corpo mais expressivo e consciente da importância de um estilo de vida mais saudável são metas constantes do Sesc, que propõe ações voltadas à saúde e bem estar, além de enfatizar a disseminação de diversos conceitos relacionados à cultura do corpo”.
Segundo explica a instrutora da unidade provisória Avenida Paulista, Valéria de Nadai Santos, as aulas que trabalham especificamente a postura corporal têm tido bastante procura. Prova disso foi uma solicitação inesperada dos alunos. “Foram os próprios alunos que pediram que a aula de alongamento fosse mudada para ginástica postural”, diz. Os freqüentadores não saíram perdendo com a troca, já que a aula ministrada por Valéria mistura exercícios de alongamento, respiração, força, relaxamento e postura corporal. “A respiração intensifica o exercício”, declara a instrutora. “A gente usa a respiração abdominal e a que é feita no Pilates, que, assim como a ioga, tem muito desses recursos que compõem a ginástica postural.” A força é exercitada com o uso de bolas sobre as quais são feitos alguns dos movimentos. “Elas trazem o desequilíbrio, com isso a gente solicita mais da musculatura, para a pessoa poder se equilibrar.” Quanto aos resultados, Valéria garante que, embora seja algo que varie de pessoa para pessoa, com dois meses a sensação de desconforto – claro, dependendo da causa – começa a desaparecer. “Tem um aluno aqui que é médico e que passa muito tempo curvado por conta das operações que faz”, afirma a instrutora. “Ele sentia muita dor por causa disso. Hoje ele me disse que já não sente mais dor porque fica lembrando do que eu digo: para ele encaixar o quadril, levantar os ombros etc.” Para consultar a programação completa do Sesc, confira o Em Cartaz desta edição. E fique atento: maio é mês do Dia do Desafio, que promoverá, entre suas muitas atividades, sessões de ginástica laboral feita no ambiente de trabalho e que visa amenizar os efeitos causados por movimentos repetitivos ou por longos períodos em pé ou sentado.
Prevenir é o melhor remédio, bastam consciência acerca da questão e aquisição de novos hábitos
1. Finalmente chegou a hora de sentar-se no sofá para ler ou ver TV? Ótimo, mas cuidado. “Sofá foi feito para sentar”, alerta a professora de educação física Tânia Urbanavicios Guerra. Ou seja, evite se “largar” nele ou deitar-se e apoiar a cabeça no braço do móvel. Se bater um soninho... vá para a cama.
2. Colchão: O termômetro é o seu bem-estar, mas sempre lembrando que ele não deve ser duro demais, tampouco afundar criando um ninho quando você se deita. Quanto à chamada densidade, Tânia esclarece: a densidade é um normativo que o fabricante te dá para que a durabilidade do material tenha certa garantia, mas uma densidade indicada para a minha altura não quer dizer que aquilo vai ser bom para mim.
3. Na loja de colchões, perca a vergonha. Quando for comprar o seu, deite-se nele e experimente-o bem. Uma vez que você o usará para dormir, não faz sentido testá-lo sentando-se nele ou ficar pulando e apalpando-o.
4. O trabalho é o local onde passamos a maior parte do nosso tempo, por isso merece atenção especial. Para quem trabalha sentado, vale sempre levantar, dar uns passos e alongar-se um pouco. Se achar que fica meio “estranho” fazer isso em público, aproveite então quando for ao banheiro. Lá ninguém vai vê-lo...
5. A internet é uma maravilha, não é? Navegue com moderação e sempre com o monitor na altura dos olhos. Isso evita que você fique o tempo todo olhando para cima ou para baixo. A “tecnologia” nesse caso é uma boa (e velha) lista telefônica embaixo do aparelho.
6. O alongamento vale também para quem trabalha muito tempo em pé. A idéia é sempre fazer os chamados exercícios compensatórios. Por isso, nesse caso, flexibilize os membros inferiores e dê uma voltinha de um minuto.
7. Atenção, crianças: mochila pesada faz mal para a postura. Procure carregar só o que for usar na aula do dia e evite as bolsas a tiracolo: elas representam uma sobrecarga num ombro só.
8. Atenção, pais: ensinem as crianças pequenas a levarem a comida até a boca em vez ficarem com a cabeça abaixada. O benefício não será apenas do ponto de vista da postura, mas também neural, porque assim se treina a coordenação motora do pequeno.
9. Por fim, não esqueça: nós temos dois pés, duas pernas, dois braços, dois ombros, ou seja, somos simétricos. “A gente está treinado a usar muito um lado só do corpo”, atenta Tânia. “Então, por exemplo, se você escreve com a mão direita, tente usar a esquerda para abrir portas, fechar a torneira... A orientação em relação a isso deveria acontecer desde pequeno.
