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O tripé baixo, guitarra e bateria mostra-se em grande forma em São Paulo, com shows cada vez mais disputados e fenômenos de popularidade via internet



São Paulo sempre marcou ponto na produção do rock brasileiro. É o lugar onde surgiram, nos anos de 1950, os irmãos Celly e Tony Campello, primeiros artistas a investirem exclusivamente no ritmo. Foi aqui que, na década seguinte, nasceram o movimento da Jovem Guarda e Os Mutantes, de Rita Lee. É também paulistano o sotaque dos provocativos Titãs e Ira!, e dos “moleques” do Ultraje a Rigor – isso sem contar os punks Garotos Podres e Os Inocentes, por exemplo.

O tempo passou, algumas dessas bandas não existem mais, outras já não fazem tanto barulho, mas São Paulo continua firme sobre o tripé baixo, guitarra e bateria. “O cenário passa por um momento inédito e fica mais forte a cada ano”, explica o jornalista e DJ Lúcio Ribeiro, especialista na cena alternativa do rock brasileiro. “Toda a engenhoca em que o movimenta está se consolidando: festivais, casas noturnas, artistas... O público também aumentou bastante. Em 2001, havia não mais que dois locais para ouvir rock na cidade; hoje você encontra uns 20.” A lista das “baladas” especializadas em São Paulo é, de fato, extensa. Locais como Outs, Funhouse, Hangar 110, Milo Garage, Inferno, Vegas, DJ Club, Studio SP, D-Edge, CB Bar, Berlin e Clash são alguns dos mais conhecidos no meio. A maioria deles está concentrada nos dois principais pólos irradiadores desse som: o Centro e a Barra Funda – antes degradados e distantes do cenário de lazer e cultura da cidade. “Essa história [de locais e regiões surgirem como pontos aglutinadores] não é nova”, conta o promoter Guilherme Barrela, que produz as festas Brasa e Peligro, respectivamente nas boates Berlin e Milo Garage. “Isso aconteceu em outras cidades, como Nova York e Berlim.”

Quase famosos
O crescimento da cena paulistana de rock alternativo – ou “indie”, termo da língua inglesa que se tornou bastante popular no meio – faz mais do que aumentar o número de opções para sair à noite. Ele também cria terreno para que surjam mais e mais bandas novas. Graças à possibilidade de tocar em vários lugares, mesmo sem o suporte dos meios convencionais de divulgação, esses grupos estão atraindo um número cada vez maior de pessoas, tanto nos locais onde tocam – clubes pequenos, mas que sempre atingem lotação máxima, como é o caso do Milo Garage, 170 pessoas; Berlin, 250; e CB Bar, 350 pessoas – quanto nos sites nos quais expõem seus trabalhos. Além da efervescência da cena, outro fator continua se reproduzindo: os sotaques de todo o Brasil – o que é a cara de São Paulo. Dividem espaço com grupos paulistanos bandas como a Cachorro Grande, do Rio Grande do Sul, a Zeferina Bomba, da Paraíba, a Cascadura, da Bahia e a Feichecleres, do Paraná. Todas em busca de um lugar ao sol na metrópole. “Aqui é o centro do Brasil, onde tudo acontece, vitrine para o resto do país”, justifica Beto Bruno, vocalista da Cachorro Grande. “É impossível manter-se na estrada vivendo em Porto Alegre.” Hoje, com cinco discos gravados, a banda é contratada de um selo de médio porte, o independente Deckdisc, e já possui uma estrutura acima da média para um trabalho não vinculado à grande indústria. Mas é bom não se enganar. A execução em algumas rádios especializadas e a presença do videoclipe na madrugada de alguns canais de música fazem deles, no máximo, “alternativamente famosos” – sobretudo quando os comparamos com representantes mais sortudos, como os fenômenos Pitty e CPM 22, freqüentadores de canais mais populares.

Novas regras
Com um público fiel, bandas como a Ludov, a Vanguart, a Rock Rocket e a Forgotten Boys – talvez a mais forte candidata a adquirir fama semelhante à dos gaúchos da Cachorro Grande – também ajudam a compor o atual cenário do rock. E, assim como os gaúchos, algumas bandas também desfrutam mais de prestígio do que propriamente de fama. A Forgotten Boys, por exemplo, com 11 anos de carreira, é uma das que colecionam elogios da crítica especializada. Em 2005, quando foi lançado o mais recente CD do grupo, Stand by the D.A.N.C.E., o jornal Folha de S.Paulo classificou o trabalho como “o melhor disco de rock a sair deste país” naquele ano.

Porém, de todos os artistas surgidos nesse ambiente, talvez os que mais exemplifiquem os novos termos de sobrevivência do rock – e da música em geral – sejam os paulistanos do Cansei de Ser Sexy – ou CSS, como são mais conhecidos na Europa e nos EUA. “No exterior, eles têm um prestígio jamais alcançado por outro grupo brasileiro além do Sepultura nos anos 90”, analisa o jornalista Lúcio Ribeiro. O CSS iniciou a carreira em 2003, tocou em várias casas noturnas da cidade e em 2006 lançou seu primeiro disco – cujo título era o próprio nome do grupo. O som “moderninho” e algumas letras em inglês contribuíram para o sucesso do álbum lá fora, o que, por sua vez, levou a banda a participar de badalados festivais internacionais de música, como o Coachella, nos EUA, no qual fez parte de uma lista que incluía nomes como a norte-americana Gwen Stefani e a islandesa Björk. O grupo segue cultuado pela crítica aqui no Brasil, mas não é visto nas grandes emissoras da TV aberta ou nas paradas de sucesso de rádios mais comerciais. 

Ludov e Rock Rocket

Realidade virtual
Entre músicos, jornalistas e demais personagens atentos à cena alternativa, o grande canal de renovação e de circulação das informações é a chamada Web 2.0 – como são chamadas as páginas de internet que privilegiam a interação entre os internautas. Fazem parte dessa corrente os blogs que reúnem os interessados em assuntos em comum e sites de relacionamento como o Orkut, de vídeos como o You Tube, Flickr (de imagens), o MySpace, uma espécie de catálogo virtual de artistas e bandas – famosos ou absolutamente anônimos – ou até mesmo o canal on-line da gravadora Trama, o Trama Virtual (veja o Saiba mais). É esse arsenal de endereços da rede que funciona como ferramenta/veículo para que as bandas toquem suas músicas, mostrem-se em fotos, rodem seus videoclipes, divulguem sua agenda de shows, enfim, comuniquem-se com seus fãs e com o mundo. “Antes, toda grande cena tinha que ter a participação do rádio, da televisão ou das mídias mais tradicionais”, afirma Lúcio Ribeiro. “Como hoje em dia tudo está na internet, e os mais jovens dominam muito bem essa instrumentação, a situação é bastante propícia para que os grupos montem seu próprio aparato de comunicação.” O mais utilizado é o MySpace, rede social criada nos Estados Unidos em 2004 que ganhou no ano passado uma versão brasileira. “Criamos uma plataforma fácil para as bandas, que podem manter sozinhas suas páginas, reduzindo a necessidade de um designer, um programador e outras despesas”, afirma Luiz César Pimentel, diretor de conteúdo do MySpace Brasil. “Além disso, o contato direto com os fãs é facilitado. Por isso, o site faz sucesso entre músicos: hoje, dos 300 milhões de usuários no mundo, 13 milhões são grupos e artistas solo.”

Cachorro Grande

Apesar do pouco tempo de existência no Brasil, a versão nacional do endereço já criou seus “fenômenos de popularidade”. É o caso da paulista Mallu Magalhães, de apenas 15 anos, que surgiu há poucos meses e ganhou visibilidade a ponto de se apresentar em diversos programas de televisão – Programa do Jô e Altas Horas, da Rede Globo, são alguns deles – e fazer shows em várias cidades do Brasil. “Já tenho mais de 700 mil acessos no MySpace”, comemora a artista, que encontra tempo em meio às obrigações musicais e escolares para atualizar pessoalmente sua página, colocando novas músicas, datas de shows e novidades em geral. “Embora nós só consigamos enxergar os artistas que ficam mais famosos, como a Mallu, por trás deles existem muitos outros, e justamente porque não é mais preciso ter muito dinheiro para fazer e divulgar sua música. A internet está nos nossos quartos”, finaliza Ribeiro.

 

 

Saiba mais:
br.myspace.com
www.orkut.com.br
www.youtube.com
www.flickr.com
tramavirtual.uol.com.br

Locais onde o rock domina o repertório
• Outs – Rua Augusta, 486, Consolação, telefone: 3237-4940, www.clubeouts.com
• Inferno – Rua Augusta, 501, Consolação, telefone: 3128-4140, www.infernoclub.com.br
• Vegas – Rua Augusta, 765, Consolação, telefone: 3231-3705, www.vegasclub.com.br
• Funhouse – Rua Bela Cintra, 567, Consolação, telefone: 3151-4530, www.funhouse.com.br
• CB Bar – Rua Brigadeiro Galvão, 871, Barra Funda, telefone: 3666-8971, www.cbbar.com.br
• DJ Club – Alameda Franca, 241, Jardins, telefone: 3541-1955, www.djclubbar.com.br


Aberto ao novo
Projetos e eventos das unidades do Sesc levam ao público a atual produção do rock brasileiro

 

O Sesc São Paulo é parte da história do rock alternativo brasileiro. Além do fato de ter sido a unidade Pompéia o local que abrigou o programa musical Fábrica do Som e o festival punk O Começo do Fim do Mundo, ambos em 1982, diversas outras unidades vêm abrindo os palcos aos novos nomes do gênero. Neste mês, é a vez da unidade 24 de Maio apresentar ao público o evento Rota Brasil, que pretende contar meio século de história do rock brasileiro, com apresentações musicais, workshops e exibição de filmes. A abertura da programação, no dia 19, terá a participação da banda Fuck Berry and The Followers, de Luiz Thunderbird (ex-VJ da MTV). No dia seguinte, o radialista e cantor Kid Vinil se junta à banda Ready Teds e ao veterano Tony Campello – considerado, ao lado da irmã Celly, um dos primeiros roqueiros do Brasil – num evento bastante eclético de apresentações e bate-papos. No dia 26, a unidade exibe dois filmes: Pânico em SP, de Cláudio Morelli, que retrata a cena punk de São Paulo, e O Mundo é uma Cabeça, de Bidu Queiroz e Cláudio Barroso, sobre o movimento mangue beat de Pernambuco. No dia 27, o público poderá lembrar o rock BR dos anos de 1980 com o filme Bete Balanço, de Lael Rodrigues, inspirado no sucesso do grupo carioca Barão Vermelho. Confira detalhes da programação no Em Cartaz desta edição.

Outro evento sobre o tema realizado no Sesc é o projeto permanente Caixa Preta do Rock, da unidade Santo André. Com dois anos de existência, a iniciativa reúne mensalmente shows de artistas independentes. “A idéia é trabalhar com todas as vertentes do rock, não só o estilo alternativo”, afirma o assistente de programação do Sesc Santo André, Dino Moura. “Abrimos espaço para bandas já veteranas, como Made in Brasil, Korzus e Viper, e também promovemos o novo, reunindo atrações tanto para o público jovem quanto para aqueles que curtem os sons mais antigos.”

O SescTV também entra na festa movida a guitarras e exibe, este mês, a série A História do Rock Brasileiro (fotos), uma co-produção entre o canal, a MS39 Produções, a Komvideo Comunicação e a TV Cultura. O documentário, dirigido por Pedro Vieira, será apresentado em três capítulos, que irão ao ar nos dias 16, 23 e 30. No primeiro, o tema é o desenvolvimento do gênero no Brasil durante as décadas de 1950 e 1960. Em seguida, serão abordados os anos de 1970 e 1980 e, por último, o documentário irá mostrar o cenário roqueiro no Brasil a partir da década de 1990. Os programas serão transmitidos às 18h30, com reapresentação às 22h.