Sesc SP

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Os Caminhos das Palavras
por Clívia Ramiro

"O tempo de ler, como o tempo de amar, dilata o tempo de viver"
Daniel Pennac


O Sesc existe desde outro tempo, quando, há mais de 60 anos, as pessoas e a vida deslocavam-se em um ritmo diferenciado: era uma época que transcorria ainda parcialmente à margem do furor e da ditadura da comunicação de massa, das mídias eletrônicas. As cidades cresciam, se desenvolviam, e as pessoas buscavam a melhor forma de se acomodar a elas e elas às pessoas. São Paulo ia exponencialmente delineando e consolidando sua vocação de metrópole multivalente e multivalores.

Nesse contexto, o Sesc era aquele dos centros de lazer e cultura, mas também da maternidade, do conjunto habitacional, do serviço marcadamente social que ajudava a alicerçar a expansão incipiente da cidade e de seu comércio, apoiando o desenvolvimento dos comerciários e dos cidadãos em geral.

Fictícias, pragmáticas, digressivas, múltiplas, as letras e as palavras trilhavam seu caminho de testemunho, registro, interlocução e recriação da sociedade no tempo reconstruído pelo leitor em uma peculiar relação íntima, mas também coletiva, com o livro.

Não posso conceber qualquer trajetória, minha, do Sesc, da sociedade, da humanidade, sem pensar nos caminhos das palavras, orais ou escritas, polêmicas ou conciliadoras, testemunhais ou inovadoras, ingênuas ou provocadoras, banais ou fundamentais. Umas das mais vigorosas manifestações socioculturais, as palavras são nossa expressão desde sempre. As palavras somos nós, são o corpo de nossas idéias.

Em algum momento, certamente não do modo esquemático como concebo, tudo cresceu demais. A cidade consolidava suas (infra)estruturas e, por caóticas que fossem, havia regras nas fachadas. Mais do que sempre, as pessoas incorporavam as mudanças e os avanços culturais e tecnológicos quase naturalmente. Nesse tempo, o Sesc ampliava sua rede de centros de lazer. Neles, a arte e a cultura eram cada vez mais postos ao alcance dos comerciários e da comunidade, corroborando uma ação que as entende como essenciais à educação e à formação do indivíduo.

De sua posição privilegiada, os livros acompanharam silenciosa e eloqüentemente esse cenário.

Tradicionalmente, em mudança e evolução constante como as outras artes, a literatura acompanhou tudo isso também dentro do Sesc. A literatura transmudou-se, flertou com outras linguagens, fundiu-se a elas, mas permaneceu, permanece. Em configurações diversificadas, os livros seguem incorporando, comentando, reagindo, criando e recriando para ainda oferecer a mesma espécie de intimidade e interconexão com o universo do qual o leitor decidir tomar parte.

No Sesc aconteceram palestras, debates, conferências, oficinas, leituras, encontros, expressões presenciais e virtuais, adaptações e intercâmbios com outras linguagens artísticas que procuraram estimular as pessoas a buscar sua literatura e levar a literatura a ocupar um espaço seu na cidade. E aconteceram os livros.

Desde há muito, independentemente ou em parceria com editoras que compartilham de seus ideais, o Sesc São Paulo publica livros que estabelecem um intenso diálogo com a produção intelectual e artística, e com sua programação, perenizando-os e democratizando-os.

Este é um ano especial, em que as Edições Sesc SP lançam vinte novos títulos e em que o Sesc está presente na Bienal do Livro, não simplesmente colocando publicações à venda, mas com o propósito de promover a difusão cultural e o acesso ao conhecimento, e reafirmando que, inúmeros e imbricados, os caminhos das palavras são também os do Sesc.



Clívia Ramiro, formada em letras com habilitação em tradução, é coordenadora editorial da Gerência de Desenvolvimento de Produtos do Sesc São Paulo