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PS
por Cristina Riscalla Madi
Ilustração: Marcos Garuti
O quê? Vou trabalhar no Sesc Santana? Mas como eu faço pra chegar lá? Preciso um mapa!
É superfácil, a Zona Norte está muito mais perto do que você imagina!
Você é daqui?
Sou. Sou paulistana...
Você mora na Zona Norte?
Não.
Ah, então você não é daqui!
A primeira etapa a vencer foi aprender os caminhos para chegar à próspera Avenida Luiz Dumont Villares (a badalada “Avenida Nova”). Muito fácil. Realmente é mais perto do que eu supunha. Como mágica, assim que fui designada para assumir a gerência do Sesc Santana, várias coincidências começaram a acontecer. Como no início de um namoro, a música que toca é exatamente aquela que você queria ouvir. Quanta gente que eu conheço mora na Zona Norte e eu nem sabia, quanta história tem nesse lugar! Quanto orgulho têm os moradores, ou, melhor, os nascidos aqui! Porque uma vez Zona Norte... Zona Norte até morrer!
Aos poucos fui chegando e podendo ouvir e conhecer a diversidade que a região apresenta. Desde o “incômodo” Carandiru – agora exorcizado pelo agradável Parque da Juventude –, a Serra da Cantareira, e a preocupação dos moradores de lá com a ocupação desordenada, os bairros mais ricos, os núcleos de pobreza e as inúmeras instituições sociais. Passada a etapa do como chegar, me aparece: como ser daqui? Como fazer parte? Como contribuir?
Gradativamente a equipe do Sesc Santana foi se compondo, em meio à finalização da obra. Entre barulhos, ruídos e muita poeira, fomos nos apropriando dos espaços internos, ao mesmo tempo em que íamos aprofundando nosso vínculo com a região. Tivemos a oportunidade de participar de algumas festas comemorativas dos bairros, ações sociais, encontros de lideranças, e até mesmo apresentar espetáculos da Mostra Sesc de Artes – Mediterrâneo. Nesses momentos, pudemos perceber a grande expectativa que as pessoas tinham a respeito da chegada do Sesc. Uma das questões mais recorrentes era se teríamos as mesmas atividades e programas das outras unidades. Pudemos também perceber a atenção e o carinho com que éramos esperados. O trabalho irá muito além do espaço físico bem construído e bem equipado. Sim, faremos aqui tudo o que o Sesc São Paulo faz. Os programas de desenvolvimento corporal, atividades para todos os grupos etários, oficinas de criatividade, áreas de leitura, shows musicais, espetáculos de teatro, dança, exposições, saúde, gastronomia, e por aí vai. Somos uma rede e as diretrizes são as mesmas. O que muda é a percepção de como cada região recebe e participa da construção dessas atividades. Para isso acontecer, faremos nessa primeira etapa uma programação bem diversificada, esperando cumprir com excelência nossa esperada chegada.
Chegar na Zona Norte é pensar em fazer aproximações. Mostrar que “o outro lado do rio” é parte importante da história de uma cidade como São Paulo, com toda a sua inquietação, suas riquezas e problemas. Através de serviços e da programação que o Sesc Santana vai oferecer, estaremos atentos para a formação de novas e boas platéias. Ver o público que vem e se incomodar com aquele que não vem. Estar em sintonia com as iniciativas locais para melhorias sociais e também criar referências de desenvolvimento cultural. Expandir a possibilidade de participação, possibilitar a troca de experiências e, sobretudo, aproximar as pessoas das outras pessoas e daquilo que elas desejam.
A partir daqui, abriremos as portas para atender e provocar mudanças pessoais, agrupar gente que nunca se viu, abreviar distâncias geográficas e culturais e, assim como os espaços oferecidos, mudar a perspectiva. Todo o prédio foi criado partindo dos conceitos dos programas que a unidade vai oferecer e de todos os lugares é possível ver de dentro para fora, com muita luminosidade e cor.
Assim como tivemos um bom começo, espero ser muito feliz aqui, pois, ao que parece, uma vez ZN... ZN até morrer!