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5º Congresso Mundial de Lazer

Domenico De Masi

Lazer em uma sociedade globalizada: inclusão ou exclusão? Essa única indagação carrega três elementos cruciais que delimitam as perspectivas do homem na atualidade: lazer, globalização e justiça social. A premência de se discutir o tema em âmbito mundial levou o Sesc, a Associação Mundial de Lazer e Recreação (WLRA) e a Associação Latino-americana de Lazer e Recreação (Alatir) a organizarem, entre 26 e 30 de outubro, no Sesc Vila Mariana, o 5o Congresso Mundial de Lazer, evento que contou com a chancela da Unesco.

Responder à pergunta lançada no início desta matéria foi o principal desafio de estudiosos e conferencistas. Nas conferências, painéis de debates, oficinas e apresentação de trabalhos, contextualizar a importância do lazer de qualidade em um momento de crise econômica mundial constituiu o centro nevrálgico das discussões.

Lazer e tempo livre em oposição à faina compulsória imposta em jornada intermitente e abstraída de valor humano: a crueza dessa sentença sumaria em última análise o que representou a evolução do trabalho da sociedade primitiva para a sociedade industrial e pós-industrial, como identifica o sociólogo e professor titular da Universidade de Roma La Sapienza, o italiano Domenico De Masi.

A escalada tecnológica entremeou a máquina entre o homem e o trabalho, permitindo, em teoria, que se liberasse mais tempo para outros afazeres. Por outro lado, o industrialismo e a produção excedente condenou-nos a consumir e transformou o trabalho em um fim destituído de valores, cujo único intuito é o acúmulo de riqueza, conforme sentencia o sociólogo alemão Robert Kurz.

Da relação fundamental entre trabalho, tempo livre e dinheiro, e de sua evolução ao longo dos séculos, as teses apresentadas pelos conferencistas e palestrantes pretenderam apontar uma direção alternativa que, incorporando elementos como globalização e inclusão/exclusão, enxergasse no lazer e no trabalho uma possibilidade de solução para a crise que se descortina.

A globalização e a crise

Na abertura do congresso, o diretor regional do Sesc e presidente do 5º Congresso Mundial de Lazer, Danilo Santos de Miranda, antecipando as discussões que se seguiriam, enfatizou que o evento aconteceu num momento de crises econômicas e sociais cuja gravidade não podemos ignorar. "Encontramo-nos, provavelmente, no fim de um período em que o progresso tecnológico propiciou, simultaneamente, a criação de postos de trabalho urbanos, a diversificação profissional, a expansão do tempo livre e o enriquecimento das práticas de lazer." Mais adiante, lembrou que "os problemas que se anunciam, nesta era da globalização, trazem questões inquietantes, como o perigo de exclusão de segmentos sociais cujas aspirações de vida puderam crescer durante as últimas cinco décadas e que se vêem agora ameaçadas."

Como se observa, a globalização, fenômeno sensível, porém polêmico, marcou a pauta das exposições. Em certa medida, ela é aceita como fato universal e inexorável e se manifesta principalmente pelo fluxo instantâneo e desbloqueado de informação. O que se discute, na verdade, são os efeitos que esse processo acarretará em países pobres ou em desenvolvimento. O trânsito desenfreado de bens e divisas levou os Estados de identidade cultural mais frágil a sucumbir à dominação dos mais fortes, estabelecendo-se uma relação desigual de força e a consequente padronização de atitudes - ou a "disneyficação" do mundo, nas palavras do sociólogo inglês Mike Featherstone, professor da Nottingham Trent University.

No esteio da disparidade cultural, a desigualdade econômica traz reveses incomensuráveis às nações carentes, agravando ainda mais, nessas localidades, os graves problemas de ordem internacional.

Da crise econômica pungente eclode o desemprego. Sem distinguir fortes e fracos, o flagelo constitui-se um dos mais dramáticos do fim do século. Como, então, discutir o lazer e o tempo livre nesse panorama sombrio de falta de perspectiva? Responder a essa questão paradoxal foi outro desafio do congresso. O premiado geógrafo Milton Santos lançou, na abertura do evento, a idéia de que o lazer espontâneo é produtor de emprego: "O lazer popular é símbolo de rebeldia, produzido de baixo para cima e, além disso, gera solidariedade. É preciso resgatar o tripé território, cotidiano e cultura para permitir que as pessoas se juntem e, juntas, criem trabalho, além de riqueza, com a improvisação". Dessa maneira, é fácil perceber, a partir da palestra introdutória, a relevância de se discutir lazer em tempo de desemprego. Ambos se entrelaçam vivamente e criam uma interdependência indissolúvel. O lazer gratificante, além de criar ele próprio condições de trabalho, estimula e qualifica as pessoas. Basta apenas garantir esse direito essencial, presente na Declaração Universal dos Direitos do Homem, a todos. Como bem lembrou o cientista político Emir Sader, "o cerne do lazer está em encontrar saídas para a questão do desemprego. O bom desfrute do tempo livre está intimamente vinculado ao trabalho".

O lazer na prática

No plano teórico, o debate focalizou o tema nas palestras e painéis, mas foi nas oficinas que a consecução das práticas de lazer foram exteriorizadas. Transmitidas por profissionais de várias áreas, as oficinas utilizaram as dependências do Sesc. Na piscina, foram ministradas noções de vivência na água, nas salas workshops privilegiaram práticas corporais. No campo artístico, Siron Franco organizou a criação de um painel mosaico e, na música, o eclético Antonio Nóbrega ministrou a Arte do Brincante, que mesclou música, arte cênica e composição. O resultado final foi apresentado no último dia de evento com os participantes da oficina oferecendo um espetáculo.

As oficinas refletiram as conclusões alcançadas nas palestras. Mostraram que a prática do lazer é essencial para a boa qualidade de vida e corroboraram a opinião dos teóricos sobre a importância de resgatar a cultura interna paralelamente ao movimento globalizante.

Os efeitos da globalização, juntamente com a questão qualitativa do que se fazer com o tempo livre, formaram o ponto central do debate. Todos aludiram aos problemas inerentes ao processo, como, por exemplo, o teor discriminatório que exclui um contingente imenso de pessoas - tanto em países ricos como pobres - da integração cultural e de lazer. Atenuar os efeitos nefastos da globalização torna-se uma das bandeiras fundamentais da atualidade.

Nesse sentido, Mike Featherstone chamou a atenção para o filósofo Paul Virilio, que prefere o termo globaritarismo ao se referir à padronização de modelos imposta pelo tráfego de informação. Segundo Featherstone, "a palavra-chave para a era da revolução tecnológica é a velocidade da informação, e não a dos bens físicos, como o automóvel. A instantaneidade do fluxo informativo pode ser reconhecida como o 'último veículo', já que ela equivale à velocidade da luz".

Durante os cinco dias do encontro, a pergunta central foi colocada à prova. O fato é que não há uma resposta pronta. Pelo contrário. Há necessidade de se encontrar soluções múltiplas que tornem o convívio com esses conceitos intrincados mais proveitoso. Findo o congresso, notou-se que não existe a panacéia universal, embora se saiba que privilegiar o lazer, respeitar as culturas locais e integrar todos os segmentos da comunidade seja fundamental para suplantar o horizonte embrumado que atravessamos.

A Declaração de São Paulo, definidora de diretrizes básicas para orientar políticas oficiais em torno do lazer, redigida ao fim dos cinco dias, constitui um importante marco. Outro fator importante foi a troca de experiências entre pessoas de todos os continentes. Todavia, o resultado mais importante está na certeza da crescente conscientização de que a prática saudável e democrática do lazer, por meio da realização digna do trabalho, passa a ser prioridade internacional. O encontro, nas palavras de Erivelto Busto Garcia, coordenador de planejamento do Sesc e do Comitê Internacional do Programa do 5º Congresso, "foi o maior fórum sobre o tema já realizado em todo o mundo, reunindo pesquisadores e estudiosos de inúmeros países, cujos desdobramentos certamente vão abrir novos rumos e perspectivas para o lazer e para o tempo livre". Garcia prossegue: "Foi um marco nos debates sobre o tema, já que propiciou o confronto não apenas de idéias e abordagens dos especialistas do lazer e do tempo livre, mas também por incorporar especialistas de outras áreas, como renomados economistas, planejadores urbanos e cientistas sociais de várias partes do mundo que se dedicam às questões cruciais da globalização". O mesmo entusiasmo é partilhado por Joel Naimayer Padula, Superintendente Técnico-Social do Sesc e Coordenador do Comitê de Organização Local. Para ele "o evento foi a maior oportunidade já oferecida aos estudiosos e pesquisadores do lazer, no Brasil, de apresentarem suas idéias e de debatê-las com seus colegas de outros países, num intercâmbio proveitoso para todos, marcado pela diversidade e pela busca de soluções comuns."

Robert Kurz (Alemanha), sociólogo:

O polêmico sociólogo alemão analisou o tempo livre em tempo de crise econômica: "Especialmente em época de crise é extremamente importante não perder de vista o debate emancipatório sobre o tempo livre mas, outrossim, aprofundá-lo". Infelizmente, o sistema não consegue traduzir em tempo livre a disponibilidade de ócio, mas apenas em exploração maior na busca de produtividade. Para ele, o tempo livre existe, mas na forma negativa, mercantilista. "O trabalho não é um meio para alcançar objetivos pessoais, mas sim auto-referência absurda de um sistema no qual as pessoas têm sido reduzidas a um meio. Nem os empresários são os sujeitos mas, sim, peças de um mecanismo econômico irracional. [...] Sob o jugo do mecanismo global capitalista, e especialmente em tempos de crise, não há tempo verdadeiramente livre. O assim chamado lazer não é um tempo liberado, mas sim parte do fetichismo e de suas obrigações sistemáticas." (leia mais sobre Robert Kurz na Entrevista deste mês)

Jorge Werthein (Argentina), representante da Unesco no Brasil:

"Estamos vivendo sob a égide da partilha desigual de conhecimento e do declínio do valor de trabalho. A utilização adequada do tempo livre é uma arma eficaz para combater essas mazelas do desenvolvimento humano. Deve ser criado, em última análise, um movimento opcional à globalização, com uma ética e consciência renovadas."

Teixeira Coelho (Brasil), professor da ECA-USP:

"Nós temos que preparar as pessoas para o não-trabalho, por meio do aumento da participação da cultura no currículo escolar. A cultura pode unir. No século 21, ela será condição de governabilidade. Então, do uso do tempo livre para fins culturais depende, no limite, a sobrevivência da civilização humana."

Saskia Sassen (Estados Unidos), professora de Sociologia da Universidade de Chicago:

A complexidade do processo globalizante e a dispersividade de bens e divisas tornam as cidades focos muito importantes na nova composição do mundo. "As cidades tornam-se quartéis generais para as empresas modernas, que contratam mão-de-obra terceirizada de outras empresas que igualmente estão sediadas em complexos urbanos, além de prover infra-estrutura de telecomunicação - a telematic capacity. "Para a professora, há um antagonismo nessa nova concepção urbana: enquanto a globalização dispensa a necessidade de localidade fixa, as novas cidades aparecem como centros nevrálgicos que concentram as empresas. "É o que ocorre com o Times Square (um quarteirão de Nova Iorque) que em três ou quatro anos foi totalmente remodelado para receber as grandes empresas de entretenimento." A partir da nova significação do espaço urbano, criou-se uma nova relação entre as pessoas e a cidade. "Ela passa a ser encarada como um lugar exótico, onde os turistas vão conhecer tipos esquisitos e habitações inusitadas. Surgiu, em última análise, um estilo de vida urbano, próprio deste fim de século."

Raquel Rolnik (Brasil), urbanista:

"A primeira questão é definir o lazer não como aquilo que é excepcional, extracotidiano, mas como uma dimensão prazerosa do cotidiano. Se a gente for entender lazer como algo que faz parte da vida, como faz parte trabalhar, criar e outras questões, a qualidade da cidade, o desenho da cidade ou, em termos técnicos mais precisos, o ambiente construído são fundamentaispara essa sensação de prazer ou de desprazer. Temos uma noção muito clara disso dentro do enorme desprazer que sentimos em São Paulo."

Mike Featherstone (Inglaterra), professor da Universidade de Nottingham Trent:

"Vivemos na época da cultura virtual, quando a mobilidade física perdeu a força em prol da mobilidade virtual da informação." Essa tendência originou-se com a pós-modernidade e com o advento de novas características urbanas. "A cidade transformou a experiência do tempo. Criou um sentimento de neurastenia, ou seja, o excesso de estímulos (overstimulation) criou novos tipos de percepção como, por exemplo, uma aguçada visão periférica e a captação de imagens efêmeras em contraposição à contemplação que marcava períodos anteriores. Essas são as características da cultura da informação, em que tempo e espaço sofrem, embaralham-se e perdem o sentido fixo. "Está aí o princípio da globalização, ou seja, a mobilidade exacerbada de bens e divisas sem bloqueios ou fronteiras."

Milton Santos (Brasil), geógrafo:

O geógrafo refuta o fenômeno da globalização e identifica apenas elementos nocivos. Para ele o lazer espontâneo, desvinculado do consumismo implantado pela indústria do lazer, produz trabalho que o processo globalizante extirpa, por excluir um contingente imenso das oportunidades de emprego. "As formas de lazer não devem ser mediadas. Gente junta cria trabalho. É necessário certa dose de infração nas realizações humanas. Infração no sentido de não se aceitar o que está estabelecido." Da prática política do lazer depende a construção de um mundo novo, com o elemento qualitativo dominante. "Em suma, o lazer permite a plenitude da existência em contraposição à sociedade atual, que vê o homem como matéria-prima."

Domenico De Masi (Itália), professor da Universidade Roma La Sapienza:

Aristóteles afirmou que a sociedade grega já havia atingido a plenitude tecnológica e que daquele momento em diante buscar-se-ia exclusivamente o desenvolvimento intelectual. Isso porque na Grécia para cada habitante havia oito escravos. Com o fim da abundância escravagista, inverteu-se o raciocínio. A sociedade industrial aboliu o tempo livre, mas a partir dos seus conceitos inerentes, devido ao incremento tecnológico, e permitiu o desenvolvimento do que se chama pós-industrialismo, marcado, pelo menos em teoria, pelo desenvolvimento do bem-estar, da longevidade, mas da injustiça, da possibilidade do ócio, da produtividade. "Outra característica do período é a globalização, que além de aproximar vizinhos tem o condão de padronizar sentidos, como o ouvido e o tato, e açambarcar culturas." O pós-industrialismo é marcado pela presença do luxo em detrimento do trabalho exacerbado no período anterior, e pela transição de valores que, segundo De Masi, podem ser resumidos na feminilização da sociedade. Dentre esses novos preceitos está a desestruturalização entre tempo e espaço e a presença cada vez mais marcante do ócio. "Só que não sabemos conviver com esse novo valor. Não fomos preparados para o não-trabalho. A sociedade industrial nos fez esquecer como desfrutar o tempo livre, e o catolicismo pespegou-nos a culpa em oziar (praticar o ócio). No futuro, o exemplo de uma sociedade fundamentada no tempo livre pode estar espelhado no Brasil".

Lazer na prática

Oficinas que oferecem instrumentos para viabilizar conceitos de tempo livre no dia-a-dia traduzem, efetivamente, de que maneira tal conceito pode beneficiar o homem moderno, além de sua produção e sua contribuição à sociedade. Misturadas às palestras no programa geral do congresso, oficinas culturais, esportivas e de sociabiliazação ocuparam diversos espaços do Sesc Vila Mariana, abrigando todos aqueles que, à sua maneira, defendem e exercem o direito ao tempo livre.

O clima era o mais variado em cada sala: animados educadores interagiam com psicólogos e sociólogos nas dinâmicas em grupo, enquanto executivos e animadores culturais pintavam cenas ao som de música clássica no andar abaixo. O que essas pessoas tinham em comum? Todas aprendiam a exercer seu tempo livre. "Eu acho superimportante esse tipo de trabalho, mesmo porque é a primeira vez que eu trabalho com o lazer como tema", explica o artista plástico Siron Franco.

Siron coordenou a oficina Artparticipação - O Exercício Coletivo da Arte sem Fronteiras, destacou a importância do congresso e aproveitou a oportunidade para disparar que a sociedade simplesmente "não dá tempo ao tempo livre". Em meio a telas e tubos de tinta, Bianca Kannak, uma jovem gaúcha residente em São Paulo, desenhava ao som da música, alheia a qualquer tipo de interferência. Absorta em sua tarefa, Bianca analisou que o congresso discutia o tempo livre e as oficinas o completavam, exercitando a liberdade dos participantes. "Para mim, a oficina do Siron foi um exercício de como me soltar das amarras e encontrar o meu tempo livre", contou.

Já nas oficinas de Jogos Cooperativos, os conceitos trabalhados eram os da competitividade e cooperação. Qual é mais útil nos tempos modernos e qual é mais duradouro. Fábio O'Tuzi Brotto, coordenador das atividades, vê que a ligação entre os temas trabalhados em aula e o objetivo maior do congresso está na inclusão. "Falar de tempo livre e, sobretudo, em lazer é falar de comunidade, logo, é falar de inclusão, de fazer parte de alguma coisa", analisa. Na oficina de Antonio Nóbrega, o clima também era de descontração total. O grande desafio dos participantes era adquirir a tão invejada desenvoltura dos dançarinos de coco, maracatu e frevo. A princípio, as pessoas estavam retraídas e tinham certa resistência. No entanto, aos poucos, a timidez foi ficando para trás e rapidamente o batuque que vinha do sétimo andar do Sesc Vila Mariana remetia aos carnavais de Olinda. No último dia, o grupo ofereceu uma apresentação especial aos participantes do Congresso com as noções que tinham recebido do músico pernambucano.

Declaração de São Paulo

Lazer em uma Sociedade Globalizada: Inclusão ou Exclusão?

Aprovada no 5º Congresso Mundial de Lazer, realizado pelo Sesc de São Paulo em conjunto com a Associação de Lazer e Recreação (WLRA) e com a Associação Latino-americana de Lazer e Recreação (Alatir), de 26 a 30 de outubro de 1998, em São Paulo, Brasil.

PREÂMBULO

Considerando que representantes de vários países do mundo participaram do 5º Congresso Mundial de Lazer realizado em São Paulo, Brasil, de 26 a 30 de outubro de 1998 sob o tema "Lazer em uma Sociedade Globalizada: Inclusão ou Exclusão"; discutindo e revendo os diferentes pontos de vista de cada comunidade em relação ao lazer e tempo livre, e ainda reconhecendo as diversas tendências de globalização na sociedade no momento em que se chega ao final do século 20 e ao início do terceiro milênio;

Considerando que:

o a globalização, além de uma esperança, é também um desafio ao bem-estar do indivíduo e da comunidade;

o a Associação Mundial de Lazer e Recreação (WLRA) é uma organização não-governamental de âmbito mundial que se dedica à pesquisa e à promoção do lazer como um instrumento para o bem-estar coletivo e individual;

o o lazer (incluindo o jogo) é o tempo em que temos autonomia e limites para buscarmos experiências significativas sem ferir as normas e valores da sociedade que valorizem o desenvolvimento social e individual;

o por meio de suas comissões e de seus membros, a WLRA pesquisa e estuda as consequências e o significado das experiências de lazer para indivíduos, grupos e comunidades; estimula o aperfeiçoamento da recreação e do lazer, educativo e de serviços; defende programas de recreação e lazer que contribuam para o desenvolvimento social e do meioambiente, de forma democrática e sustentável;

o a WLRA aceita a participação de membros independentemente de nacionalidade, raça, religião, cor, idade, orientação sexual, profissão, instrução, condição econômica ou social e capacidades individuais (física, funcional, social, emocional ou intelectual);

o a WLRA presta assessoria à ONU, cuja Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) assegura, em seu artigo 24, o direito universal ao lazer;

o a Carta do lazer da WLRA (1983) confirma o lazer como um direito essencial ao ser humano;o como parte de suas atividades permanentes, a WLRA realizou, em conjunto com o Serviço Social do Comércio (Sesc) e com a Associação Latino-americana de Lazer e Recreação (Alatir), seu 5º Congresso Mundial em São Paulo, Brasil, de 26 a 30 de outubro de 1998 eo este congresso está oficialmente autorizado a portar a marca institucional do 50o aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Diante disto, os representantes do congresso, por meio desta, declaram que:

No momento em que os povos da Terra se aproximam do terceiro milênio e encontram uma sociedade globalizada na qual as manifestações de lazer enfrentam um paradoxal crescimento de oportunidades e ameaças, nós convocamos as Nações Unidas, todos os governos, todas as organizações não-governamentais, os membros da WLRA e todos os cidadãos do mundo a aceitar e a divulgar os seguintes artigos:

Artigo 1: Lazer (incluindo o jogo) é o tempo em que temos autonomia e limites para buscar experiências significativas sem ferir as normas e valores da sociedade que valorizem o desenvolvimento social e individual.

Artigo 2: Todos têm direito ao lazer por meio de ações políticas, econômicas e sociais sustentáveis e igualitárias.

Artigo 3: Todos têm o direito de experimentar a diversidade do lazer.

Artigo 4: Todos os governos e instituições devem preservar e criar ambientes livres de barreiras - culturais, tecnológicas, naturais ou construídas, entre outros - onde as pessoas tenham tempo, espaço e oportunidade para expressar, valorizar e compartilhar o lazer.

Artigo 5: Esforços coletivos e individuais devem prosseguir, tendo em vista a preservação da liberdade e integridade do lazer.

Artigo 6: Todos os governos devem assegurar que as políticas e as normas legais garantam o lazer para todos.

Artigo 7: Todos os setores públicos e privados devem eliminar as ameaças contra a qualidade e a diversidade das experiências de lazer, causadas por efeitos locais, nacionais ou internacionais da globalização.

Artigo 8: Todos os setores públicos e privados devem eliminar as ameaças de abuso e do mau uso do lazer por indivíduos com comportamentos criminosos derivados de influências locais, nacionais e internacionais.

Artigo 9: Todos os setores públicos e privados devem assegurar uma melhor compreensão das consequências da globalização sobre o lazer por meio de um programa coerente de pesquisa permanente e educação.

Artigo 10: Todos os setores públicos e privados devem assegurar a divulgação da informação referente aos custos e benefícios do lazer