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Exposição
O Limite da Consciência

Na China do começo do século as meninas usavam sapatos apertados para que os pés não crescessem. Pé pequeno era naquela época sinal de beleza. Em outro país da Ásia as mulheres usam argolas apertadas no pescoço para que fiquem alongados. No Brasil, existem os índios que esticam os lábios, e há ainda os que almejam uma aparência anoréxica em nome da beleza. Seja no Oriente ou no Ocidente, no sul ou no norte, todos os povos têm enraizado em seus ideais o desejo estético. A preferência estética depende dos valores culturais de cada sociedade, ou seja, varia de acordo com a latitude e exerce forte influência no bem-estar do homem. Em última análise, saúde e estética são correlatas. É isso que prova a exposição O Limite da Consciência, a ser inaugurada no dia 7 de dezembro no Sesc Pompéia.

No evento, artistas de diversas nacionalidades conseguiram o ideal de perfeição da humanidade: reunir saúde e beleza. Numa exposição que une o propósito humanitário da entidade cultural Art for The World aos inúmeros desafios enfrentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a curadora Adelina von Fürstenberg montou a mostra O Limite da Consciência em comemoração ao cinqüentenário da OMS. A exibição conta com o trabalho de quarenta artistas que por meio da arte trouxeram à tona os problemas enfrentados pela OMS nesses cinqüenta anos de trabalho. Todos eles pintaram, esculpiram ou transformaram em instalações os transtornos sociais que afligem a humanidade neste fim de século sem, no entanto, perder a magnitude presente em uma obra de arte. Os artistas pretendem conscientizar a comunidade da gravidade de causas como AIDS, drogas, violência, desastres naturais, racismo e miséria. No intuito de lançar variados aspectos sobre os temas, a Art for the World reuniu trabalhos dos cinco continentes. Todos os que participam do projeto estão profundamente envolvidos com os problemas que assolam suas comunidades. Dos Estados Unidos ao Egito, da Tailândia à Ucrânia, representantes de mais de trinta países se uniram em prol de causas que ultrapassaram a fronteira do Terceiro Mundo e tornaram-se questões mundiais.

A participação brasileira na exposição foi bastante diversificada. Fabiana de Barros montou uma instalação que funciona como uma agência de viagens virtual. O visitante que participa desta viagem passa por diversos pontos do globo sem sair do lugar. O passageiro viaja através de desenhos e pinturas. Já Ricardo Ribenboim e Maria Carmen Perlingeiro utilizaram o tempo e o espaço como inspiração para produzir esculturas. Adriana Varejão optou pela pintura para retratar o corpo humano no decorrer da história. "Sempre trabalho o corpo como um veículo da história, assim como construo a história através dele. Este projeto é importante porque tira a arte contemporânea de seu "gueto" e a liga a algo vital. Além disso ele dá ao artista a oportunidade de criar em outros lugares sob outras condições. Isso é muito enriquecedor pois força o limite da criatividade", diz a artista carioca, que além de expor no Sesc está na Bienal de São Paulo. Numa alusão à vida, ao meio ambiente e às relações humanas, as obras, no geral, retratam temas como bem-estar social, morte, problemas infantis, elementos da natureza, família e a convivência entre pessoas de diferentes culturas.

Antes de chegar a São Paulo, a exposição cumpriu um roteiro respeitável: no primeiro semestre esteve em Genebra, onde ocupou o conjunto de prédios que abriga a OMS. Em julho, a mostra seguiu para a sede da ONU em Nova Iorque, ficando até outubro. A próxima escala da exposição itinerante será São Paulo, onde permanece até 30 de janeiro. Após a estadia brasileira O Limite da Consciência segue para Nova Deli, encerrando seu circuito internacional.

Sesc e art for the world

A união da Art for the World com o Sesc é literalmente um encontro promovido pela compatibilidade de gênios. Fundada pela cientista política Adelina von Fürstenberg, a entidade cultural sem fins lucrativos encontrou na linguagem universal da arte o caminho para promover diálogo e compreensão entre povos de diferentes culturas, além de encorajar a solidariedade e fomentar a educação. Assim como o Sesc, a Art for the World enxerga na ação cultural a possibilidade de desenvolver propósitos humanitários sem se limitar ao assistencialismo convencional.

Para Roberto Cenni, técnico do Sesc, "o perfil temático da mostra adequa-se perfeitamente ao tipo de trabalho desenvolvido pela unidade Pompéia, que vem promovendo vários eventos desse caráter. Houve empatia instantânea entre a curadora e as dependências do Pompéia".

Durante a primeira semana, doze dos quarenta artistas que participam da exposição vêm a São Paulo realizar palestras e workshops voltados para temas das artes plásticas. Desses doze, alguns, como o índio navarro Joe Ben Jr., realizarão na própria unidade os trabalhos que ficarão expostos na área de convivência. O dinheiro das vendas das obras será doado a programas de ação comunitária de acordo com a orientação e prioridades da OMS.

O conceito de democratização cultural, nos termos em que está contemplado pelos artigos 22 a 27 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, constitui um dos suportes teóricos que alinham o trabalho de instituições como o Sesc e a Art for the World. Ao vincular-se à OMS e àquela respeitável entidade internacional de cultura, o Sesc reafirma sua crença no papel mobilizador da arte. Afinidade de pontos de vista e sintonia de propósitos fizeram com que, no Brasil, as três entidades trilhassem juntas o caminho para a conscientização de problemas que afligem toda humanidade, numa tentativa importante de atenuar o flagelo.