Fórum discute as diversas possibilidades da Ginástica Geral
Esporte é, evidentemente, atividade física. Porém, o contrário não é necessariamente verdade. O universo das práticas físicas comporta muito mais que os esportes de competição ou mesmo aquele futebolzinho de final de semana. E, de todas as modalidades, talvez uma das mais antigas seja a ginástica. Novamente, não é o caso de pensarmos somente nas façanhas realizadas por ginastas extrapolando os limites do corpo em busca de medalhas e reconhecimento para si e seus países em campeonatos internacionais como os Jogos Pan-Americanos. Mas sim em todo e qualquer movimento que o corpo possa realizar. Coisas simples, como correr ou pular. A esse conjunto de práticas básicas convencionou-se chamar Ginástica Geral, foco de discussão de um fórum realizado no final de agosto numa parceria do Sesc São Paulo, por meio de sua unidade Campinas, e a Unicamp. "O trabalho de desenvolvimento físico e esportivo da instituição está fundamentado em pressupostos semelhantes aos da Ginástica Geral", informa Ernesto Marquez Filho, técnico do Sesc Campinas e um dos coordenadores do Fórum. "Ao promover a saúde e a melhoria da condição física no intuito de transformar cada participante em sujeito ativo do grupo com o qual compartilha a atividade." O técnico segue explicando que o objetivo do Sesc - reforçado pela realização do Fórum - é eleger e privilegiar diversas formas de trabalho. "Nas quais estilos, técnicas e tendências estão em consonância com o universo cultural de quem pratica o movimento.", conclui.
Conceito abrangente O evento, que conta com o apoio da International Sport and Culture Association (ISCA) e está em sua segunda edição, reuniu profissionais da área de vários países do mundo para uma troca de experiências que visa a aumentar as possibilidades dessa prática física que tem como principal característica seu caráter inclusivo. "Trata-se de uma forma de se praticar ginástica sem competição", começa explicando a professora Elizabeth Paoliello, doutora em Educação Física da Unicamp. "Ela tem uma outra característica, também muito importante, que é a de promover a participação de todos. Pessoas de qualquer idade ou qualquer nível técnico podem praticá-la." Os exercícios realizados durante uma aula de Ginástica Geral podem ou não se assemelhar aos vistos em competições; a diferença é que o lazer e o bem-estar são os grandes benefícios almejados, em vez de medalhas ou troféus. Ou seja, sai a competição, entra o prazer. Porém, ao contrário do que se possa imaginar, a Ginástica Geral não é uma adaptação da prática esportiva. Na verdade, trata-se justamente do contrário. "A Ginástica Geral antecede a ginástica de competição", volta a professora. "Ela está na sua origem, numa época em que ainda não era uma modalidade esportiva e quando era praticada pelo simples prazer da prática, para a melhoria da condição física. Depois disso é que a ginástica foi se direcionando e se estabelecendo como forma de desporto, como a ginástica olímpica ou a rítmica."
Nas escolas A Ginástica Geral ainda não faz parte oficialmente do currículo das escolas e seus preceitos ainda não são o norte na maioria das aulas de educação física. Assim sendo, levar o conceito às quadras escolares faz parte dos objetivos de eventos como o fórum realizado no Sesc Campinas. "Seria fundamental que todas as crianças passassem por essa experiência antes de aprender um esporte nas escolas", analisa a professora. "Uma vez que a Ginástica Geral é a base do movimento humano." O professor Jorge Pérez Gallardo, também da Unicamp, completa chamando a atenção para o fato de que toda disciplina do currículo escolar deve ter um conteúdo que capacite o aluno numa esfera de conhecimento que lhe permita atuar numa área de seu interesse. "O professor deve oferecer um espaço de convívio social aos alunos", aponta. "No qual eles aprendam a aceitar-se e assumir compromissos com seu grupo, para adquirir paulatinamente sua responsabilidade com os compromissos de toda a nação."
Para toda a comunidade A Unicamp possui um núcleo de trabalho dentro da sua Faculdade de Educação Física que, há 14 anos, estuda justamente as origens e a evolução desse conceito. O trabalho é feito por meio de pesquisas realizadas junto a turmas formadas pelos mais diversos tipos de pessoas. É o Grupo Ginástico. "Neste projeto, além de buscarmos novas possibilidades e metodologias, também procuramos nos estender para fora da universidade", explica Elizabeth. "Ou seja, além de apresentar as pesquisas em forma de coreografia, também oferecemos cursos e palestras, aqui e no exterior." Segundo explica a professora, embora o Brasil tenha herdado de países da Europa muitos dos princípios que regem a prática, a experiência brasileira já tem muito conhecimento a passar nos encontros promovidos mundo afora. "Na verdade, o que dizem é que nós os inspiramos", conta. "Embora a estruturação seja a mesma, nossa forma de trabalho difere da de outros países. Nossa criatividade, diferentes ritmos, enfim, toda a nossa cultura se reflete no modo como apresentamos os trabalhos."
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