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Arte e educação

Levi Fanan / Cortesia Pinacoteca de São Paulo
Levi Fanan / Cortesia Pinacoteca de São Paulo

Aprender a ler e escrever, compreender uma fórmula química e resolver uma equação matemática. Esses e outros aprendizados numa sala de aula guardam semelhanças, do ponto de vista da apreensão de novas linguagens, com os processos que são desencadeados no contato com uma obra de arte. Para a curadora Adelina von Fürstenberg, a arte também é uma escola. “Eu sempre aprendo algo novo ao ouvir uma música clássica, ao visitar uma exposição, ao ver um filme”, disse a especialista, que também é fundadora da organização não governamental Art for The World, cujo propósito é construir uma ponte entre arte e sociedade. Nesse percurso, especialmente nas exposições, é possível contar com o trabalho de mediação das equipes educativas.

“O compromisso da arte-educação pode ser ensinar repertórios, técnicas, fazeres e materialidades. Na sua origem, dentro dos museus, museus-escola, ela tem esse viés que é ligado ao currículo de artes”, explica a educadora, curadora e escritora Valquíria Prates. A mediação cultural, por sua vez, não tem necessariamente o compromisso de ensinar, “é um pouco diferente. É conversar e conhecer aquele repertório comum entre as pessoas que estão juntas naquela conversa e o artista que fez o trabalho que está ali”.

Neste meio de campo entre público e educadores não deve haver hierarquia. Juntos, eles compartilham questionamentos e dialogam sobre os sentidos que pinturas, esculturas e outros suportes são capazes de provocar. Como se lê uma instalação? Que sentidos ela pode carregar? Essas são algumas questões levantadas pela professora Rejane Coutinho, do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (IA-Unesp), e que apontam para múltiplas respostas.

Isso acontece porque uma expressão artística não se limita a apenas uma interpretação. E é por causa desses diferentes olhares que ela conversa com pessoas de contextos sociais e culturais diversos. Sendo assim, “é importante que os educadores/mediadores respeitem as experiências que os diferentes públicos trazem e abram possibilidades com estratégias de mediação para que eles e elas possam ter suas próprias experiências estéticas”, explica Coutinho.

Desse ponto de vista, apreciar a Mona Lisa (c. 1503) ou o Abaporu (1928) vai além de compreender a estética da época de Leonardo da Vinci ou de Tarsila do Amaral, respectivamente. Pode-se levar em conta também a forma como essas e outras obras despertam sensações ou memórias no observador. Para isso, complementa Coutinho, “o educador/mediador deve estar preparado para informar, para ativar estratégias de acesso, mas isso não implica estar em posição superior”.

 

Na prática

Ao percorrer a exposição Brasil Nativo/Brasil Alienígena, de Anna Bella Geiger, no Sesc Avenida Paulista, por exemplo, visitantes se perguntam qual o sentido de cada uma das três instalações dessa artista plástica carioca, referência na arte conceitual no país. Sem devolver respostas fechadas, os educadores da unidade contextualizam o trabalho de Geiger abordando os múltiplos conteúdos trabalhados pela artista, a crítica social em suas obras e as simbologias de ordens política e pessoal. Desdobram-se conversas sobre estar no mundo e protagonismo. Levantam-se, a partir daí, novas possibilidades de interpretação sobre Circumambulatio, instalação montada originalmente em 1972, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Gabriela Aidar, coordenadora dos Programas Educativos Inclusivos no Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca de São Paulo, afirma que, no trabalho das equipes educativas “a arte não é um fim, mas um meio. Podemos utilizar os objetos de arte para tratar de outras questões do universo da pessoa que os observa e não necessariamente do universo da arte”.

“Promovemos aprendizados que estão mais ligados a questões vivenciais e subjetivas. Estão ligados, por exemplo, à promoção do prazer, da curiosidade, da inspiração, da criatividade. Ligados à possibilidade de escuta e de fala”, complementa. “Nós não damos aula. Realizamos exercícios de diálogo, algo que temos cada vez menos oportunidade de fazer na nossa sociedade.”

 

Além do olhar

Visitas mediadas, oficinas, materiais impressos, digitais e outras ferramentas aproximam o público dos conteúdos expostos

O Sesc São Paulo realiza atividades de mediação durante as exposições nas unidades da capital, interior e litoral. Com base em pesquisas e trocas entre diversos profissionais, é concebido um projeto educativo para cada exposição em cartaz no Sesc. Dele participam curadores, produtores, educadores e equipes técnicas da unidade onde é realizada a exposição. O cuidado com a acessibilidade dos conteúdos expostos e a implantação de um programa perene de formação de professores e educadores em artes visuais são algumas das iniciativas da instituição ao longo dos anos.

Os projetos educativos podem contar com a produção de materiais de mediação, impressos ou digitais – tanto aqueles voltados ao trabalho dos professores e professoras, como aqueles distribuídos para o público. Conteúdos que costumam trazer provocações e reflexões extras, relações com a vida cotidiana, jogos ou interações com o leitor ou leitora.

“O Sesc São Paulo tem na missão educativa o coração de suas ações. Nas artes visuais, não é diferente. Desde a concepção dos projetos, nosso objetivo é tornar as produções contemporâneas acessíveis e contribuir para uma aproximação sensível das pessoas com esses repertórios. Nas exposições, as equipes educativas são fundamentais, portanto, para estimular o pensamento crítico, permitir interpretações, elaborações e inquietações por parte do público”, explica Juliana Braga de Mattos, gerente de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc São Paulo.

 

91 exposições de artes visuais 

199.597 pessoas atendidas em visitas mediadas

Fonte: Sesc São Paulo – números de 2019

 

Diálogos estéticos

Ações educativas em museus e outras instituições culturais ao longo do tempo

A relação entre museus e escolas data da primeira metade do século 20, nos anos 1930 e 1940, segundo a professora Rejane Coutinho, do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (IA-Unesp). Esse pensamento ganha novos contornos com a criação dos museus modernos no Brasil, caso do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e a criação da Bienal de São Paulo, na década de 1950, seguindo modelos norte-americanos de ação educativa.

Do ponto de vista da arte-educação, “penso que a questão passa a se configurar nas décadas de 1980 e 1990, sobretudo nos anos 2000, quando as instituições começam a pensar nos diferentes públicos e a propor estratégias para atender diferentes demandas”. Nesse sentido, pondera Coutinho, o que importa é fazer com que o público possa ter uma experiência estética, ou seja, “possa deixar-se afetar pela experiência de estar e fruir”.

“Você deve se lembrar de alguma ocasião em que esteve diante de uma exposição ou obra que realmente causaram impacto. Essas experiências são pessoais. Não há como uma ação educativa atingir a todos e todas da mesma forma”, acrescenta. “Não é isso que uma ação educativa deve promover. Ela deve propiciar possibilidades para que experiências estéticas possam acontecer.”

 

Conheça algumas instituições na capital paulista que realizam ações educativas:

Pinacoteca

As visitas educativas têm como objetivo qualificar as relações de diálogo dos diversos públicos com as obras de arte do acervo da Pinacoteca e de algumas exposições temporárias, com os edifícios que abrigam esse acervo e com os conceitos de preservação e patrimônio que envolvem as ações do museu.

Informações: (11) 3324-0943/3324-0944.

Instituto Tomie Ohtake

A ação educativa do instituto oferece visitas mediadas gratuitas às exposições para alunos de escolas das redes pública e privada, ONGs e demais instituições de ensino formal e informal. As visitas, acompanhadas pelos educadores do instituto, também se desdobram em atividades poéticas em ateliê, que estimulam o exercício criativo e ampliam as experiências vivenciadas durante o encontro.

Informações: (11) 2245-1937.

Museu Afro Brasil

O museu oferece ao público, diariamente, visitas mediadas por uma equipe de educadores, profissionais especializados e pesquisadores comprometidos com as temáticas abordadas nas exposições de longa duração ou temporárias.

Com o objetivo de promover a aproximação entre os visitantes e os acervos, as visitas têm como ponto de partida o acolhimento, que pode ser realizado por meio de questionamentos, contação ou leitura de histórias, cirandas, músicas, dentre outras estratégias.

Informações: (11) 3320-8900.

Sesc São Paulo

Além do agendamento de visitas educativas em grupos nas unidades, os educadores recebem visitantes espontâneos durante todo o período da exposição, sem necessidade de agendamento prévio. Também há atividades e oficinas para todos os públicos, bem como ações de formação de professores e educadores, como os encontros do projeto Trocas e Olhares, com material elaborado a partir de obras do Acervo Sesc de Arte Brasileira. As equipes do Sesc Pompeia e do Sesc 24 de Maio oferecem também Visitas Patrimoniais a interessados em conhecer as obras de arte, a história e o projeto arquitetônico dessas unidades.

Informações: sescsp.org.br

Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM)

Visitas educativas são conversas nas quais é estimulada a reflexão crítica por meio da arte. Cada visita propõe um diálogo entre os conteúdos das exposições e as experiências particulares dos visitantes em sua diversidade. O agendamento é gratuito e pode contemplar grupos de até 25 pessoas, que conhecerão a exposição em cartaz ou o Jardim de Esculturas.

Informações: (11) 5085-1313.

 

 

 

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