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Quais são os desafios de cuidar?

Ilustração: Mariana Waechter
Ilustração: Mariana Waechter

Danilo Santos de Miranda

Diretor do Sesc São Paulo

Com as mudanças demográficas em curso no Brasil e no mundo, algumas questões ligadas ao cuidado com o envelhecimento, antes latentes, tornaram- se manifestas, interferindo diretamente nas políticas públicas, como é o caso da profissão de cuidador de idosos e todo o universo que ela permeia.

Naturalmente, a velhice apresenta-se heterogênea, e cada indivíduo vivencia o processo de envelhecimento de maneira singular. Assim, é possível notar que, se por um lado, algumas pessoas envelhecem com a saúde física e mental preservada, por outro, muitos indivíduos caminham para a velhice dentro de um quadro de fragilidade.

Para tanto, é essencial que o idoso seja tratado com conhecimento de sua condição, portanto, por profissionais especializados. No entanto, com a mudança no panorama familiar, a falta de regulamentação da profissão, a falta de preparo específico, entre outros fatores, é comum que a busca por um cuidador ocorra de maneira inadequada.

O perfil de cuidadores com idades semelhantes aos idosos dos quais cuidam é cada vez mais usual. Com frequência, é a mulher na condição de esposa, filha, neta, sobrinha que passa a assumir esse papel. Ao longo do tempo, com a somatória de dificuldades, essas pessoas podem sofrer eventos estressores significativos, resultado da sobrecarga e do isolamento social.

Neste sentido, a importância de cuidar dos cuidadores – formais e informais – é essencial diante dos fatores descritos. Ainda há a necessidade de capacitar profissionalmente esses ou outros indivíduos, com o objetivo de cuidarem com eficiência dos idosos e também de si mesmos.

Atuar com os profissionais interessados na temática, por meio de práticas de educação permanente, com reflexões que propiciem debates sobre o significado do cuidado para si, para os idosos, e a relação com as outras faixas etárias, é elemento constituinte do Programa Trabalho Social com Idosos do Sesc São Paulo, pois a construção de conhecimentos sobre questões contemporâneas e urgentes relacionadas apresenta-se como um dos objetivos do programa.

Como instigação, a partir da visão ontológica de Leonardo Boff, é possível e necessário refletirmos que aquilo que aparece a nós como fragilidade pode ser a força da sociabilidade: “Nós não temos apenas cuidado. Nós somos cuidado. Isto significa que cuidado entra na constituição do ser humano... sem cuidado, deixamos de ser humanos”.