Sesc SP

postado em 26/09/2017

Levantes

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Obra traz uma reflexão abrangente sobre a temática dos levantes, insurreições coletivas que buscam condições de vida mais igualitárias e desafiam formas de submissão a um poder absoluto

 

Fruto de extensa pesquisa do filósofo e historiador de arte francês Georges Didi-Huberman, o livro Levantes traz uma intensa e abrangente reflexão artística, filosófica, histórica, política e estética sobre a temática dos levantes, insurreições que permeiam as sociedades que, por meio de palavras, gestos e ações, reivindicam em grupo condições de vida mais dignas e igualitárias, desafiando formas de submissão a um poder absoluto. 

Autora do primeiro ensaio da obra, a filósofa norte-americana Judith Butler discorre sobre o caráter primeiro do fenômeno dos levantes, desvendando quem se levanta, por que o faz e quando a ação de levantar-se contra algo ocorre. Com uma prosa densa, Butler evidencia que “quem faz um levante o faz em conjunto e ao constatar um sofrimento inaceitável”. Segundo ela, “para haver um levante, é preciso que laços se estabeleçam entre aqueles que sofrem e resistem no cotidiano, mesmo que eles definitivamente não tenham o poder de derrubar o regime político legal ou econômico que os sujeita”. Desse modo, seu texto abre o livro justamente por esmiuçar os diversos flancos que convergem para um levante, dando ao leitor a chave principal de entrada ao restante da obra.

No artigo “O acontecimento ‘levante’”, o filósofo italiano Antonio Negri se empenha em identificar as características dos momentos que antecedem os levantes, diferenciando e relacionando o que denomina intervalo/pausa e interrupção/ruptura. “Todo coletivo se constitui de indivíduos e do levante de uma quantidade de singularidades, mas o coletivo ‘verdadeiro’ está na passagem que transforma o peso e a ‘insustentabilidade’ da vida na decisão do levantar, no esforço e na alegria desse ato. O levante é sempre uma aventura coletiva, uma palavra que não existe individualizada”. Fazendo uma analogia central com o levantamento de peso, as reflexões de Negri convergem para uma espécie de poesia filosófica que tenta nos transmitir todo o peso envolvido na passagem da inércia indiferente ao impulso coletivo de levantar-se.

Já a filósofa e escritora francesa Marie-José Mondzain inicia seu texto analisando a suposta apatia generalizada que nos atinge hoje enquanto sociedade, passando à análise da resistência presente, por exemplo, na criatividade, na arte e na educação.

Na linha de Negri, o grande filósofo francês Jacques Rancière traz à tona a discussão entre ativo e passivo, convergindo as noções de movimento e repouso a partir de referências como Winckelmann, Platão, Eisenstein e o próprio Didi-Huberman.

Nicole Brenez, historiadora e curadora francesa especializada em cinema, volta-se inteiramente à sétima arte ao debruçar-se sobre a eficácia do cinema engajado no decorrer da história, explorando o tema a partir de filmes de diversas nacionalidades e indo desde a invenção dos recursos do diagnóstico visual (1895), passando pela apropriação dos meios de produção (1913), pelo surgimento das narrativas do cinema proletário (1967), pela garantia da livre circulação das imagens (1970), entre outros, até a criação da Ur-Informação (1999-2015), a informação original gerada graças à popularização das ferramentas digitais de produção e distribuição, que muitas vezes precedem a informação oficial.

Aos ensaios reflexivos, seguem-se pequenos textos elaborados por Didi-Huberman a fim de introduzir ao leitor o portfólio de imagens das obras que compõem a exposição realizada no Sesc, imagens essas organizadas sob cinco grandes temas – elementos, gestos, palavras, conflitos e desejos –, que caracterizam as nuances que constituem os levantes. Apoiado nos textos, esse amplo aparato imagético ganha força, e essa potencialidade transborda as barreiras do político e/ou filosófico, alçando o levantar-se contra algo ao status de belo.

A obra é encerrada com o precioso artigo “Através dos desejos (fragmentos sobre o que nos subleva)”, no qual Georges Didi-Huberman faz uma ampla reflexão histórica, filosófica e artística sobre o fenômeno dos levantes, discorrendo, a partir de um extensivo referencial teórico e amparado em imagens, sobre os diferentes aspectos das forças que nos sublevam. 

 

Veja também:

:: Eonline | As músicas de protestos ou levantes

:: Vídeo - áudio original | Conferência Imagens e sons como forma de luta, com Georges Didi-Huberman. 

 

*Serviços:

o que:

Lançamento do livro Levantes. A obra corresponde ao catálogo da exposição homônima (curadoria de Georges Didi-Huberman) em cartaz no Sesc Pinheiros de 18 de outubro de 2017 a 28 de janeiro de 2018.  

Bate-papo sobre o livro e a exposição com o professor Francisco Alambert (USP), o professor Márcio Seligmann (Unicamp) e mediação de Carolina Barmell (assistente técnica da Gerência de Artes Visuais e Tecnologia do Sesc São Paulo).

onde:

Sesc Pinheiros | Rua Paes Leme, 195 - São Paulo / SP

quando:

13 de dezembro de 2017 - quarta-feira, a partir das 20h.

quanto:

Grátis. Retirada de ingressos no local com 1h de antecedência

 

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