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Ilustração: Marcos Garuti
Ilustração: Marcos Garuti


Segundo a segundo, novos vídeos se põem à nossa procura pela galáxia da Internet. Os gatinhos, os cantores de karaokê, os pais/mães-corujas, os músicos de corações combalidos, a natureza em fúria, a trollagem, o fail, o macarrão instantâneo que explode como pólvora, a entrevista perdida do Foucault, os protestos, a memória, a transmissão da conferência, as muletas jogadas para longe durante a animada dança, o trailer de estreia, o lance surpreendente, a ação criminosa, a violência, o prodígio, a animação didática, o feito comovente, o incêndio, o escândalo registrado, o desastre evitado por muito pouco, a denúncia de flagrante abuso de autoridade...

Há uma avalanche de vídeos à procura dos nossos olhos. E eles saltam de câmeras que são escondidas, câmeras que são de segurança, câmeras de TV e câmeras de cinema, câmeras nos elevadores, nos capacetes dos ciclistas, webcams e câmeras subaquáticas, câmeras que estão sob ataque furioso do objeto filmado e, acima de tudo, câmeras que estão acopladas a telefones celulares. Pela quantidade de canais possíveis de se escoar este material – incalculável e crescendo – podemos adivinhar alguma pista dos caminhos pelos quais essa massa de vídeos se coloca a nossa busca pelo éter.

A Internet tornou praticamente universal e onipresente o acesso a este material. A produção e distribuição controladas até os anos 90 pelos canais corporativos de mídia, dividem espaço agora com as suas reproduções, recombinações e paródias, com o trabalho de produtores independentes, com todo tipo de criação ligada às diferentes ‘subculturas’ (os aprendizes de violão ou os jogadores de videogames, por exemplo) e, sobretudo, com o registro caseiro feito por qualquer um com um celular.

O YouTube calcula o aparecimento de cerca de 300 novas horas de vídeos para cada minuto que você leva lendo este texto aqui. Os mais assistidos, nestes 10 anos de surgimento da página, continuam sendo os videoclipes musicais produzidos por grandes gravadoras, com o coreano PSY liderando a lista com mais de dois bilhões de visualizações de seu hit-dancinha Gangnam Style. A maior parte dos arquivos compartilhados por lá, no entanto, está muitíssimo longe destes milhares e milhões de ‘views’.

A grande maioria dos vídeos publicados é pouco ou, mesmo, jamais visitada – o que não impede o aparecimento de páginas dedicadas apenas a este imenso material atirado à deriva. Uma delas é a francesa Petit Tube (petittube.com), que exibe, de modo randômico, um único vídeo que conte com um número muito baixo de visualizações, a partir dos arquivos disponíveis no YouTube. Por ali, um dos vídeos, por exemplo, registra um garotinho encenando o casamento entre duas lascas de pedras (http://bit.do/2pedras). Os primeiros comentários, entre símbolos para risadas, já vaticinavam ser caso próprio para o “Petit Tube”.

Como no YouTube, o upload gratuito e o compartilhamento de vídeos na rede pode ser feito por meio de páginas como Archive.org, DailyMotion, Vimeo, Break.com, MySpace, Metacafe,  Veoh,  o indonésio Vidio.com, o chinês Youku, o espanhol Tu.TV ou o português Sapo, entre muitos outros. Os vídeos podem ser produzidos e disponibilizados diretamente ainda por meio de aplicativos como Instagram, Twitter, Whatsapp, SnapChat ou Facebook.

Como Barry Wellman observava ao estudar as comunidades virtuais, a Internet combina a rápida disseminação da comunicação de massa com a pronta penetração da comunicação pessoal. E essa combinação parece criar um cenário onde a troca e o uso das informações se aceleram de um modo que a única e grande constante é o aparecimento da “novidade”.

De qualquer maneira, reunindo expressões culturais que vão do melhor até o pior, este cenário trazido com a expansão das redes digitais de conexão parece refletir uma transformação efetiva na ideia de “esfera pública”. Como considera um ativista da Internet como Ethan Zuckerman, qualquer plataforma suficientemente poderosa que permita distribuir vídeos de cães e gatinhos também pode ser utilizada para ampliar, por exemplo, a discussão política.


JEFFERSON ALVES DE LIMA, jornalista e mestre em Comunicação e Semiótica, é assistente técnico da Gerência de Difusão do Sesc