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Nos Palcos e nas Telas
por NEWTON MORENO
Diretor, ator e dramaturgo, Newton Moreno é mestre e doutor em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), além de fundador da companhia Os Fofos Encenam. É autor de peças como Agreste, pela qual ganhou os prêmios Shell e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor autor em 2004, e As Centenárias, que recebeu os prêmios Contigo! e Shell de Teatro em 2008. Entre as experiências na televisão, foi responsável pelos textos da série Amorteamo, exibida pela TV Globo no primeiro semestre deste ano. A seguir, os melhores trechos do depoimento do dramaturgo, no qual ele fala sobre produção teatral, autoria e televisão.
Newton Moreno esteve presente na reunião do Conselho Editorial da Revista E no dia 15 de julho.
PRODUÇÃO
A gente tem de ir atrás de várias possibilidades de editais e parcerias para tentar recrutar recursos para manter o projeto vivo. A realidade é que Os Fofos, hoje, são um grupo completamente aberto. As pessoas trabalham fora do grupo para poder compor com as suas dinâmicas financeiras. É fundamental que a gente tenha esse tipo de abertura para que esse coletivo se mantenha.
Essa ideia da produção é difícil porque a gente sempre tenta fazer uma programação com projetos de curto, médio e longo prazo. Como a gente não tem um financiamento oficial que nos permita saber onde estaremos em 2016 e 2017, isso tudo é feito com uma maleabilidade gigantesca, com plano A, B e C.
Quase perdemos o nosso espaço porque houve uma forte especulação imobiliária e, no meio do caminho, dobrou o valor do aluguel. Se não fosse a articulação com alguns amigos, a gente com certeza teria entregado a nossa sede.
PARCERIAS
Além de mecanismos como a Lei de Fomento, acho que temos que discutir outras questões. Tem toda essa questão de diálogo muito forte com o poder público, que é fundamental e que resguarda um espaço de liberdade criativa, uma memória da construção de artes cênicas na cidade de São Paulo e que é importantíssima.
Por outro lado, também é preciso uma discussão de como a gente opera com outros mecanismos fora do poder público. Como o teatro pode dialogar com isso, seduzir de outras formas e chegar a outros públicos. Sempre fico pensando que são mais de 200 milhões de pessoas no país. É um mercado incrível e mesmo assim a gente não consegue viver de bilheteria como um grupo. Isso está completamente ligado à educação e a uma falta na formação para sensibilizar para as artes em geral.
O projeto de que participei que mais me emocionou nos últimos anos era um projeto de formação de público da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, que levava as peças para a periferia com todo um processo de diálogo antes, durante e depois da peça. Os depoimentos eram incríveis e era impressionante o desconhecimento que essas pessoas tinham da arte teatral.
AUTORIA
Autoria tem que ser pensada a cada processo. Por exemplo, fora do grupo fiz um projeto com a Cibele Forjaz chamado Vem e Vai, o Caminho dos Mortos, e nesse projeto não há como eu assumir a autoria. É um processo muito colaborativo, que passa por diversas instâncias. É uma colcha de retalhos de contribuições. É claro que cabe a alguém a responsabilidade de organizar o espetáculo, mas é muito difícil, depois de tanta contribuição, definir aquilo como de uma autoria.
Os processos desse tipo sempre são assinados como um texto produzido em processo colaborativo. É o mais genuíno e correto. De processo a processo tento ver a maneira mais correta de lidar com a autoria.
TELEVISÃO
Tive três experiências na TV. A primeira era a adaptação de uma peça chamada As Centenárias, em que fiz a minha primeira aproximação com a Globo. Depois participei da série Grande Família, no final de 2012. Foi um aprendizado muito feliz, porque era uma sala de trabalho em que a gente ficava jogando ideias, todos juntos. Conheci muita gente, inclusive pessoas vindas do teatro, e era um forno de ideias muito rico. É um ritmo e uma demanda de outra ordem, e é um trabalho bem colaborativo.
Depois houve outro projeto com o Guel Arraes e Claudio Paiva, a minissérie Amorteamo, mais na linha do sobrenatural. Sinto que há uma abertura a isso. Como o veículo em si sofre uma concorrência de muitas outras mídias, a TV está se problematizando e tentando arriscar. Isso é muito legal, porque há um convite a pessoas de outras áreas, da informática, cinema e literatura, para que possam ir lá e provocar, discutir.
Foi bonito eu me propor a essa mudança. É um jogo interessante. Já me pego escrevendo teatro mais sucinto, tentando condensar as ideias. Eu era bem mais barroco nesse sentido e venho transformado dessa convivência.
“EU SEMPRE FICO PENSANDO QUE SÃO MAIS DE 200 MILHÕES DE PESSOAS NO PAÍS. É UM MERCADO INCRÍVEL E MESMO ASSIM A GENTE NÃO CONSEGUE VIVER DE BILHETERIA COMO UM GRUPO. ISSO ESTÁ COMPLETAMENTE LIGADO À EDUCAÇÃO”
NEWTON MORENO esteve presente na reunião do Conselho Editorial da Revista E no dia 15 de julho.