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As idades da vida
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OSVALDO GONÇALVES DA SILVA
RESENHA:
Ao longo das 93 páginas de “As Idades da Vida”, lançamento da Quadrante, Sociedade de Publicações Culturais-São Paulo, 1990, Romano Guardini aborda a existência humana de uma forma surpreendente, pelo seu conteúdo e esmerada apresentação didática. Era o que se esperava de um pensador cristão, de origem italiana e formação germânica.
Apesar de intuitivo e do profundo raciocínio filosófico, o autor foge das exposições sistemáticas e exaustivas. Isto não quer dizer que descambe para afirmações simplistas e conclusões imediatistas, ao tratar de questões que afetam o cotidiano das pessoas. Um dos referenciais, contudo, mais importantes da obra é a preocupação essencialmente pedagógica, no sentido de levar os leitores a descobrirem o significado e o que há de positivo em cada fase da vida.
Nessa perspectiva, é analisada a existência humana sob vários aspectos. Mesmo em relação a temas já conhecidos, impõe-se a argúcia do pensamento metafísico e a curiosidade do pesquisador, preocupado em revelar facetas ainda não totalmente exploradas.
Para Romano Guardini a existência humana se renova continuamente sem que seja destruída a unidade da pessoa, do indivíduo. Cada fase é algo de novo que acontece. Este momento novo é único e jamais se repete. É isto que estimula a vida. Cada fase apresenta determinados valores que lhe definem as possibilidades e os deveres morais. Ainda mais, a vida não segue um fluxo uniforme. As diferentes fases são épocas diversas, completas em si mesmas. A infância, por exemplo, tem seu sentido próprio que é o crescimento. Quanto à velhice, também ela constitui uma forma de vida própria, cujo sentido talvez possa ser definido pela palavra sabedoria. Quem envelhece de forma adequada torna-se capaz de entender o conjunto da vida.
Cabe também à sociedade colaborar para que o idoso possa levar a vida com dignidade. Esta atribuição não é específica do ambiente em que ele vive, nem de sua família ou de seu círculo de amizades. Uma sociedade que não reconheça o sentido próprio da velhice, nem lhe proporcione os meios de realizá-lo está profundamente deformada.
O autor faz ainda uma análise das características próprias de cada fase, os principais acontecimentos do ciclo vital, enfatizando, sobretudo as crises e seu significado , na transição de uma para outra idade. Cada passagem significa uma verdadeira ruptura que pode ser violenta ou relativamente harmônica. Pode significar êxito ou fracasso.
Pelo teor das reflexões e a sequência das ideias, a obra serve de orientação para todas as idades, mostrando os eventuais desvios e como administrá-los, apontando os possíveis obstáculos nessa caminhada e como superá-los.
Que o leitor não espere um livro de receitas. Guardini nos obriga a pensar por nossa conta e leva-nos a cotejar nossa experiência com a sua. É assim que acabamos encontrando as respostas para tantas dúvidas que por muito tempo nos afligia. É este o sentido da busca da verdade que liberta a vida.
GUARDINI, Romano. As idades da vida. Quadrante Editora, São Paulo, 1990.