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Mikhail Baryshnikov

Foto: Alexandre Nunis
Foto: Alexandre Nunis


O teatro de Robert Wilson, que tem como marcas a luz, as cores e a atmosfera, ganhou uma dupla de peso para a encenação de The Old Woman – A Velha. O espetáculo esteve em curta temporada no Sesc Pinheiros, durante os meses de julho e agosto. Em cena, o bailarino e coreógrafo Mikhail Baryshnikov e o ator Willem Dafoe demonstraram grande sincronia na peça adaptada do texto homônimo do poeta, escritor e dramaturgo russo Daniil Kharms (1905-1942) – nome verdadeiro de Daniil Ivánovitch Iuvatchóv.

Detalhes biográficos à parte, Robert Wilson reuniu dois grandes artistas para compor a cena. Um deles, Baryshnikov, praticamente um veterano no Brasil, conversou com a Revista E.


Para dar certo

Eu e Robert Wilson nos conhecemos há muitos anos e planejamos trabalhar juntos por muito tempo, o que só pôde acontecer recentemente, quando encontramos o veículo certo – no caso, o teatro. O nome e o trabalho de Bob são queridos no Brasil, e ele gosta de levar suas peças para o país.

O processo do espetáculo [The Old Woman – A Velha] foi interessante e difícil. Bob é um diretor muito detalhista e bem-sucedido em tudo que faz. Danço desde os nove anos, então já adquiri bastante bagagem, e ela define quem sou, mas Bob quer o oposto disso, ele quer nos deixar desconfortáveis, para tirar de nós o que há de mais profundo. Foi um prazer trabalhar com ele e ainda mais me apresentar novamente para o público brasileiro. Estive aqui algumas vezes e é bom voltar.


Admiração trocada

Willem Dafoe é um grande ator. Admirávamos mutuamente o trabalho um do outro, mas não nos conhecíamos pessoalmente. Tínhamos amigos em comum e, quando Bob Wilson decidiu ter dois atores em cena, ele propôs Willem como o conspirador nesse projeto, opção que aceitei feliz, porque eu conhecia a qualidade de sua performance no palco e no cinema. Foi de grande ajuda tê-lo como parceiro.


Brasil desde criancinha

Bem, essa é uma longa história. Ouvi muito sobre o Brasil, a comida brasileira, o futebol, sua música, a mistura de culturas e a riqueza de sua língua. É uma parte do que estudei na escola. Uma coisa boa sobre a educação que tive foi que em história e geografia aprendíamos os detalhes sobre a cultura dos países. Por isso estudei a cultura brasileira, Pelé, Garrincha e todos esses personagens fizeram parte da minha educação quando adolescente.

Um pouco mais tarde, conheci a música brasileira, em especial João Gilberto. Nos encontramos algumas vezes e chegamos a jantar em Nova York, quando ele se apresentou na cidade. Por todas essas histórias e experiências boas, é sempre bom voltar ao país, que me recebe muito bem.


Experiência inigualável

Fiquei impressionado com a temporada no Sesc Pinheiros. É tocante perceber que esse tipo de organização existe por aqui. Quando você lê ou ouve falar é uma coisa, mas vivenciar é incrível. Pessoalmente, a primeira vez em que entrei no prédio, percebi que todo o trabalho é feito, o trabalho sociopolítico, eu diria, num nível pessoal. Há uma preocupação com o espírito humano. Podemos ver aqui todo tipo de pessoa e seus diferentes interesses, o jeito que essa paixão acontece e como coexiste com a cultura é um exemplo que, de fato, nunca vi em nenhum outro lugar.


"Uma coisa boa sobre a educação que tive foi que em história e geografia aprendíamos os detalhes sobre a cultura dos países. [...] estudei a cultura brasileira, Pelé, Garrincha e todos esses personagens fizeram parte da minha educação quando adolescente".