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Do Chile, o trabalho da fotógrafa Pilas Díaz, do Coletivo Ninãs
Do Chile, o trabalho da fotógrafa Pilas Díaz, do Coletivo Ninãs


Sem dar muita atenção ao conceito de autoria, coletivos fotográficos tornam a identidade conjunta uma forma de se posicionar na era da informação e da cibercultura


Debater, interagir, compartilhar são alguns dos verbos que direcionam a atuação dos coletivos fotográficos que se multiplicam pelo país e dialogam com outros tantos que estão em atividade ao redor do mundo, demonstrando a força política e artística da fotografia.

Sem preocupação com a noção restrita de autoria, os grupos transpõem o conceito de individualidade criativa para a autoria explicitamente focada no coletivo. “A identidade coletiva pretende-se tão marcante e reconhecível quanto a individual. Porém, em seu mecanismo de funcionamento, existem novidades, como a postura de compartilhamento de conhecimento e de criação colaborativa, que está alinhada ao cenário atual das relações profissionais e sociais e das configurações da economia: é a era da informação e da cibercultura, que cada vez mais torna acessível a produção, a difusão e a troca de conhecimentos”, explica a fotógrafa e professora do curso de bacharelado em fotografia do Centro Universitário Senac Patrícia Yamamoto. “É nesse contexto que devemos avaliar o surgimento e a atuação dos coletivos e distingui-los de iniciativas antecedentes no campo da fotografia.”

De acordo com a professora, a questão da autoria não foi um conceito óbvio para a fotografia, que existe como fenômeno há 200 anos e em seu início era entendida apenas como resultado de um processo mecânico originado de reações físicas e químicas. “Por isso, prescindia de uma autoria”, diz Patrícia.

O que vemos recentemente são as consequências e as conquistas da reconfiguração da autoria, já que no século 20 a fotografia moderna baseava-se fortemente na atuação artística e individual do fotógrafo. Agora, os conceitos se transformam à medida que são postos em prática pelos fotógrafos, designers e todos que fazem parte dos coletivos. No conjunto é possível ver diferentes linguagens e vertentes, desde a experimentação puramente artística até o posicionamento ou defesa de um viés político. Como resultado, tudo cabe nesse olhar coletivo.

Na opinião de Patrícia, que diariamente lida com as dúvidas e descobertas dos jovens fotógrafos, por mais que se discuta o fenômeno, é complicado delinear o impacto da atuação dos grupos na linguagem fotográfica contemporânea, reconhecendo que a produção está ficando cada vez mais complexa e as fronteiras entre as linguagens tendem à hibridização, reunindo, além do registro fotográfico, o vídeo, o design e a performance. “As experiências coletivas na fotografia intensificaram-se nos últimos dez anos, talvez como um reflexo direto das novas possibilidades inerentes à cultura digital, reestruturando as relações das pessoas com a realidade, com o tempo e com o espaço. A atuação dos coletivos seria mais uma manifestação desta complexidade do que um fator que a determina”, contextualiza.



Ação multimídia

Encontro Ibero-americano de Coletivos Fotográficos privilegia a ação de grupos que se relacionam de modo interdisciplinar com a fotografia


Numa parceria entre o Sesc São Paulo e o Estúdio Madalena, a cidade de Santos recebeu durante os meses de agosto e setembro o III E.CO – Encontro Ibero-americano de Coletivos Fotográficos. Foram dias de programação e convívio intenso entre os 20 coletivos de diferentes países, como Espanha, Chile, México, Peru e Uruguai, tendo como anfitriões os grupos brasileiros. A programação do projeto foi composta por debates, apresentações e intervenções expositivas em espaços públicos, resultando em uma exposição aberta em 4 de setembro, no Sesc Santos, integrando o Festival Mirada 2014.

A ideia foi reunir coletivos que trabalham de modo interdisciplinar e expandem os limites da fotografia, fazendo com que essa modalidade se relacione com outras vertentes artísticas e se reconfigure no contexto multimídia, passando por diferentes modos de fazer e de comunicar a fotografia.

Pesquisador da área e curador do evento, Claudi Carreras conta que o E.CO foi a maior mobilização fotográfica que a cidade de Santos já teve. “Mais de 80 artistas ibero-americanos estiveram reunidos para repensar a cidade visualmente, um grande coletivo de coletivos foi encarregado de dar uma visão plural da cidade de Santos hoje”, explica.

O discurso de Carreras vai ao encontro das expectativas dos coletivos brasileiros que estiveram nessa grande iniciativa. Para Camila Otto, do coletivo SC02 – criado em parceria com André Hauck –, a convivência ampliou a rede de relacionamento e serviu para a troca de ideias e o começo de novas parcerias. “Em Santos, produzimos uma arqueologia urbana da cidade, pensando no fluxo do lugar, um leva e trás, um movimento de ir e vir constante de pessoas e objetos. Fomos contaminados por esse fluxo, tanto da cidade quanto do evento, foram dias intensos de convívio e trocas”, observa. “O que aconteceu no E.CO é que mantivemos nossa proposta de trabalho da autoria coletiva.”