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Avenida Paulista

foto: Adriana Vichi
foto: Adriana Vichi



Cena 1
Diversos terrenos delimitados por cercas de arame farpado e divididos por duas pistas ladeadas por magnólias e plátanos. Difícil imaginar uma cena assim mesmo em cidades do interior hoje em dia. E, de fato, faz tempo. Estamos no ano de 1891, mais precisamente no dia 8 de dezembro, data de inauguração da Avenida Paulista. O quadro, na época, era completado por bondes puxados a burro, carruagens e cavaleiros. Mas não se enganem: mesmo dando a ideia de rusticidade, a primeira avenida planejada da cidade já cumpria seu papel: expressar a elegância e a pujança da metrópole que se formava em fins do século 19.


Berço de ouro
Idealizada pelo agrônomo uruguaio Joaquim Eugênio de Lima (1845-1902) – casado com uma brasileira e residente em São Paulo –, a nova avenida foi construída no chamado “espigão central” da cidade, um local que se erguia rumo ao morro do Jaraguá, todo coberto por uma mata virgem conhecida como caaguaçu. Além da elegância, também fazia parte de sua vocação ser exclusiva. Os altos preços dos terrenos e das primeiras construções que começaram a pontuar seus 2.800 metros de extensão só podiam ser bancados pela grande burguesia – sempre cobiçosa do glamour europeu. Como a economia da época se baseava na agricultura e no comércio, foram os fazendeiros e os negociantes os primeiros a se instalarem ali. As diferentes culturas que tanto caracterizam a cidade também garantiram o ecletismo arquitetônico que tomou conta da jovem Paulista: o estilo florentino lado a lado com o neoclássico, vizinho do mourisco, de frente para o classicismo francês, dando vista para exemplares da art-nouveau.


Cartões-postais
Em 1892, a Paulista ganha seu primeiro cartão-postal: o Parque da Avenida, organizado pelo paisagista francês Paul Villon (1841-1905) – e que passou a se chamar Parque Tenente Siqueira Campos em 1931, embora nunca tenha deixado de ser o Parque Trianon. Em frente a ele surgiu, em 1916, outro “morador” ilustre: um mirante com vista para o então Vale do Saracura (onde foi construída a avenida Nove de Julho). O belvedere projetado por Ramos de Azevedo tanto atraía a alta sociedade paulistana quanto fascinava os visitantes estrangeiros. O local era de fato privilegiado: à esquerda, avistava-se o rio Pinheiros, enquanto a visão direita abrangia todo o centro histórico, chegando até a Serra da Cantareira; no final, as colinas do Pacaembu. Foi esse o ponto escolhido para abrigar, décadas depois, as novas instalações do Museu de Arte de São Paulo (Masp), transferido para a Paulista em 1968 – e cujo projeto da arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992) mostrou a extrema sensibilidade de não destruir a vista, criando um museu “suspenso” sobre um hoje também famoso vão livre.


Transformações
A Avenida Paulista que conhecemos hoje – mais prática e estratégica que propriamente chique – começou a surgir na segunda metade do século 20. Época em que os primeiros casarões passaram a dar lugar aos prédios.  Em 1952 levanta-se o prédio Anchieta, entre a Consolação e a Angélica. Em 1956, o Conjunto Nacional inovava ao unir o comercial ao residencial. As instituições bancárias migraram do Centro para suas novas sedes na Paulista, levando consigo restaurantes e cinemas; no final da década de 1960, chega o Masp. A nova vizinhança, por sua vez, atrai também os profissionais liberais atrás de clientes – advogados, médicos. Até que, a partir dos anos de 1970, uma quase octogenária Paulista dá sinais de saturação. A valorização dos terrenos associada à “ameaça” de tombamento das mansões já históricas resulta numa onda demolidora que arrasa casarões e construções originais do dia para a noite – por vezes literalmente, com tratores destruindo parcialmente os imóveis a fim de impossibilitar seu tombamento. 


Fontes:
Site da Associação Paulista Viva (www.associacaopaulistaviva.org.br)
Livro Paulista Símbolo da Cidade (Itaú, 1990), com projeto editorial de Ricardo Ohtake e texto de Ignácio de Loyola Brandão