Postado em
Poesia
por Carlos Emílio C. Lima
Por que estou no Brasil?
Passarinhos amassam a mente
de pedra em que me vou pelo rio
Eu amassei um papel prateado fino
muito delicadamente como se uma brisa
fosse inventar uma sílaba
-
Ressonâncias percutidas antes de mim:
Esta coisa é um ato-estampido
Um ramo de acontecimentos intransmissíveis
Entre os deuses, os preâmbulos, as vogais
Entre privilégios, sonhos e jardins
Este doce contentamento da terra após as chuvas
E as primícias
Este totem é um ovo, um amontoado de silêncios azuis
Entre pequenos vulcões e rastreadores de milênios
Deuses-vertigens com linguagens de mitocôndrias verdes escamadas
Pirilampos conversam suas luzes com a neblina
Cravejamentos no timbre do dilúvio
E a ardência dos aconchegamentos das coisas indecisas e incompreensíveis
Como um delírio esmerado e claro de sombras assustadas
Por uma revoada de pássaros do coração
...essa ausência de drama
é um “um”, um sentir do
lado do coração um
empurrão para dentro do vazio,
como se uma parte de mim
tivesse sido arrancada, succiona
da. esse tubo (côncavo na extremi
dade de mim) foi levado para
uma pedra (meio-solta) altíssima
do Himalaia, “o fruto recessivo do
amianto”. Vez por outra monges
do estardalhaço das procissões dedicadas ao “Deus”
(depois explicaremos isso, organize-se
Tíber-rio, organifinque-se!) do
silêncio veem mijar sobre o local
suas escritas de mijo rápido, blasfe
mestórias, rap-díssimas, contos mínimos de
escárnio e mal-dizer como por exem
plo: o homem comia toletes de
ferro porque era feito de
pedaços maciços do zimbório
ecoante. ele gritava um
amontoado de distâncias,
um enxame de lonjuras
cruzando-se
em zumbidos,
distâncias,
novelos de
distâncias
voadoras
enlinhadas...
...quando o papa Leão XII
disse: que sejam iniciados os trabalhos
os imigrantes ergueram um bambu,
uma bobina, com 2 pedaços de carvão,
e Thomas Edson colocou ali um pedaço
de magneto e
uma antena e uma solução
de hormônio humano, de amoníaco
sobre um copo d’água pesada,
uma agulha de aço direcionada para a América Latina
e pegou uma mistura de salitre com mais carvão
mais uma gota de saliva
e naquele momento o papa mandou mudar todos os sinos da
Roma, aí Edson mijou na solução. o sinal
chegou antes. o sinal da mijada elétrica de Edson
chegou antes.
mais de súbito Marconi acionou o arco voltaico.
o arco voltaico, primitivo, fez a conexão e acendeu,
e abarcou o Atlântico. E os italianos, com o bambu,
fizeram uma pilha de cobre com dois carvões num polo neutro
e acenderam toda a estátua no topo da montanha.
Thomas Edson como viu que não conseguia iluminar a estátua
num fulgor preciso e enigmático, incendiou o galpão de seu laboratório
bebendo de uma só vez o líquido inteiro de uma casa.
O Anúncio da descoberta da árvore Ginib
Suas propriedades. Exaltações azuis
Descrições do “em torno”, isto é, sobre a sombra da
Árvore.
A busca de toda a tradição mística sobre a
Árvore Ginib.
A árvore Ginib se transfere em muitas de
Suas partes para profetas humanos. Muitas
vezes um esquilo fala fluxos concentradíssimos
dos discursos de Ginib, em desconsolo.
Ginib é medicinal e guarda em seu interior
Ressonâncias de um fonema a ser adiciona
Do nas línguas humanas pronunciadas mais
Acerca do sol. Tempos futuros, boa umidade
Ginib é meritória, medicinal, oriental
Gosta de ser arrancada cuidadosamente
Quando certos prazos de permanência são
Atingidos, arrancada de seu torrão-de-raiz,
(isso é uma cerimônia que dura cerca de um
mês e uma semana); é transladada desde
si mesma a um ponto muito distante, a
um sítio que ela escolheu através do uso
de um pássaro-espessor, a um lugar fronteiro
do mar. Gosta de passagens e de viajar
vaporizada por cantos de remadores, embarcada pelo
mar. Neste período de jornada marítima,
Ginib, a árvore, é tratada como um gigante
esotérico reflexivo, um ancestral pesadíssimo
Com uma fecundação de flautas na mente,
flautas de elixir sustenido estremecendo com
os ventos as folhas. Extremas.
A descrição de Ginib é um cântico
Amadurecido.
Entre duas estacas um elo.
Fecha-se o círculo compacto.
Escavado um buraco na borda do monte
na outra borda, a mente.
De novo, o círculo, a prisão esférica.
Os buracos na borda da colina repetem-se seriados.
(Misturei a caligrafia um pouco com a mão)
A ponte entre as duas traves não atravessa as duas esferas que prendem tudo dentro.
Os dois montes foram raspados no topo,
as bordas altamente afiadas
O vento não escapa de uma bola
nem da outra.
Elas não rolam,
Ficam esféricas entre as traves
e os dois montes.
Os montes são duas coroas de terra estragada.
O trem que viaja passa
pela ponte de onde
avistam-se as imensas bolas concretas armadas
entre as duas esculpidas colinas.
Não pergunto nada.
O trem está cada vez mais vazio com a madrugada,
pois são duas bolas enormes entre as colinas. Ali.
Nelas tudo foi guardado –,
disse-me o último passageiro
a descer antes da ponte.
Por toda a Terra já não há nada.
Minhas lágrimas insistem
Ainda, além dos trilhos,
por onde o trem desliza,
três postes existem de madeira,
estacas fincadas na planície,
rápidos fotogramas.
Não pintaram de branco as enormes esferas.
As colinas, relvadas.
Não acredito.
Carlos Emílio C. Lima é escritor, poeta, editor, ensaísta e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É autor de A Cachoeira das Eras, A Coluna da Clara Sarabanda (Moderna, 1979), entre outros.