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Brincadeira de criança
Mostra idealizada por Lina Bo Bardi promoveu diálogo entre o público infantil e o espaço arquitetônico do Sesc Pompeia
Há 30 anos, o Sesc Pompeia recebia a mostra Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira, idealizada por Lina Bo Bardi (1914-1992), personalidade que entrou para a memória da cidade de São Paulo devido ao projeto arquitetônico desenvolvido para a unidade construída no local de uma antiga fábrica.
Fazendo um exercício de viagem no tempo, vale pensar em como era o diálogo com o público infantil no início dos anos 1980. Quando a primeira versão da exposição aconteceu, predominava nas grandes cidades a brincadeira livre nas ruas, sem a intermediação de brinquedos sofisticados em design e tecnologia. “A pesquisa dos criadores e da indústria mantinha um último fôlego em produzir brinquedos inteligentes.
Herança esta advinda dos anos 1950, 60 e 70, quando ainda encontrávamos um charme e traço próprios dos criadores de brinquedos em chapa litografada de metal, ferro fundido, madeira e celulose”, explica o artista plástico e pesquisador Gandhy Piorski. O artista aponta como decisivo no projeto o interesse de Lina em buscar nos artesãos brasileiros as matrizes “de nosso novo design, de valorizar o brinquedo popular artesanal – como os mamulengueiros (bonequeiros) –, conferindo a ele a mesma relevância cultural que a do brinquedo produzido industrialmente”.
As formas simples e coletivas de brincar que ainda predominavam na época foram paulatinamente substituídas por modos mais complexos, representados pelos objetos eletrônicos e rituais individuais de descoberta dos brinquedos e da interação com esse mundo. Porém, de acordo com a documentarista e pesquisadora Renata Meirelles, a relação da criança com o brincar não se modificou. “Os interesses em torno das crianças mudaram, pois agora elas são vistas como consumidores de um mercado lucrativo.
O elo primordial entre a criança e o brinquedo é a imaginação, esse é vivíssimo e se mantém desde sempre”, enfatiza. “Mesmo em tempos tecnológicos, a invenção e a criação de mundos é a preponderante busca da criança.”
Na opinião dos especialistas, a mostra realizada na década de 1980 retratou um momento especial em que era nítido o vigor do brincar. Essa energia, de alguma forma, foi retomada no espaço do Sesc Pompeia: “Isso era evidente naquele Brasil de Lina, mas acreditamos que o brincar pode ser sempre vigoroso, enquanto houver espaço e tempo para imaginar”, argumenta Piorski.
Asas à imaginação
Exposição dedicada ao universo da criança brasileira é homenageada em nova edição
Como parte da comemoração dos 30 anos do Sesc Pompeia, de 9 de julho de 2013 a 2 de fevereiro de 2014, será feita uma homenagem à mostra Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira, realizada, originalmente, em 1982. O objetivo da reedição é a reunião de brinquedos brasileiros ou criados no exterior – mas incorporados à cultura nacional –, presentes na infância de diferentes gerações desde a década de 1930 até os mais contemporâneos. “Além disso, a mostra busca refletir sobre a brincadeira, o brinquedo, a infância e como esses conceitos se ampliaram dos anos 1980 em diante, como na relação das crianças com a tecnologia”, afirma a técnica do núcleo de Artes Visuais do Sesc Pompeia Daniela Avelar.
A curadoria da exposição foi planejada em conjunto pelo artista plástico Gandhy Piorski e a pesquisadora e documentarista Renata Meirelles, com direção de arte e cenografia de Vera Hamburger. Eles nos contam que a maioria dos brinquedos da primeira mostra já não existia mais. “Outra pequena e significativa parte estava no acervo do Sesc e nos ofereceu a dimensão dos brinquedos artesanais adquiridos em feiras populares da época”, afirma Piorski.
A exposição une brinquedos artesanais, industriais e um terceiro viés, os fabricados pela própria criança. “Assim, buscamos apresentar a visão e a apropriação das crianças e como elas podem contribuir ativamente para a cultura por meio do brincar”, contextualiza Daniela.
Um componente relevante da mostra são as instalações e as oficinas educativas, que primam pela criação e liberdade de expressão. “Também serão expostos ao público acervos inéditos, encontrados em diversas regiões do país, como o de meninos à beira-mar construtores de barquinhos nas terras do massapé pernambucano, de onde a arte popular brota das mãos dos criadores de bonecos e engenhocas”, completa Renata.
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