Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Arte sem limites

texto: Carina Flosi

As coloridas e singelas telas de Marcelo Schimaneski mostram um ambiente urbano solidário ao mesmo tempo em que revelam uma história pessoal de superação.

Um dos maiores prazeres de Marcelo Schimaneski, 43 anos, sempre foi observar os movimentos da natureza. Na adolescência, durante as viagens que fazia de carro para prestar assistência técnica de máquinas de serraria em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, distraía- se contemplando a paisagem. Mas em 12 de dezembro de 1989 um grave acidente na estrada mudou para sempre a vida do rapaz com jeito tímido nascido em Ponta Grossa, no Paraná. Aos 22 anos, ficou tetraplégico. Quando uma enfermeira lhe disse que estava paralisado do pescoço para baixo, diz ter sentido preconceito contra si próprio. Depois, veio a vergonha de sair na rua. “Mergulhei em um escuro isolamento”, recorda.

A determinação para recuperar os movimentos foi resgatada por meio da arte. Marcelo começou a fazer fisioterapia e voltou a mexer os braços. Os dedos continuaram paralisados, mas não o impediram de se expressar.“Resolvi tentar desenhar como um exercício, fazendo grafite, rostos de famosos que minha mãe recortava das colunas sociais nas revistas e jornais.

Um dos maiores prazeres de Marcelo Schimaneski, 43 anos, sempre foi observar os movimentos da natureza. Na adolescência, durante as viagens que fazia de carro para prestar assistência técnica de máquinas de serraria em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, distraía- se contemplando a paisagem. Mas em 12 de dezembro de 1989, Eu fazia os retratos e ela vendia na cidade”, conta o artista.

Estimulado por um amigo artista plástico, um dia ele se atreve a pintar em telas com tinta acrílica. Recebeu também o apoio de sua família, que montou em seu quarto um ateliê adaptado. Sem qualquer curso ou orientação, as pinceladas coloridas ganharam formas, deixando para trás qualquer limitação. Desenhadas com espontaneidade, de maneira leve e instintiva, Marcelo descobriu em seu universo particular um talento adormecido. “Quando me disseram que eu era um artista naïf, não entendi. Desconhecia quais eram as características do meu trabalho, fazia livremente, sem seguir qualquer tendência, apenas com o sentimento, com o coração.”

Desde 2004, quando estabeleceu uma rotina de trabalho, a arte tem sido seu tratamento mais intensivo. As manhãs são reservadas para a fisioterapia, e as tardes ele passa em seu ateliê, onde leva cerca de 20 dias para produzir uma tela. “A arte me libertou. Uso a arte para mostrar que a deficiência não impede que eu expresse os meus sentimentos. Cada obra que produzo recebe muito amor, e quem admira minha arte respira paz”, avalia.

O pintor autodidata se considera um observador nato e busca inspiração nas paisagens que vê da janela e quando vai pescar com os amigos, seu passeio favorito. “Eu gosto de ver os vales, as montanhas, as folhas caindo no chão, a mudança de cores no céu, os animais, o horizonte. Na hora de pintar, vasculho a memória para encontrar os cenários que via nas estradas durante minhas viagens a trabalho e nos flashes da minha infância na área rural. Estou sempre procurando ser mais detalhista em minhas telas. Por isso, a minha preferida é sempre a próxima, a que ainda vou fazer”, conta o artista.

No detalhismo de Marcelo, não é difícil perceber a valorização de aspectos como a acessibilidade e um clima de maior solidariedade e acolhimento na paisagem urbana. Na sua tela “Resistindo à Modernidade”, em exposição na Bienal Naïfs do Brasil 2010, que acontece no Sesc Piracicaba (veja a programação no site www.sescsp.org.br/naifs2010), é visível a sua preocupação em retratar rampas nas calçadas e placas de alerta diante de obras potencialmente perigosas. Além disso, um horizonte pouco verticalizado, repleto de flores e árvores, exibe moradores de todas as idades e muito ativos, trabalhando, caminhando, conversando, em intensa inter-relação. Tudo isso retratado em cores vibrantes e alegres.

Marcelo já expôs sua arte na Caixa Econômica, Proex, Sesc Ponta Grossa, e participou de algumas mostras de artes. Mas seu maior sonho é apresentar sua arte em grandes galerias: “Queria um espaço em São Paulo. Todo artista almeja ser reconhecido”, conclui.