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Envelhecer na cidade

Idoso caminha em praça em SP; a acessibilidade do espaço urbano se tornou um desafio crescente
Idoso caminha em praça em SP; a acessibilidade do espaço urbano se tornou um desafio crescente

texto: Carina Flosi fotos: Flavita Valsani

À medida que a expectativa de vida do brasileiro cresce, especialistas debatem se as metrópoles brasileiras estão preparadas para o desafio de acolher de forma autônoma e sustentável os cidadãos da terceira idade

O Brasil está envelhecendo. Segundo o IBGE, já contamos com quase 20 milhões de idosos, e a cada ano 600 mil são incorporados à população. Em 2025, seremos o sexto país mais velho do mundo, o que significa que um em cada quatro brasileiros terá mais do que 60 anos. Diante desse cenário, este Dia Internacional do Idoso, celebrado em 1º. de outubro sugere uma profunda reflexão sobre longevidade e a urbanização mais adequada para acompanhar essa transformação como um dos desafios para este século.

Para o diretor regional do SESCSP, Danilo Santos de Miranda, espaços públicos, edificações, sistema de transporte e condições de moradia da cidade contribuem para uma mobilidade segura. Um comportamento saudável e a participação social podem favorecer a melhora da auto-estima entre os idosos. Desagrada aos idosos ter a sua imagem associada a uma pessoa solitária, dependente e frágil física e emocionalmente.

“Quando a cidade não oferece essa estrutura acolhedora, ocorre o isolamento amedrontado, a inatividade e exclusão social. Uma gama de oportunidades de participação social estimula relações sociais fortes e dá poder às pessoas. A valorização do idoso é reforçada por uma cultura que reconhece, respeita e inclui”, avalia.

De acordo com o “Guia Global: Cidade Amiga do Idoso”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), elaborado a partir de entrevistas com idosos de 33 países, os espaços urbanos hoje deveriam levar em conta as preferências e necessidades ligadas ao envelhecimento, a proteção dos idosos mais vulneráveis,a inclusão do idoso na vida comunitária – reconhecendo as capacidades e recursos dessa população -,e, por fim, o respeito às decisões e ao estilo de vida adotado por eles.

Isso porque os idosos, em particular, precisam de ambientes que lhes apoiem e capacitem para compensar as alterações físicas e sociais decorrentes do envelhecimento.

As recomendações da OMS partem do conceito de envelhecimento ativo, que reflete como fatores econômicos, sociais, comportamentais e pessoais atuam em conjunto ou isoladamente em relação aos ambientes físicos e aos serviços sociais e de saúde para favorecer ou não a saúde, a segurança e a participação do idoso na sociedade. E, como a perspectiva não é cuidar do velho somente, mas do envelhecimento como um todo no decorrer da vida, uma cidade amiga do idoso acaba sendo amistosa a todas as idades.

A realidade atual é, contudo, ainda distante desse cenário. Segundo o levantamento da OMS, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento as pessoas têm a percepção de que sua cidade não foi planejada para idosos. Em muitas regiões, há menção às barreiras físicas que desestimulam os idosos a saírem de casa.

Para Adriana Romeiro de Almeida Prado, arquiteta, urbanista e mestre em Gerontologia Social, uma cidade que favorece o idoso enfatiza a sua autonomia. Ela tem banheiros públicos em número suficiente, meios-fios rebaixados e rampas de acesso a prédios, sinais de trânsito em cruzamentos de pedestres com tempo suficiente para a travessia. “Na cidade favorável ao idoso os prédios e residências são livres de obstáculos. Os meios informativos e as tecnologias da comunicação são adaptadas para atender às diferentes necessidades intelectuais e culturais. Em resumo, espaços e edificações são acessíveis”, pondera.

Segundo a especialista, urbanistas e governantes já começam a se conscientizar da importância dessa questão. “Acredito que as cidades estão se preparando para atender as demandas crescentes da população idosa, pois já há legislação específica. Porém, a estrutura mal planejada dos espaços ainda oferece entraves para o acesso do idoso e o desestimula a sair de casa, seu porto seguro. Nos prédios públicos faltam elevadores, sinalização adequada, rampas e sanitários. Nas ruas, a iluminação das calçadas é precária e impede que o idoso caminhe com segurança”, argumenta ela.

A condição das calçadas tem um impacto importante na capacidade de locomoção do idoso. Quando estreitas, desniveladas, rachadas, com meio-fio alto, congestionadas e com obstáculos à circulação, são potencialmente perigosas e afetam concretamente o direito de ir e vir do idoso. “Sempre ressalto que quando o arquiteto entrega seu projeto ele tem de apresentar o planejamento da calçada do empreendimento, com qualidade e área livre de obstáculos”, avalia. As calçadas amigas dos idosos, de acordo com o guia da OMS, têm superfície homogênea, plana, antiderrapante, são largas o bastante para circular em cadeira de rodas e possuem guias rebaixadas para facilitar deslocamentos.

Segundo o Observatório Nacional do Idoso, órgão da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, que atua em parceria com o Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli e com a Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz, as necessidades mais recorrentes dos idosos que vivem em centros urbanos vão desde questões financeiras até a orientação social e atendimento psicológico. “As mais urgentes referem-se ao transporte adequado e acessível, redimensionamento do espaço público, que facilitaria o trânsito dos idosos nas ruas, e à prioridade nos atendimentos, tanto nos serviços de saúde como de assistência e previdência social, incluindo a acessibilidade, agilidade e resolutividade. Nada excepcional e que não constitua um direito fundamental de cada cidadão, seja idoso ou não”, explica Ana Elisa Bastos Figueiredo, pesquisadora do órgão, que funciona como um espaço permanente e interativo de intercâmbio de informações entre as equipes dos 28 Centros de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa distribuídos pelo Brasil.

Ainda segundo Ana Figueiredo, a capacidade de atravessar a rua com segurança é uma preocupação frequente da terceira idade, e muitas cidades já tomaram medidas para melhorar as condições de travessia dos pedestres. “Na maioria dos municípios brasileiros, o volume e a velocidade do tráfego representam barreiras para os idosos, sejam eles pedestres ou motoristas”, diz.

A questão da acessibilidade não é pertinente apenas aos deslocamentos fora de casa, lembra a especialista. Dentro de casas, prédios e shoppings “é preciso ter mais elevadores do que escadas rolantes, pois muitas vezes elas estão em ritmo acelerado e causam tonturas e transtornos para essa população. As rampas não podem ser muito longas, e as portas e corredores precisam ser amplos. Já a escadaria não deve ser inclinada, e os pisos têm de ser antiderrapantes”, alerta.

Sobre as moradias destinadas à população idosa nas grandes cidades, que visam favorecer a integração permanente dos idosos na comunidade, Ana Figueiredo critica os modelos atuais.

Transporte acessível

De acordo com a arquiteta Silvana Serafino Cambiaghi, que desenvolve um trabalho intersecretarial na Prefeitura de São Paulo sobre a questão da acessibilidade ao meio físico, apesar de hoje a construção ou reforma de uma rua na capital paulista ser projetada com rampas de acessibilidade em todas as travessias, muitos bairros ainda precisam receber adequações.

“Tornar plenamente acessível uma das maiores metrópoles do mundo é um grande desafio econômico, técnico e, principalmente, cultural. Não apenas as ruas e equipamentos públicos, como escolas e hospitais, devem ser adaptados. A iniciativa privada também precisa entender a importância de respeitar quem depende de condições especiais de acesso”, avisa a especialista.

Segundo ela, entretanto, o panorama é animador. “Penso que a mudança cultural está em curso, pois a valorização do idoso e dos portadores de necessidades especiais já se reflete firmemente na reconstrução das cidades, nas áreas que são revitalizadas e na forma de prestação dos serviços públicos. Afinal, a população idosa, além de mais numerosa, está cada vez mais ativa”, argumenta a arquiteta.

O desenho, a localização, as condições das paradas e das estações de transporte público e as vagas de estacionamento específicas para idosos e deficientes situadas próximas aos prédios, em conjunto com áreas de embarque e desembarque, são consideradas características amigáveis aos idosos. “Embarcar e desembarcar de veículos é um grande problema apontado pelo usuário de terceira idade. Em muitas cidades, a superlotação do transporte público, especialmente nas horas de pico, também representa um problema de segurança para os idosos. A realidade é que, na maioria dos casos, os que dependem do transporte ainda precisam programar suas atividades fora do horário de pico”, resume Gabriel Feriancic, engenheiro especialista em transporte urbano.

Cidadania e participação

Para José Luis Telles de Almeida, presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI), nos últimos anos o desejo de viver intensamente e com mais cidadania moveu os idosos a tornaram-se mais participantes, contribuindo com suas ideias nas discussões sobre problemas do bairro, da cidade e da nação. “A terceira idade se mobilizou na defesa de seus direitos e, como importante saldo desse movimento, se organizou em conselhos municipais e estaduais”, explica.

Na opinião de Telles, políticas de inclusão para as pessoas idosas tornamse urgentes não somente no Brasil, como também nos demais países do mundo, ante o acelerado processo de envelhecimento da população.

A convivência de idosos por meio de atividades físicas, culturais e artísticas promove oportunidades para o desenvolvimento da criatividade e, através do relacionamento, eles percebem sua força social. Para Lilia Ladislau, da Gerência de Estudos e Programas da Terceira Idade (GETI) do SESC-SP, o principal impacto das atividades é o aumento do bem-estar e da qualidade de vida. “Os idosos sentem melhoras tanto no aspecto físico, com a prática de esportes e ginástica, como no psicológico, melhorando suas relações interpessoais”.

Segundo a Gerontologia, ciência que estuda a velhice e o processo de envelhecimento tomando emprestados conceitos da filosofia e da sociologia, a participação social na velhice está diretamente ligada à boa saúde e ao envolvimento ativo ao longo da vida. A participação em atividades de lazer, sociais, culturais e espirituais na comunidade e com a família permite que os idosos continuem a exercer a sua autonomia, a gozar de respeito e estima, e a manter ou formar relacionamentos de apoio e carinho. Ela fomenta a integração social e é a chave para que os idosos fiquem informados – e mais autônomos.

Outros fatores que estimulam a permanência da terceira idade na vida social é a gratuidade e a identificação com as atividades. E como atividades multiculturais podem estimular atividades comunitárias em bairros com uma população diversificada? “Atividades e eventos acessíveis, com localização conveniente para os idosos, opções de transporte variadas e de baixo custo e a possibilidade de os idosos participarem com um amigo ou cuidador são requisitos fundamentais para a participação dessa faixa etária nos eventos”, explica Lilia.

Até poucas décadas atrás, a maior parte das instituições sociais brasileiras focadas na terceira idade se preocupavam apenas com um tipo específico de idosos, mais vulnerável, com reduzida autonomia, procurando abrigá-lo em programas de asilamento. Para o outro tipo de idoso, ativo e autônomo física e mentalmente, a sociedade dispunha de poucas alternativas de convivência e participação. O SESC-SP, que há mais de 40 anos realiza o Programa Trabalho Social com Idosos, tornou-se referência, em nível nacional, justamente pela trajetória de realizações junto a esse segmento. Em 2003, o SESC-SP deu um importante passo nesse trabalho lançando o programa sociocultural SESC Gerações, com atividades culturais e de lazer. “Depois de oferecer um universo de atuação para o idoso, partimos para ações de inserção desse indivíduo na sociedade, promovendo seu relacionamento com diferentes faixas etárias. Hoje, verificamos que quando há oportunidade de convívio entre jovens e idosos, ocorre uma fértil troca de conhecimentos acaracterísticos de cada geração. Os mais velhos transmitem aos mais jovens suas vivências de épocas passadas, memória social, e os jovens atualizam os idosos, propiciando a eles conhecimentos das novas tecnologias, como informática e internet, entre muitas outras”, conta Lilia.

Contra o isolamento

Uma mensagem consistente dos idosos moradores das cidades de todo o mundo no levantamento da OMS foi a de que a participação social é mais fácil quando as oportunidades são muitas e estão perto de onde se mora. Há muitas explicações sobre o porquê de idosos que vivem em isolamento terem dificuldade de se associar com outros. Os seus contatos sociais desapareceram, gradativamente, após a morte do cônjuge e de outros membros da família e amigos. A saúde pode estar em declínio, o que limita a sua capacidade de participar.

Além disso, com a aceleração da vida urbana, é cada vez mais comum que os filhos ou netos tenham pouco tempo para visitar os idosos da família, o que é sentido por eles. Uma alternativa crescente nesse sentido de sociabilização é a do trabalho voluntário, que põe o idoso em contato com outras pessoas e ainda valoriza sua autonomia, experiência, disposição e capacidade de trabalho.

“Os idosos que estão ativamente envolvidos em atividades voluntárias desfrutam de muitos benefícios decorrentes dessas atividades, incluindo a sensação de auto-valorização, de se sentir ativo, de se manter saudável e de manter suas conexões sociais”, afirma a cientista social e gerontóloga Andrea Lopes.

Longevidade saudável

Para a França dobrar a proporção de idosos de 7% para 14% foram necessários 115 anos (1865-1980). Já o Brasil levará o equivalente a uma geração. Para o médico homeopata, psicoterapeuta gerontólogo, naturalista, consultor em sustentabilidade e saúde pessoal e corporativa Fernando Bignardi, coordenador do Centro de Estudos do Envelhecimento e do Núcleo de Estudos e Pesquisas Homeopáticas da UNIFESP, não basta esticar a vida, é necessário que a longevidade seja alcançada com bem-estar e qualidade de vida.

Mesmo quem supera a barreira dos cem anos de idade pode ter qualidade de vida e saúde, dizem os especialistas. No Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo, Bignardi acompanha a saúde de 1.500 idosos que vivem na cidade de São Paulo para verificar a relação entre estilo de vida, personalidade, cognição e doenças.

Bignardi alerta que, frequentemente, os padrões automáticos de comportamento, cristalizados ao longo dos anos, acabam contendo a espontaneidade e a criatividade do idoso. Na velhice essa condição se agrava, pois a falta da rotina do trabalho ou o tempo ocioso confrontam o indivíduo com suas questões fundamentais que ficaram latentes ao longo de sua vida. No passado, essa problemática era ocultada pela baixa expectativa de vida. Atualmente, a longevidade aumentou significativamente, exigindo uma abordagem diferenciada do envelhecimento.

Por isso, Bignardi critica o modelo tradicional de tratamento geriátrico e utiliza, na Unifesp, a prática da meditação como alternativa para o paciente resgatar o verdadeiro sentido de sua vida, acabar com suas angústias e, consequentemente, não desenvolver doenças e até se curar dos acometimentos que já possui. “Na medicina convencional, na medida em que, seguindo o modelo mecânico topográfico da medicina ortodoxa, o médico atribui a cada diagnóstico um tratamento, os idosos, que frequentemente apresentam vários diagnósticos, se deparam com a prescrição de numerosos medicamentos de uso simultâneo, acarretando o incômodo problema da polifarmácia e de seus efeitos colaterais”, argumenta.

“A velhice pode se converter em um tempo de concretização de ideais essenciais na vida de muitas pessoas, desde que elas possam se reconectar com suas verdadeiras missões de vida”, reflete Bignardi.


São Caetano e Bragança integram rede amiga do idoso

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em julho deste ano a Rede Global de Cidades Amigas do Idoso como parte da resposta ao rápido envelhecimento das populações. Segundo a entidade, os maiores desafios no que tange aos cuidados com essa população estão em países menos desenvolvidos. Até 2050, a estimativa é que 80% dos 2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais vivam em nações de média e baixa renda.

No Brasil, dentre as 645 cidades do Estado de São Paulo, apenas quatro foram escolhidas para a execução do tema: Bragança Paulista, São Caetano do Sul, Atibaia e Socorro.

O município de São Caetano, que conta com 20% de população idosa, iniciou o rebaixamento de ônibus e está transformando ônibus escolares em transporte de passageiros idosos, levando-os aos médicos, lojas e parques. “Uma importante parcela da nossa população é de terceira idade e precisamos urgentemente nos adaptar”, afirma a assessora especial de Coordenação da Ação Social, Regina Maura Zetone. Outra iniciativa de mobilidade urbana foi reservar gratuitamente 5% das vagas de zona azul para moradores acima de 65 anos.

Em Bragança Paulista, grupos compostos por lideranças comunitárias, agentes de saúde e pessoas idosas farão o levantamento e identificação das necessidades e demandas da população idosa do município. Segundo o coordenador da Estratégia de Saúde da Família, Luis Eduardo Teixeira da Silva, a primeira iniciativa será instalar duas academias ao ar livre que darão condições dos idosos praticarem atividades físicas próximos às suas residências, contando com as devidas orientações de profissionais da área de saúde.

O programa trabalhará também acessibilidade, transporte, moradia segura, inclusão digital, promoção da saúde, comunicação e informação como meios de fortalecer a autonomia do idoso e estimular sua participação ativa e integração na sociedade.

Violência contra a terceira idade deve ser denunciada

A violência à pessoa idosa pode ser definida como o conjunto de ações ou omissões que prejudiquem a integridade física e emocional das pessoas desse grupo e impeçam o desempenho de seu papel social. O resultado da violência é a quebra de expectativa positiva dos idosos em relação às pessoas e instituições que os cercam.

Os dados mais recentes do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde, divulgados em 2009, revelam que as internações hospitalares de idosos por acidentes e violências somaram 140.859 casos. Desse total, 48,3% foram por quedas, 8,1% por acidentes de trânsito, principalmente atropelamentos, 1,9% por agressões e 0,5% por lesões auto-provocadas. “Esses dados apontam para a urgência de operacionalizar as ações de prevenção e atenção previstas nos documentos governamentais”, alerta Ana Elisa Bastos Figueiredo, pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública (Claves/ENSP/Fiocruz). “São dados relevantes que sinalizam para a responsabilidade social de cada um de nós. Estarmos atentos e atuantes é apenas um começo de um percurso que envolve um processo cada vez mais efetivo de inclusão social, de garantia da presença e do protagonismo do idoso como proponente, participante, monitorador.”

Na maioria das ocorrências, o agressor do idoso mora dentro de casa. Para Ana Elisa, a identificação dos atos violentos está vinculada à questão afetiva. Torna-se difícil para o idoso nomear um parente como agressor.

Por uma questão cultural, a pessoa na terceira idade não reconhece que está sendo vítima de violência. De uma forma velada, a sociedade não considera o idoso como um ser participativo e que agrega valor a ela. “Daí, o próprio idoso absorve esse mito e não percebe que tem direitos plenos. Então, quando ele é maltratado pelos filhos e pela sociedade, ele acha normal”, explica a mestre em Gerontologia e assessora técnica da Saúde do Idoso da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, Marília Berzins.

A negação é uma das dificuldades mais comuns e frustrantes para a detecção da violência contra o idoso. A vítima resiste a admitir que está sofrendo maus tratos. Segundo a especialista, as principais dificuldades que o idoso manifesta são medo de represálias, como o aumento da violência e a perda da liberdade e medo de que, ao revelar a existência da violência, o agressor, que geralmente é membro da família, torne-se mais violento. “O sentimento de culpa é outro fator que impede o idoso de pedir ajuda. Ele acha que é por sua culpa que está sofrendo os maus tratos, pois não foi um bom pai ou uma boa mãe”, diz Marília.

O idoso também sente vergonha em expor a violência que sofre. “Ele tem medo de abalar a reputação da família, sofrer ainda mais chantagem emocional do familiar ou pensa que se relatar o fato ninguém acreditará na sua palavra”, completa Ana Eliza.

O estado mental também facilita os maus tratos. A vítima muitas vezes não é capaz de reclamar pelo fato de sofrer de problemas de memória e comunicação. Isola-se, e acreditando que ser maltratada faz parte do processo do envelhecimento – mas a violência não pode ser aceita como “normal”.

Faces da violência contra o idoso

Violência física: o uso da força física para compelir os idosos a fazerem o que não desejam para feri-los, provocar dor, incapacidade ou morte.

Violência psicológica: agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir a liberdade ou isolar do convívio social.

Violência sexual: refere-se ao ato ou jogo sexual de caráter homo ou heterorrelacional, utilizando pessoas idosas. Esses abusos visam a obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.

Abandono: manifesta-se pela ausência ou deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares de prestarem socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção e assistência.

Negligência: refere-se à recusa ou à omissão de cuidados devidos e necessários aos idosos por parte dos responsáveis,familiares ou institucionais.

Violência financeira ou econômica: consiste na exploração imprópria ou ilegal ou ao uso não consentido pela pessoa idosa de seus recursos financeiros e patrimoniais.

Auto-negligência: diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua própria a saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a si mesma.

Violência medicamentosa: é a administração indevida, por familiares, cuidadores e profissionais, dos medicamentos prescritos.

Violência emocional e social: refere-se à agressão verbal crônica, incluindo palavras depreciativas que possam desrespeitar a identidade, dignidade e autoestima. Caracteriza-se pela falta de respeito à intimidade; falta de respeito aos desejos, negação do acesso a amizades, desatenção a necessidades sociais e de saúde.

Fonte: Caderno de Violência contra a Pessoa Idosa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo

Dicas para o idoso se sentir mais seguro

→ Mantenha contato com velhos amigos;
→ Tenha um bom amigo com quem possa falar abertamente dos seus problemas;
→ Tenha amigos que possam visitar sua casa;
→ Aceite as oportunidades que aparecem para coisas novas, inclusive as amizades;
→ Participe de atividades sociais da comunidade (grupos de idosos, centros de convivência etc.);
→ Participe dos serviços voluntários;
→ Realize suas necessidades pessoais;
→ Tenha controle dos seus pertences;
→ Abra e envie sua própria correspondência;
→ Tenha o controle do seu cartão bancário, não fornecendo a senha para estranhos ou terceiros;
→ Procure ajuda legal quando necessitar;
→ Tenha alguém a quem recorrer quando maltratado.

Fonte: Caderno de Violência contra a Pessoa Idosa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo