Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Tijolo por tijolo

Morada da Floresta: sistemas de captação de água da chuva, horta doméstica e separação de lixo
Morada da Floresta: sistemas de captação de água da chuva, horta doméstica e separação de lixo

texto: Andrea Miramontes foto: Flavita Valsani

Qualquer construção precisa de muito mais que um aquecedor solar para se tornar verdadeiramente sustentável. Necessita de iniciativas que envolvem todo o processo construtivo. E mais que isso. Uma obra sustentável considera o que está à sua volta, não atrapalha o sol dos vizinhos, usa matérias-primas com selos que garantem que os extratores não devastaram o ambiente e aproveitam a iluminação e a ventilação natural, entre muitos outros tópicos.

De acordo com o vice-diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), Marcelo de Andrade Romero, o segredo está nas escolhas criteriosas.“Se você compra uma madeira que vem do Pará, que vai queimar um absurdo de combustível para chegar a São Paulo, já perdeu o conceito.”

Romero explica ainda que o avanço da tecnologia tornou as escolhas mais acessíveis. “Procure torneiras que regulam a vazão de água, vaso sanitário com caixa dupla e chuveiro com temporizador. Deixe também áreas sem impermeabilização [como jardins],  para que a chuva seja absorvida.”

Fábio Woody, sócio da Aha!, escola de projetos educacionais, reforça a amplitude do conceito sustentabilidade. “Envolve uma teia de relações. Não basta só usar teto de grama e tijolo ecológico quando, para isso, se constrói um tremendo condomínio longe de tudo, no qual o morador tem que  se locomover com uma picape a diesel para comprar um pão."

Na tentativa de aplicar a sustentabilidade na reforma da própria residência, a arquiteta Marcia Mikai, conselheira do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), aproveitou até o entulho. “Aberturas foram pensadas para melhorar insolação e ventilação natural. Portas e janelas antigas foram retiradas com cuidado para doação, parte do entulho dos tijolos e tacos do piso foi reaproveitada, separamos resíduos para destinar à reciclagem”, enumera.

Tanto em iniciativas construtivas dos prédios, como por meio de ações comunitárias, as unidades do SESC  SP também consideram a variável socioambiental em seus processos. São  ações que preveem economia de água  e energia, manejo florestal e também  melhorias no entorno, com programas  de educação ambiental. “A tecnologia  nos sistemas construtivos é uma das  dimensões, uma questão operacional  relacionada ao consumo de recursos. Queremos compartilhar conhecimentos e iniciativas para que as pessoas se sintam mobilizadas a pensar na sustentabilidade de forma coletiva e comprometidas com as mudanças”, avalia Denise Baena Segura, assistente técnica da gerência de programas socioeducativos do SESC SP.

Entre as unidades do SESC SP com ações de educação para a sustentabilidade, ela destaca as que consideram a mata nativa, como em Bertioga, Interlagos e Itaquera, nas quais ainda encontram-se programas educacionais, de formação de educadores e até de roteiros ambientais, no caso de Itaquera.

O SESC Interlagos, com mais de 62 mil m² de Mata Atlântica e 281,5 mil m² de reflorestamento, representou a primeira iniciativa do tipo feita pela instituição. “A implantação foi em 1975, em um local que antes era uma fazenda. Já no início, perseguimos a ideia de ter uma área construída em harmonia com a paisagem, com manejo ambiental”, explica. De  acordo com ela, mais importante é a  integração que as unidades têm com a  comunidade. “A vida depende do que  você estabelece com o ambiente e com  as pessoas”, conclui.

Moradas ecológicas

As ecovilas, que reaproveitam recursos naturais e são reconhecidas pela ONU  como modelo de sustentabilidade, já são mais de 15 mil no planeta, segundo a Rede Global de Ecovilas.

O conceito surgiu em 1987 para dar suporte a comunidades que desejam fazer a transição para uma sociedade sustentável. As ecovilas têm até 2 mil moradores, e entre os preceitos estão plantar o que se come e adotar padrões sustentáveis de construção.

Com o lema "As estrelas podem esperar, mas o planeta, não", hoje elas já são mais de 20 no Brasil. Seus moradores estudam a sustentabilidade global e fomentam estratégias para mudanças culturais positivas.

Na zona oeste de São Paulo, uma casa ecológica habitada por uma família e seus funcionários é referência para visitantes, hóspedes e parceiros. Na Morada da Floresta, o casal Cláudio Spínola e Ana Paula Silva transforma paradigmas. “Tentamos conscientizar e transformar hábitos. A partir do momento que as pessoas saem da ignorância ecológica e incorporam conceitos sustentáveis, entram em um caminho sem volta. Não conseguem mais jogar o lixo sem reciclar nem desperdiçar água.” Na casa adaptada para economizar energia e aproveitar a luz natural os alimentos são orgânicos. Uma parte é produzida na horta doméstica. Com a ajuda das minhocas é feita a compostagem do lixo orgânico. Para se sustentar, o casal oferece visitas monitoradas e cursos.

(Carina Flosi)

Morada da Floresta www.moradadafloresta.org.br
Rede Brasileira de Ecovilas www.ecovilasbrasil.org