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Educação para a sustentabilidade: trajetória e tendências

Gerência de Programas Socioeducativos do SESC SP*

Estamos na década da Educação para o desenvolvimento sustentável, como propôs a Organização das Nações Unidas, abrangendo o período de 2005 a 2014. Mas o que isso significa?

Em linhas gerais, há um imenso desafio para a humanidade repensar o seu modo de viver, especialmente nos
aglomerados urbanos. Educação ambiental, socioambiental, para o desenvolvimento sustentável. Diferentes denominações e também concepções sobre ambiente, educação e desenvolvimento resultam em perspectivas variadas de ação que coexistem e podem ser identificadas em discursos e práticas.

Apesar de ter conquistado visibilidade mundial no contexto de enfrentamento de problemas decorrentes da poluição, do
desmatamento, da escassez de recursos hídricos, das mudanças climáticas, enfim, da degradação ambiental nas sociedades urbano-industriais, os princípios da educação ambiental tratam essencialmente dos valores humanos de solidariedade e de respeito a todas as formas de vida e responsabilidade compartilhada para cuidar do planeta. “É preciso reconstruir nosso sentimento de pertencer à natureza, a esse fluxo de vida de que participamos”, argumenta a pesquisadora Lucie Sauvé (1).

Com o aprofundamento da discussão a respeito do alcance da educação ambiental, sua missão deixou de se restringir ao ensino da ecologia e ao ativismo em relação à preservação dos recursos naturais. Sem dúvida, é importante compreender a dimensão ecológica da vida – os ciclos naturais, os fluxos de energia, as inter-relações entre as várias espécies, os estoques de energia, alimentos etc. No entanto, o processo educativo para a sustentabilidade pressupõe outras dimensões igualmente importantes como a cultural, a econômica e a política, que convergem para o grande objetivo de promover a melhoria do ambiente e da qualidade dE vida. A educação ambiental tem vocação para a cidadania, na medida em que busca formar pessoas capazes de interpretar o ambiente, dialogar com diferentes segmentos e participar das decisões públicas, reafirmando os laços vitais que sustentam a coletividade.

A trajetória de constituição da educação ambiental como campo de saber e prática social inicia-se em 1977, em Tblissi (Geórgia), na primeira Conferência Internacional que tratou do tema e definiu suas diretrizes. Já naquela ocasião se entendia que sua ação não se restringia às escolas, mas que era essencial abarcar a educação não formal e os meios de comunicação de massa para alcançar o objetivo de repensar nossa relação com o ambiente.

Em escala global, documentos elaborados na Conferência Internacional Rio 92, como a Agenda 21, que dedica o Capítulo 36 ao tema da educação, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, além da Carta da Terra, semearam o ideario de valores ambientais e socialmente responsáveis nas práticas educativas e comunitárias, tendo em vista a necessidade de estabelecer diretrizes éticas e sustentáveis para o desenvolvimento humano.

No âmbito das políticas públicas nacionais, destacam-se a criação dos Núcleos de Educação Ambiental no Ibama, desde 1992; o Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea), instituído em 1994 pelos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente; a inclusão da educação ambiental nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1998; e a aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental, em 1999.

No SESC SP, várias ações voltadas à conservação e à educação ambiental foram realizadas ao longo de sua história. Tanto na  promoção de programas permanentes e projetos eventuais de sensibilização e educação ambiental como na adoção de medidas estruturais em seus centros de cultura e lazer, a instituição tem se colocado positivamente frente ao desafio de construir ambientes mais saudáveis e sustentáveis.

O engajamento nas mudanças em direção à sustentabilidade está ao alcance de todos, em menor ou maior escala, e ganha dimensão à medida que se articula em rede. As ações do SESC buscam promover a relação crítica e criativa
com a realidade a partir de estímulos à capacidade de as pessoas entenderem as interdependências entre natureza e cultura e recriarem maneiras de convivência humana digna e de respeito à integridade da natureza de forma prazerosa, reflexiva e propositiva.

Neste sentido, Isabel Carvalho (2), psicóloga e doutora em educação, defende que a educação ambiental deve perseguir o caminho de uma aprendizagem ativa e não se identificar somente com mudança de comportamento. “Uma Pessoa pode aprender a valorizar um ambiente saudável e não poluído, ter comportamentos tais como não sujar as ruas e participar dos mutirões de limpeza do bairro. Essa mesma pessoa, no entanto, pode considerar adequada a política de produção e transferência de lixo tóxico a outra região e não se importar com a contaminação de um lugar distante do seu ambiente de vida.”

Sob a inspiração do educador Paulo Freire, o Programa de Educação para a Sustentabilidade do SESC SP acredita que é preciso aprender sobre a realidade com e na realidade, a partir das questões da nossa vida cotidiana.

Chamar a atenção para a urgência quanto às mudanças concretas do cotidiano, a partir do envolvimento de cada um na construção da sustentabilidade a médio e longo prazos, materializa a corresponsabilidade de cada um em relação a um futuro melhor. As bases do futuro estão no compromisso que assumimos com a qualidade de vida atual. Por isso a ação educativa ambiental não deve se restringir às crianças, ou seja, àqueles que estão em processo de educação formal, como se a mudança só fosse possível em um futuro que será construído pelas novas gerações.

A necessidade de mudança de valores e atitudes diz respeito também aos adultos, sujeitos determinantes dos processos de
relação com o ambiente hoje. Transferir para as crianças essa responsabilidade é, no mínimo, injusto.

Dia Mundial do Meio Ambiente 2010

Celebrado em 5 de junho desde 1972 por recomendação da Organização das Nações Unidas, o Dia Mundial do Meio Ambiente marca a mobilização da sociedade em prol da proteção ambiental.

O SESC SP se insere nesse esforço coletivo ao reafirmar os valores da educação cidadã permanente e contribuir para a reflexão sobre o sentido da solidariedade planetária baseada na interdependência entre natureza e cultura. Assim, por meio da ação cultural – e a sustentabilidade é um novo paradigma para a cultura local e global –, a programação das unidades do SESC difunde ideias e ações que respondem aos desafios atuais, com destaque para o contexto urbano. Por quê?

Entre 2007 e 2008, as cidades passaram a concentrar mais da metade da população mundial, fato inédito na história da humanidade. Segundo Philip S. Golub (3), “a urbanização desafia nossa capacidade de produzir bens públicos, sobretudo educação, cultura, saúde e um ambiente saudável para o conjunto das populações,pré-requisito para o desenvolvimento sustentável que garanta o bem-estar coletivo e, assim, a expansão das liberdades individuais”. Desta forma, discutir educação para a sustentabilidade está intimamente vinculado à forma como vivemos e afetamos o ambiente nos grandes centros Rrbanos, pois são nesses lugares que mais alteramos os ciclos naturais.

Modos de desenvolvimento socialmente justos e ambientalmente equilibrados passam, necessariamente, por políticas estruturais na área de saneamento ambiental (tratamento de água e esgoto, limpeza urbana, controle de poluição, para citar os principais); pelo planejamento da ocupação territorial, considerando a prioridade dos assentamentos humanos; pela ampliação dos
transportes públicos de qualidade; pela conservação da biodiversidade e, consequentemente, dos ambientes naturais; pela produção de alimentos e segurança alimentar, no gerenciamento dos riscos ocasionados pelos desastres naturais, cada vez mais frequentes; pela definição de modelos políticos mais participativos e pela distribuição das riquezas.

O panorama é bastante amplo, e sua efetivação depende de ações sistemáticas e articuladas que convirjam para o compromisso ético da humanidade em relação à vida