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País despreparado para a velhice
Vai longe a época em que os mais velhos eram alvo de consideração e gozavam de privilégios na comunidade. O tempo passou, as cidades cresceram e, quase imperceptivelmente, eles foram perdendo espaço no cotidiano.
Hoje, em pleno século 21, com o mundo se movimentando em velocidade cada vez maior, não é de estranhar que a pessoa idosa se retraia, como que para não atrapalhar o ritmo frenético dos acontecimentos. O aumento bem-vindo da expectativa de vida da população acabou gerando, por outro lado, uma série de dificuldades de caráter prático cuja solução depende não só de políticas públicas, mas principalmente de nova postura da sociedade diante dessa realidade.
Na reportagem de capa desta edição, mostramos o que vem sendo feito e o que ainda falta para que o envelhecimento signifique para o brasileiro a possibilidade de viver de forma digna e saudável.
Este número traz ainda um conjunto de informações que causam perplexidade. No encarte, o jornalista Washington Novaes, respeitado como autoridade em questões ambientais, faz uma exposição das consequências da ação humana sobre a natureza e fala das projeções para o futuro próximo. Segundo ele, maltratamos o meio ambiente de tal maneira que nossas condições de vida, da forma como as conhecemos, não devem se manter por muito tempo.
Nessa mesma linha, algumas matérias desta edição mostram que, apesar de o Brasil ser privilegiado em termos de recursos naturais e dimensões territoriais, não sabemos cuidar dessas supostas vantagens. Há muito o país tem problemas para lidar com a enorme quantidade de lixo que produz diariamente. Mesmo detendo tecnologia para isso, não contamos com uma legislação na área de destinação de resíduos que estimule os investimentos e lhes dê segurança. Na agricultura, somos campeões mundiais do uso de agrotóxicos, alguns deles há muito proibidos nos países desenvolvidos. Em relação à água, mais uma vez nos encontramos no topo do ranking, agora do desperdício. Chega a ser absurda a forma como tratamos esse bem tão precioso e cada vez mais escasso. Quanto à indústria, usamos carvão vegetal para produzir aço, e grande parcela das centenas de milhões de árvores que vão para o forno anualmente com essa finalidade provém de mata nativa.
O que mais impressiona é que continuamos a agir como se tudo estivesse bem, com nossa flora protegida e os bichos a salvo dos traficantes. Não é isso, porém, o que acontece, como mostram dois textos desta edição. Por um lado, são várias as espécies vegetais nativas em risco de extinção e, por outro, anualmente milhões de animais silvestres são subtraídos de seu habitat para alimentar o comércio clandestino mundial. A persistir essa situação, estaremos condenando as próximas gerações a uma vida bem mais difícil e empobrecida que a nossa.
Contrastando com tudo isso, este número traz uma matéria sobre um mestre das artes que fez de sua vida uma verdadeira declaração de amor às plantas: o paisagista Roberto Burle Marx, que soube, como nenhum outro de seu tempo, valorizar a flora nacional.
Abram Szajman
Presidente da Federação e Centro do Comércio do Estado de São Paulo
e dos Conselhos Regionais do Sesc e do Senac