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 O trabalho em casa e o trabalho em equipe
   por Rubens Babini

Antes de começar a escrever, fiz uma pesquisa na internet e confesso que fiquei surpreso. A consulta “trabalhar em casa” leva a mais de 3 milhões de citações, com uma quantidade significativa de oportunidades para tal. Não deixa de ser uma dica para quem está à procura disso, mas vale apenas um alerta: tem muita arapuca nesse meio. Mas isso já é assunto para outro texto.


Trabalhar em casa exige determinação e disciplina e pode levar o profissional ao isolamento. Esse isolamento, embora considerado como vantagem por alguns, costuma trazer conseqüências desagradáveis para a maioria. Disciplina e determinação para várias coisas, entre elas, para saber a hora de parar. Quem nunca utilizou um dia de folga para fazer, ou concluir, um trabalho profissional? Ressalto que essa folga é fundamental para recarregar as energias físicas e psicológicas. Usá-la para trabalhar de vez em quando é uma coisa; permitir que vire rotina é outra. E qual é o dia de folga para quem trabalha em casa? A que horas se encerra o expediente? Será que somos tão disciplinados e determinados assim? Será que é fácil impormos esses limites? Tenho minhas dúvidas. Acredito que isso dê certo para alguns, mas que seja uma ilusão para outros.


Disciplina e determinação são usadas também para definir a hora do trabalho. Aqui cabem duas considerações: uma envolve o exagero dos que mantêm o ritual de programar o despertador para tocar, se arrumar como se fosse sair de casa e, então, “entrar” no trabalho. Tem gente que até abre e fecha a porta do carro na garagem, somente para incorporar a troca de personagens. A outra trata de coisas pessoais que, tradicionalmente, são realizadas nos dias de folga. Por poderem ser feitas a qualquer dia e hora, e, com isso, invadirem o horário de trabalho, acabam levando a um adiamento desse trabalho. Quem nunca deixou alguma tarefa para fazer na última hora?


Não, não sou totalmente contra o trabalho em casa. Posso ter tratado dos extremos, mas entendo apenas que existam riscos a serem considerados. Mas, claro, também entendo que existam vantagens. A proximidade com a família, a maior independência e a redução do estresse decorrente do trânsito das grandes cidades, por exemplo, podem melhorar a qualidade de vida.


Eu disse que podem, e não que melhoram. Porque sempre existe a possibilidade de se confundir a vida profissional com a vida doméstica. Pode se perder o referencial que separa essas vidas. A família toda deve colaborar para que tarefas caseiras não comecem a permear o trabalho profissional. Pois aí, em geral, o resultado é o contrário do que se espera: o desentendimento familiar, o aumento do estresse e a piora na qualidade de vida.


No trabalho em casa não podemos nos esquecer ainda dos cuidados com a ergonomia. Um espaço com mobiliário adequado, e não um canto com móveis adaptados, ajuda a prevenir uma série de conseqüências danosas ao corpo.


Mas e o trabalho em equipe? Bem, desse sou fã desde meus tempos de escoteiro. Principalmente quando a equipe cultiva a prática do diálogo como forma de propiciar a interação das pessoas, a aprendizagem coletiva, o crescimento individual e a circulação do conhecimento. Isso leva ao desenvolvimento de um ambiente de confiança em que o resultado do conjunto é maior que a soma individual das partes.


E vejo isso acontecer no Sesc. Se trabalhar em equipe é ter clareza dos objetivos a serem alcançados, nossas equipes vão além, pois não se contentam em apenas ter clareza desses objetivos. Fazem questão de entregar ao público freqüentador a melhor programação possível. Na minha opinião, um dos motivos disso acontecer é que os componentes dessas equipes possuem formações profissionais distintas. Reunidos em equipes multidisciplinares, trabalham com a diferença de pensamento e de experiências anteriores em favor da equipe.


No Sesc, os profissionais das áreas de humanidades são tão importantes quanto os das áreas de ciências exatas e biológicas. Respeitando os limites e a natureza uns dos outros, todos trabalham e convivem com harmonia de idéias e valores. Acredito que seja esse o maior motivo do sucesso nos resultados obtidos.



Rubens Babini, engenheiro pós-graduado em administração de empresas, é gerente-adjunto de recursos humanos do Sesc São Paulo.