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MERCADOS DE ARTE: TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS

As artes visuais e seus mercados estão em constante transformação. Acompanhando as dinâmicas econômicas e culturais globais, a valorização das obras e dos artistas contemporâneos – e a correlata extensão dos mercados de arte – derivam da articulação de sistemas complexos, que envolvem múltiplas instâncias: da produção artística às instituições culturais, da crítica aos veículos de comunicação e da curadoria às redes nacionais e internacionais de galerias.

Ainda fortemente hierarquizado e oligopolístico, o quadro geral do mercado de arte resulta das ações e forças de um reduzido número de atores, os quais definem os valores da arte contemporânea e estruturam as redes por onde fluem as ideias e a materialidade da arte. Num cenário em que os agentes implicados na produção artística nacional buscam manter e ampliar os mecanismos de fomento local, ao mesmo tempo que procuram consolidar a inserção internacional da arte brasileira, o esforço em refletir sobre o mercado da arte possibilita desvelar dimensões estruturais e estruturantes da economia da cultura.

Tais dimensões revelam-se estratégicas para a formulação de políticas públicas, bem como para a gestão cultural. Como instituição atuante no universo artístico-cultural, o Sesc São Paulo participa da valorização simbólica das artes e da cultura, além de desempenhar importante papel como propulsor econômico, abrindo espaço para diversas expressões artísticas e para os diferentes gostos e públicos a elas associados.

Nesse sentido, reunimos pesquisadores, professores e artistas que apresentam aguçados pensamentos em seus textos integrantes do dossiê “Mercados de arte: transformações contemporâneas”. Em “Mercado de arte global, sistema desigual”, Ana Letícia Fialho analisa informações atuais sobre a escala e as condições com que o sistema da arte contemporânea brasileira se internacionaliza, ou participa da cena global, por meio de iniciativas públicas e privadas.

Em “Exposições como arenas de poder”, a pesquisadora Mirtes Marins de Oliveira se debruça sobre o modo como são apresentadas as obras de arte em exposições emblemáticas de um sistema de disputas de poder institucional, tendo o campo curatorial como articulador das forças em jogo. Já Guillermina Bustos e Jorge Sepúlveda, no artigo “Ação/transformação: sobre economia e mercado de arte”, estabelecem bases conceituais e diferenças que permitem olhar para as especificidades da economia e do mercado de arte contemporânea na América Latina, além de traçar suas relações com o sistema econômico.

No artigo “Mulheres artistas no mercado artístico internacional: um olhar a partir dos índices do Artprice”, Ana Paula Simioni discute o mercado internacional da arte pela ótica da presença feminina. Por meio de dados, ela explicita a baixa representatividade de mulheres no mercado mundial, assinalando que, apesar da pulsão globalizante do sistema artístico, não há equidade entre os artistas do ponto de vista de gênero e/ou origem.

Ainda, em “A promoção da performance na SP-Arte e possíveis repercussões no mercado de arte no Brasil”, Bianca Tinoco analisa como esse gênero artístico é inserido no mercado, quais as implicações da inclusão desse tipo de obra em um museu brasileiro e a repercussão em torno do seu colecionamento.

Já Maria de Fátima Morethy Couto examina, em “A arte de vanguarda e a crítica de arte no Brasil”, como essa produção identificada como vanguardista é “eficaz” e acolhedora de poéticas experimentais em um país periférico como o Brasil, para evidenciar as tensões políticas e sociais que assinalam o debate artístico dos anos 1960/70 no país. Adiante, Henrique Grimaldi Figueredo contribui com o artigo “It´s not you – it´s your prices at auction: arte e mercado em Pablo Helguera”, no qual apresenta reflexão sobre o capitalismo corporativo, exemplificando, por meio da produção de charges de Pablo Helguera, a remodelação econômica que engendra a transferência progressiva de investimentos da esfera pública para a iniciativa privada. Fechando o dossiê, Luiz Eduardo de Vasconcelos Moreira e Daniel Kupermann, no artigo “Psicanálise e arte: reflexões sobre valor”, exploram a questão da produção do valor e da precificação da obra de arte, valendo-se de contribuições oriundas do terreno psicanalítico. Dialogando com o tema do dossiê, os colecionadores Pedro Barbosa e Luiz Augusto Teixeira de Freitas tratam do mercado de arte, falam sobre suas coleções e comentam o papel de suas ações nas políticas inerentes ao sistema das artes visuais.

A edição traz também três artigos acerca de temas relacionados ao campo da cultura. O professor Luis Krausz aborda a questão da absorção e assimilação em Israel dos imigrantes judeus procedentes do mundo islâmico, chamados mizrachim. Valmir de Souza, por sua vez, trata das concepções de cultura e aborda políticas públicas para a área no Brasil. Já José Geraldo Vinci de Moraes olha para o cenário urbano paulistano a partir de um inusitado caso de “crime de paixão” que envolveu dois músicos famosos no começo do século XX.

Na seção Gestão Cultural, ex-alunos do Curso Sesc de Gestão Cultural apresentam artigos relacionados aos seus trabalhos de conclusão de curso.

Antonio José Bezerra de Menezes Jr., professor de Poesia Chinesa e Sinologia da Universidade de São Paulo, resenha o livro China: uma história em objetos, de Jessica Harrison-Hall, publicado em 2018 pelas Edições Sesc, no qual a autora oferece um rico panorama da produção artística e cultural chinesa ao longo de cinco mil anos. Esta edição conta também com a “conversa-coletiva, dançando com artistas-etc”, que o artista-etc Ricardo Basbaum produziu colaborativamente com Alexandre Molina, Cândida Monte, Cláudia Mu¨ller, Ivana Menna Barreto, Janaína Lobo, Kleber Damaso, Luciana Ribeiro, Paulo Caldas e Verusya Correia. Compõe o trabalho o diagrama “a produção de si como artista”, também elaborado por Ricardo Basbaum. Ao final, os leitores encontrão a série Photophobia, do artista Deyson Gilbert. Criada especialmente para esta publicação, a série reflete sua pesquisa sobre os pontos de tensão do imaginário social, propondo especulações a respeito da economia da imagem nos séculos XX e XXI.

Boa leitura!
Danilo Santos de Miranda
Diretor do Sesc São Paulo