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Eu também queria mudar o mundo

O título escolhido para esse texto me transporta para o início de minha adolescência. É lá que começamos a indagar e questionar, dentro de nossos valores e crenças, o que queremos do mundo. E assim começa a história...

Não que tenha vivido uma juventude transformadora, assim como a jovem Greta Thunberg, indicada ao prêmio Nobel da Paz em 2019, a ativista de 16 anos que deu início a um movimento internacional de greves de estudantes contra as mudanças climáticas. Longe disso! Mas, como afirmava Paulo Freire: “Não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos”. Foi, portanto, no período em que cursava o ensino médio, no final da década de 1980, pós-ditadura, quando tentávamos experimentar uma liberdade que não conhecíamos até então, que despertou em mim o senso de engajamento.

Pensando bem, talvez tenha sido uma juventude normal...

E como percebemos que passamos à vida adulta? Empiricamente, poderia responder: Quando começamos a ter dúvidas se podemos realmente mudar o mundo.

E nesse momento recorro novamente a Paulo Freire, que dizia “mudar é difícil, mas é possível”.

Logo depois de me formar, começo a trabalhar no Sesc, uma instituição que me permite sonhar continuamente, vendo a cada dia as transformações que vivenciamos e que podemos proporcionar e percebendo que podemos construir – para e com as pessoas – experiências em diversos campos do conhecimento. Desenvolver projetos que nos colocam novamente em contato com a educação em que acreditamos; conhecer iniciativas sociais que realizam trabalhos de impacto; saber que existe moeda social em territórios periféricos, que auxiliam no desenvolvimento local e geram riqueza dentro das comunidades; desenvolver mapeamentos que ampliam nosso olhar e nos fazem perceber que não estamos sós e que somos muitos, de verdade! Saber que artesãos, artistas, educadores, líderes comunitários, colegas do Sesc que atuam na área de Valorização Social estão também nesse sonho.

Mas não nos deixemos levar para uma ideia romantizada de que encontramos o modelo perfeito para nossa sociedade atual. Não podemos ficar descolados de reflexões e críticas, que possam levar a novas visões de mundo. Bauman, sociólogo polonês, dizia que passamos no século 20 a viver em uma sociedade de consumo e, com isso, também passamos pelo processo de fragmentação da vida humana e deixamos de pensar em termos de comunidade. Sobre o universo do trabalho, afirma que não existe mais o conceito tradicional de proletariado. Emerge o “precariado”. Termo que Bauman usou para se referir a pessoas cada vez mais escolarizadas, mas com empregos precários e instáveis. “Agora a luta não é de classes, mas de cada pessoa com a sociedade...”.

Reflexões desse tipo são fundamentais para entendermos melhor nossa sociedade e empreendermos propostas que possam contribuir para o desenvolvimento humano, alinhadas com as necessidades e potências que existem em cada indivíduo.

Que felicidade poder dividir isso com os outros, apresentando agora em novembro uma ação em rede que tem por objetivo visibilizar diversas ações sociais voltadas para a inclusão produtiva! Não por acaso o projeto se chama Nós – Criação, Trabalho e Cidadania, pois é na força do coletivo que as mudanças ocorrem. E como é estimulante saber que NÓS podemos estar juntos, transformando esse mundão, um pouco de cada vez.
 

Mauricio Del Nero é graduado em Educação Física, com especialização em Lazer e Animação Sociocultural, e é assistente na Gerência de Educação para Sustentabilidade e Cidadania.


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