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Pequena ilha musical

A playlist Afroraízes voa até o Caribe — mais especificamente até a pequena ilha da Jamaica — para conhecer as raízes de sua música. Do calypso ao ragga, essa viagem musical apresenta uma trajetória cronológica que permite entender como um país de poucos habitantes contribuiu para a criação de uma sonoridade universal e, ao mesmo tempo, tão associada ao local.

A primeira transmissão de rádio na Jamaica ocorreu há 80 anos, em 1939, com o mundo à beira da Segunda Guerra Mundial. Os serviços de informação dominavam as ondas que chegavam aos poucos aparelhos da ilha, mas algumas rádios comerciais já veiculavam canções. Após o fim da guerra, o rádio se espalhou pela Jamaica tornando-se irradiador de ideias e de entretenimento de massa. Nessa época, pela proximidade geográfica, muitos jamaicanos sintonizavam rádios da costa sudeste dos Estados Unidos. Artistas que faziam sucesso nas emissoras de Nova Orleans, como Fats Domino, Barbie Gaye, Rosco Gordon e Louis Jordan, viraram referência sonora para artistas da ilha.

Rapidamente surgiram os Sound Systems, coletivos de pessoas ligadas ao universo da música em torno dos quais os ouvintes se organizavam para conhecer as novidades vindas de fora. Os sound systems foram importantíssimos para o desenvolvimento da música jamaicana: além de serem um negócio lucrativo, propagavam sons e juntavam cabeças a fim de produzir coisas em comum. Com o declínio da cena de rhythm & blues nos Estados Unidos, os produtores locais passaram a investir em artistas da recém constituída cena de Kingston. O resto é história.

Em geral, ordena-se cronologicamente a música jamaicana da seguinte forma: o mento, o calypso jamaicano, o ska, o rocksteady, o reggae e o dub, culminando nos fenômenos mais recentes do dancehall e do ragga.  Claro que nem sempre um precisou desaparecer por completo para o surgimento do outro. A convivência foi o fator essencial que transformou a Jamaica numa usina de ideias músicas, cuja força propulsora atravessou oceanos e conquistou a velha Europa, a Ásia e a América. Artistas como Bob Marley, Sly & Robbie, os Skatalites e Black Uhuru são ouvidos e imitados mundo afora.

A trajetória sonora da música jamaicana, porém, está repleta de precursores, definidores e talentos que não são tão conhecidos; e, longe de uma possível imagem gasta que as diluições alcançaram por aí, há ainda muito por descobrir, seja na própria ilha, seja nos herdeiros espirituais espalhados pelo globo. A seleção de faixas de Afroraízes tenta sintetizar um pouco dessa complexidade de quase seis décadas de produção musical intensa, sem jamais perder de vista a genealogia.

Dê o play e boa viagem!

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Você pode escolher onde escutar: a mesma playlist está disponível no Spotify, no Deezer e agora também na Apple Music: