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Entrevista com Miriam Mehler e Renato Borghi

Foto: Alexandre Nunis.
Foto: Alexandre Nunis.

“Nós somos tão amigos, como irmãos, e olha que já atravessamos tantas coisas juntos...”

Miriam Mehler é atriz de teatro, cinema e TV. Sua trajetória confunde-se com a história do teatro nacional. Dos cerca de 80 trabalhos realizados, muitos marcaram a história do teatro moderno brasileiro, da televisão e do cinema. A atriz, e produtora, entusiasma-se quando fala das mais de 50 peças que encenou.

Renato Borghi é ator e autor brasileiro. Foi fundador, e um dos principais integrantes, do Teatro Oficina, com interpretações memoráveis e papéis marcantes, sempre com irreverência, equilíbrio e sarcasmo, num estilo todo particular.

Miriam e Renato receberam a Revista Mais 60, no Sesc Ipiranga, onde fizeram uma temporada do espetáculo “Romeu e Julieta 80”, e falaram sobre história, carreira e trabalho. 

 

Mais 60: Miriam e Renato vocês poderiam nos contar um pouco sobre suas histórias de vida? Infância, as lembranças dos pais, da cidade de origem...

Miriam: Eu nasci na Espanha e vim pra cá com dois anos e meio de idade, eu tinha uma irmã dois anos e meio mais velha que eu. Ela tinha cinco anos e eu tinha dois e meio e ela foi para o jardim de infância. Minha mãe pediu para o diretor para que eu ficasse lá também, e eu fiquei repetindo aquele jardim da infância até uns seis anos de idade. Lá, sempre havia aquelas festas de fim de ano e eu sempre queria participar, desde titiquinha. Minha mãe me conta, sempre que todo mundo que faltava, eu já estava sabendo e já estava fazendo no lugar, fazia não sei o quê. Eu fui crescendo, e meus pais sempre me levando ao teatro, à dança, à ópera, a tudo quanto era manifestação artística, e eu comecei a ficar encantada. Então, quando ia - dos treze até dezesseis anos mais ou menos - assistir peças lá no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), ficava enlouquecida, aí eu queria porque queria fazer teatro e não tinha jeito. Meu pai é claro, que não deixou, eu tinha que fazer uma faculdade, então, eu tive que mostrar para o meu pai que eu passaria na faculdade, para poder fazer teatro. Com dezoito anos é que eu pude entrar na escola de arte dramática e aí eu fiz os dois ao mesmo tempo. Larguei a faculdade, continuei no teatro, e assim foi, mas eu sempre tive esse encantamento pelas artes, sempre.

Renato: Bom, eu sou filho de brasileira com italiano, então, pelo lado materno, eu tive um convívio muito próximo com o teatro do Rio de Janeiro, na década de 40, que eram as grandes revistas do Walter Pinto, com as vedetes e com os grandes cômicos, como Grande Otelo, Oscarito, aquela gente toda e, ao mesmo tempo, também havia teatro na Cinelândia, que eram as estrelas. Era o teatro do Jaime Costa, da Bibi Ferreira, aquela gente toda. Então, eu, molequinho de cinco, seis anos, já estava vendo essas coisas e pensava: eu quero fazer isso! Mas na minha família não tem ninguém do ramo, ninguém era de teatro, ninguém era ligado ao teatro e eu fiquei com aquele desejo interno. Já pelo lado dos italianos, tinha muita ópera, então eu vi grandes cantores, Renata Tebaldi, Mário de Holanda, que também achava lindo, enfim, o teatro em si, a encenação, era uma coisa que me deixava completamente enlouquecido! Aí cheguei aqui em São Paulo, fui ver o TBC e também pirei, porque eram atores outros, que não aqueles do Rio de Janeiro, que era uma coisa mais popular, e aqui, grandes obras né, Cacilda Becker, Paulo Autran...Eu fiquei enlouquecido com aquilo, fui estudar voz e comecei a cantar e, de repente, minha vizinha me apresentou uma pessoa que disse assim: você está contratado para cantar na boate Cave e fazer um disco, aí eu comecei ensaiar na boate Cave e, também, já estava na faculdade de Direito.

 

Mais60: Você foi cantor profissional?

Renato: Não cheguei a cantar profissionalmente, porque quando estava no meio dos ensaios, abriu um teste com o ator Sérgio Cardoso para fazer o protagonista de “Chá e Simpatia” e a minha professora falou: Vai! - Mas eu não sei nada de teatro! Eu fui, ganhei, e estreei no Rio de Janeiro,
em 1958. 

 

Mais60: Vocês dois entraram na faculdade para fazer o curso de Direito, certo?

Renato: Eu formei na mesma turma que o Zé Celso, nós dois. Se o Zé Celso quiser negar, tem até fotografia dele (risos).

Mais60: Mas você chegou a atuar, a exercer a profissão, Renato?

Renato: Não, só fui buscar o diploma.

 

Mais60: Quando vocês começaram a atuar, sofreram preconceito por serem atores?

Miriam: Não, eu só sofri preconceito do meu pai (risos), mas durante a escola de arte dramática. Nos primeiro anos, embora eu tivesse recebido muitos prêmios, isso já o amaciava um pouco, mas de qualquer maneira, ele não estava muito feliz ainda... Mais tarde, ele ficou. No começo, ele foi muito duro, não queria, achava que aquilo não era pra mim, que eu não podia fazer, que eu devia ter seguido carreira em Direito, era o sonho da vida dele. Ao contrário das outras partes, que queriam que as filhas casassem, ele não, ele queria que a filha tivesse uma profissão. É engraçado, tanto que, na faculdade, tinha cinco mulheres na minha classe, não era nada! Eram cem alunos, cinco mulheres, era uma coisa totalmente discriminada.

Renato: Eu, ao contrário da Miriam, sempre tive uma família completamente maluca. Também, quando eu falei que ganhei o teste pra fazer o “Chá e Simpatia”, eles disseram: - vai, mas volta pra fazer a segunda época, pra terminar a faculdade: tá bom, tá fechado. Eu fui, fiz, e aí voltei, formei o Teatro Oficina na faculdade de Direito, ainda como amador, depois, em 1961, profissionalizamos e lá eu fiquei até 1972, quando saí para uma carreira mais sólida.

 

Mais60: Como vocês se conheceram?

Miriam: Eu entrei em 1962/63, já tinha feito muitas coisas, e aí eu conheci, de fato, o Renato, porque a gente se conhecia de nome, de vista, mas assim de amigos, de colegas de profissão, contracenando, só foi quando eu entrei no “Teatro Oficina” e aí eu fiquei lá quatro anos. Depois, eu tive meu teatro também, que era o Paiol, e nós viajamos juntos, com outra companhia, o Brasil inteiro, com o Othon Bastos, e depois nós resolvemos fazer uma peça juntos e ele dirigiu.

Renato: Eu dirigi o espetáculo “Absurda pessoa.”

Miriam: Nós lançamos no Brasil, ninguém sabia quem éramos.

 

Mais60: Por que vocês acham que deu certo essa parceria?

Renato: Miriam é um talento grande, além de tudo é uma amiga. É muito diferente você representar com um ator que veio só para fazer um papel do que com uma pessoa que é sua, do coração.

Miriam: Eu acho que nós somos tão amigos, sabe, eu amo o Renato como se fosse da minha família, e ele também, como irmãos assim, e olha que nós já atravessamos tantas coisas juntos.

 

Mais60: Como surgiu o projeto Romeu e Julieta 80? Em uma entrevista do diretor Marcelo Nazzarotto, ele diz que há dez anos já pensava nisso...

Miriam: Eu estava trabalhando com ele, com o Marcelo Nazzarotto, fiz uma peça com ele, mas ele falou e eu acho que entrou num ouvido e saiu no outro. E aí, dois anos atrás, ele me convidou para fazer uma palestra, um bate papo lá na Unicamp e eu fui. Ele me trouxe de volta e foi falando, no carro, que gostaria de fazer esse projeto. Imediatamente, eu saí do carro e liguei para o Renato, e aí começou a surgir a ideia, porque até lá, eu confesso, quer dizer, eu falei: Marcelo, eu não me lembro de nada há dez anos. Há há dois anos, eu me lembro muito bem.

Renato: Eu me lembro que ele falou comigo e eu falei: Marcelo como que é? O Romeu tem 15, a Julieta tem 14!? Não, ele disse: vocês têm que fazer com a idade que vocês têm! Mas como? São dois velhos que se encontram para fazer Romeu e Julieta? (eu falei). Ele disse: Não! É a peça de Shakespeare na veia, o texto de Shakespeare e chama Romeu e Julieta 80! Então, ele falou, arrumei uma ideia que pode despertar muito interesse, dois atores de sessenta anos de carreira, com oitenta anos, fazendo Romeu e Julieta, pode ser um apelo, uma coisa interessante. Eu falei: vamos pensar, aí começamos a preparar o campo.
E vocês têm alguma preparação física? Qual é a preparação para o espetáculo?

Renato: A minha preparação é a seguinte: eu sou operado da coluna quatro vezes, então, eu tenho artrodese, quer dizer que tenho parafusos de titânio. Dói, e eu tenho que fazer fisioterapia três vezes por semana.

Miriam: E eu faço uma espécie de ginástica, um pouquinho de musculação, alongamento, eu fazia muito pilates, antes de operar, agora vou voltar a fazer, eu gosto muito de andar, de fazer, sempre gostei.

Renato: E depois, para cada espetáculo, em geral, não sempre, a gente tem, junto com o ensaio, uma preparação física, quer dizer, em várias peças, a gente tem preparação física.

 

Mais60: Miriam, você fundou o “Teatro Paiol” e o Renato, o “Teatro Oficina”. Como foi essa experiência? Vocês sentiram dificuldades? Quais são as dificuldades de um produtor cultural?

Renato: Quando eu comecei, não havia nenhum tipo de auxílio, não havia verbas, patrocínio, essas coisas, tudo muito pouquinho. Na verdade, eu acho que a pessoa que mais colaborou para que a gente construísse um teatro foi a atriz Etty Fraser. Ela é o esteio do “Oficina”, porque a gente saía, eu ia às vezes no fusquinha dela, procurando os grã-finos do Pacaembu, e a gente fazia uma conversa com eles e vendia cadeira cativa, livros, enfim, nós achávamos esses grã-finos todos, e o Teatro Oficina amador fazia também teatro em domicílio, a gente fazia um teatrinho na casa dos grã-finos, na sala, então, a gente entrava pela porta da cozinha, eles davam um cafezinho, a gente entrava, ganhava uma grana que punhana construção do teatro e, depois, cada peça
é uma peça, se desse, deu, e se não desse, estava falido, então era sempre um risco muito grande.

Miriam: Mas tinha uma coisa fantástica, como não tinha patrocínio, a gente pedia dinheiro e empréstimo aos bancos e você acabava sempre pagando, primeiro, que você fazia teatro de terça a domingo, você fazia oito sessões ou nove, e sessões geralmente lotadas, então isso já era uma coisa que você acabava pagando o empréstimo.

Renato: O que mais importava era a bilheteria.

Miriam: Mas, na época, você vivia da bilheteria, e se por acaso acontecia que uma peça fosse um fracasso total, o que você fazia? Você ia viajar pelo interior e pelo Brasil. Naquela época, você ganhava muito dinheiro com as peças, você ganhava e você conseguia trazer de volta. Eu me lembro de quando estava acabando de sair de um fracasso horrível, eu tirei a peça em três semanas, porque não tinha como sustentar com dez pessoas, então eu tirei. Nisso veio o Othon Bastos para remontar a peça do Guarnieri - “Um grito parado no ar” - viajando pelo interior do Brasil.

Renato: Foram 45 cidades do interior e todas as capitais do Brasil.

Miriam: Eu fundei o teatro com o ator Perry Sales, mas logo depois ele foi embora, a gente se separou, ele ficou dono, mas, naquela época, você não dependia de patrocínio, que era uma coisa fantástica, hoje em dia você tem que entrar numa lei e você tem que depender de patrocínio.

 

Mais60: Miriam, como que foi trabalhar no espetáculo “Última sessão”?

Miriam: Incrível, tanto em São Paulo quanto no Rio, aliás, eu tenho tido muita sorte ultimamente,
a “Última sessão” foi um elenco incrível.

 

Mais60: E o texto fala sobre envelhecimento e as relações que construímos durante a vida...

Miriam: O texto também uma delícia, uma comédia, depois, no Rio também, um pessoal maravilhoso, os atores ótimos do Rio, depois, eu fiz uma outra peça, “Fora do Mundo”, também com um elenco muito gostoso, eu ganhei até o Shell,aquela coisa toda, e depois da “Última sessão”, do Rio é que a gente veio fazer essa aqui (Romeu e Julieta 80) com um elenco super! São mais dois
atores, fora nós dois. É tão bom você fazer com gente amada, que você não pode imaginar!

 

Mais60: Essa carreira, como outras, tem “altos e baixos”?

Renato: Realmente, eu nunca consegui ter dinheiro suficiente para dizer: agora, tudo bem. Sempre fui meio pronto, com um plano a seguir, plano B, como é que ia ser, quer dizer, a minha vida foi sempre assim de armar coisas para não parar.
Miriam: Vou dizer uma coisa, na vida, eu acho a atriz, o ator, nós convivemos com muitas coisas, eu já convivi com fases horríveis da vida, de ter que vender livros e aquelas coisas horríveis...Eu pensava: “você vai envelhecer e vai ver como é que vai ser horrível e, graças a Deus, não foi!”

 

Mais60: Fale mais sobre isso, o que é viver essa velhice bem?

Miriam: Você pode ter mil rugas, eu tenho mil manchas, mas você pode ter papéis que condizem com sua idade, um pouco menos ou um pouco mais, porque no teatro não tem importância nenhuma e isso te dá uma margem de trabalhar muito boa. Eu não esperava que nesses últimos anos eu tivesse tanto convite como estou tendo agora, levanto as mãos para o céu, mas eu não sei se vai continuar acontecendo, se Deus quiser! O teatro oferece oportunidades de atuação, independente da idade?

Miriam: O preconceito não tem espaço, você pode ser negro, branco, africano, judeu, mulçumano, não importa isso... não importa, velho, moço, se você é bom, claro, tem que ter o fator sorte, mas, de qualquer maneira, se você é bom, você consegue. O teatro, exatamente, eu acho que ele é universal.

 

Mais60: A arte revigora?

Miriam: Vou dizer uma coisa, quando eu não estou trabalhando, eu fico mal. Eu faço muita coisa na vida, quer dizer, não é que eu fico na minha casa parada, eu faço muita coisa, ando o dia inteiro na rua, não fico mais só à noite, estou mais velha, já não aguento mais (risos), mas a arte revigora muito.

Renato: É claro! Faz um bem enorme para a gente! Dá um sentido de vida, fisicamente também é revigorante, é interessante.

 

Mais60: Renato, como foi reviver “O Rei da Vela”?

Renato: Olha, por incrível que pareça, cinquenta anos depois da estreia, eu fui fazer os ensaios e percebi que dizia pedaços inteiros do papel, ele nunca saiu de mim, o “Abelardo 1º”, de Oswald de Andrade, faz parte do Renato, então, foi uma coisa, assim, deliciosa.

Miriam: E vou dizer, não é porque eu sou puxa-saco dele nada, porque eu não sou, ao contrário, eu falo coisas, mas ele estava deslumbrante, perfeito! Até à véspera da estreia, o Renato achava que ia ser um horror, ele me ligava e dizia: - Miriam, oh! Eu não tô aguentando, está péssimo, está horrível! Eu disse: meu Deus do céu, que coisa! Mas olha, foi um deslumbre, foi uma coisa maravilhosa, foi fantástico.

Renato: O público me salvou, porque quando eu entrei em cena - o “Rei da Vela” com Renato Borghi - eu faço assim pra começar a peça, fui aplaudido cinco minutos sem parar.

Miriam: Eu acho que foi fantástico, posso dizer como espectadora, porque eu estava lá, sentadinha, foi uma coisa maravilhosa ver o Renato em cena, foi único!

 

Mais60: E pensando daqui para frente, quais são os próximos projetos?

Miriam: Ele (Renato) tem um projeto. Renato Já está ocorrendo o ensaio, com vinte pessoas, é uma produção que chama Molière, não é do Molière, é a história sobre a trupe do Molière, é uma guerra do Molière pelo patrocínio de Luiz IV, é uma coisa que tem tudo a ver com a gente. Um cardeal, que quer acabar com o teatro, manda incendiar o teatro do Molière, quer acabar com a tragédia, com a comédia, então é uma coisa muito atual, tem muita relação com o momento que a gente está vivendo agora [a peça estreou em abril no Teatro do SESI, para uma temporada de três meses]. Nossa, que incrível! E a Miriam?
Miriam:  Eu ainda não tenho alguma coisa, assim, quer dizer, tenho algumas coisas, mas eu não sei, eu estou ainda curtindo muito fazer esse “Romeu e Julieta”, porque é uma coisa para mim que ainda não acabou, sabe como é que é? Ainda está aqui, ainda quero.

Renato: "Romeu e Julieta” é uma peça que pode correr o Brasil todo, correr o interior todo, a gente pode realmente aproveitar essa peça ao máximo e eu tenho vontade de fazer, porque é muito agradável. A peça apresenta uma “transgressão”, não vou contar aqui, mas ela propõe uma subversão né!?

Renato: Eu sempre fui transgressor, acho que é o cerne na minha carreira, na minha definição como ator, é mais ou menos assim, uma pessoa que não tem preconceito e vai em frente e passa por cima daquilo que é convencionalmente o correto. Eu nunca fui correto, a minha altura não é correta, eu sempre fui pequeno, insuficiente fisicamente para os papéis, eu sempre fiz coisas que não podia fazer, enfim, eu não tenho esse tipo de problema não, eu acho que a minha definição é realmente ser um pouco transgressor.

Miriam: Eu não sei, eu tenho impressão de que eu topo mais ou menos assim, quando eu me apaixono por alguma coisa, eu vou em frente, seja teatro, seja homem, seja qualquer coisa (risos), então, esse é meu mote, eu acho que eu adoro viver e viver assim né, com saúde, porque sem saúde não existe né, quer dizer, se eu gosto da ideia, eu vou,não quero saber, Eu fiz “O diário de Anne Frank”, tinha 42 anos, é uma transgressão louca, quarenta e dois, e eu parecia ter uns catorze anos no palco, mas, na vida real, claro que não, então, eu nunca vou me esquecer, a criançada ficava doida com a própria Anne, com o espetáculo, etc.
É diferente interpretar na televisão e no teatro? Quais são essas diferenças, o que vocês acham?

Renato: Eu gravei algumas poucas novelas, não tenho uma carreira de televisão, a Miriam, sim, tem uma carreira muito maior.

Miriam: Eu não acho ruim, eu acho bom, gostoso, mas eu acho, por exemplo, quando você é protagonista, é um exercício bom para o ator, mas para o ator de teatro, que vai fazer televisão, é legal, porque aí você aprende a rapidez, agora, para o ator de televisão, que vai fazer teatro pela primeira vez, apanha demais, porque ele não está acostumado com a profundidade, com a coisa de dar e receber... Na minha época – eu odeio falar na minha época porque eu acho que a gente está vivendo é agora, mas, enfim – antigamente, quando se fazia televisão não tinha todas essas coisas, essa parafernália toda, então, você falava normalmente, agora, você tem que falar sussurrando, o que é isso!?

Miriam: Você não escuta nada. Eu acho que esse naturalismo é excessivo, porque é um naturalismo total e absoluto. Isto prejudica o ator. Agora, eu não sei fazer tão bem quanto eles, não sei, claro que não, porque anos atrás você não fazia desse jeito, mas eu acho que a televisão é um bom exercício, não tenha dúvida nenhuma.

Renato: Eu acho interessante, porque é uma espécie de laboratório, você pega o tema e aí tem que desenvolver na hora, e aquilo, naturalmente, te leva a fazer um exercício quase que de um improviso interno, o que é uma coisa muito curiosa né!?

Renato: No palco, quando tenho “lapso” eu me seguro na cortina e desmaio (risos).

Miriam: Outro dia eu pensei nisso, porque me deu um lapso enorme, mas eu não conseguia nem pensar nisso, eu falei – como é que eu vou sair dessa, porque na hora você só pensa como é que você vai sair, quando eu saí de cena eu falei, - por que eu não desmaiei? (risos).