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Hip Hop na área

 

Chamado de Pai do Hip Hop nacional, o dançarino Nelson Triunfo - o Nelsão
consagrou o break dance no Brasil

 

MANIFESTAÇÃO ARTÍSTICA, CULTURAL E POLÍTICA GANHA MAIS FORÇA COM NOVOS PROTAGONISTAS E ESPAÇOS DE EXPRESSÃO.

 

Quatro são os elementos que fundamentam o hip hop: voz/letra (cantada pelo mestre de cerimônia, o MC); música (comandada pelo disc jockey, o DJ); dança (B-Boys e B-Girls); e artes visuais (grafite). Essa sucinta definição, no entanto, passa longe de dar a real dimensão de sua potência como expressão cultural. Arte mobilizadora, manifestação político-social, movimento emancipador. “Começamos nos guetos das grandes capitais / Movimento dos pretos e de seus ideais / Somos filhos de Ketu somos originais / Hip hop é feito com tempero de paz / Dançamos por aí, grafitamos murais / Lá eles têm Jay-Z aqui tem Racionais / Pode ser MC, se não for, tanto faz / O importante é sentir...”, define o rapper Rael, da atual geração, em uma de suas composições.

Criado em meio a jovens descendentes da Diáspora Africana, de origem afro-americana, caribenha e hispânica em bairros majoritariamente negros e latinos na cidade de Nova York, no final dos anos 1960, o hip hop foi conquistar a juventude brasileira duas décadas depois. Nas periferias, a garotada passou a criar rimas contra a desigualdade, o desemprego, a violência e outras discrepâncias sociais. Passados 30 anos de história, o hip hop nacional expande seu alcance na sociedade, ganhando novos porta-vozes e reivindicações.

Naquele tempo

O hip hop desembarcou no Brasil pelo viés musical: o rap. Esse era o som tocado em bailes negros dos anos 1980. Não demorou para que ele se manifestasse no Centro de São Paulo – a exemplo de locais como a Rua 24 de Maio e a Praça Roosevelt. Grupos, também chamados de “gangues” ou “crews”, de break dance dividiam a atenção do público com as letras cadenciadas dos rappers, as batidas dos DJs e os desenhos dos grafiteiros.

“Todo sábado era dia de Batalha! As gangues de break se aperfeiçoavam com uma rapidez impressionante. (...) A estação São Bento de metrô foi o território conquistado para que a fusão entre os quatro elementos tradicionais e estruturais acontecesse. (...) Grafiteiros, rappers e DJs construíam suas primeiras obras”, descreve o pesquisador Ruberval Marcelo Oliveira coautor do livro Hip Hop Cultura de Rua (edição esgotada). Conhecido como ¿MCWho?, Ruberval foi protagonista e testemunha das primeiras manifestações do hip hop em São Paulo, tanto como rapper do grupo O Credo quanto como coprodutor do LP Hip Hop Cultura de Rua – primeira coletânea brasileira de rap, lançada em 1988.

Já nos anos 1990, houve uma expansão do movimento e sua descentralização com a criação de “posses”, que eram as organizações que agregavam adeptos dos quatro elementos do hip hop em bairros mais periféricos. É o que explica o pesquisador nas áreas de relações raciais, cultura, juventude e hip hop Márcio Macedo, doutorando em Sociologia pela The New School for Social Research. “As posses passam a ter um papel político ao desenvolverem trabalhos sociais no seu território de origem. Nesse período, também ocorre uma aproximação com o movimento negro por conta da repressão policial que vários adeptos do movimento sofriam”, diz Macedo.

Novas vozes, novos discursos

De 2000 para cá, o hip hop passa a se organizar politicamente, fazendo parte de partidos e atuando, de forma organizada, em eventos como o Fórum Social Mundial. Concomitantemente, o rap estreitou relações com o mercado mainstream de música, “com o surgimento de artistas que criam identificação com todas as classes sociais”, observa Macedo. “Há também uma maior presença de mulheres e da comunidade LGBTT dentro do movimento, algo percebido pela maior diversidade de MCs existente”, complementa.

Ou seja, se antes o cenário era, originalmente, comandado por homens, as mulheres conseguiram, aos poucos, ser ouvidas. Graças a precursoras como a rapper Dina Di, saíram dos únicos papéis que lhes eram reservados – back vocals e B-Girls – para os holofotes. O resultado é um rol de jovens artistas – a exemplo de Tássia Reis, Karol Conká, MC Flora Matos, Lurdez da Luz, Dryca Ryzzo e Luana Hansen, entre outras – destacando-se no hip hop e levando ao público novas temáticas.

“Empoderamento feminino, equidade de salários, liberdade de expressão, representatividade da mulher negra e da mulher indígena são algumas delas. A questão da sexualidade e da identidade de gênero também são atuais. Hoje, não tenho mais a identidade de gênero feminino”, conta o rapper Tiely Queen, que se considera o primeiro homem transexual a cantar rap no país. Curador da Mostra Hip Hop de Cinema, realizada em praças e escolas públicas do estado, Tiely ainda é fundador da Associação Hip Hop Mulher, que deu os primeiros passos em 2007.

“Nosso objetivo é trabalhar com pesquisa e formação a fim de dar suporte às mulheres que querem trabalhar a cultura hip hop, além de trazer assuntos pertinentes para o debate – como sexualidade e família – para que elas tenham material para produzir e fazer seus próprios projetos. Vamos aonde elas nos chamam”, explica. Com este objetivo, a associação realiza um trabalho itinerante que instrumentaliza estas novas vozes.
Entre as ações empreendidas estão o CD Realidade: fruto do projeto Mulheres do Hip Hop Cantam Realidade, de 2007, que teve apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, e a cartilha Hip Hop Mulher Conquistando Espaços, de 2010, para a ONU Mulheres, com textos sobre direitos e questões de gênero. Já o Encontro Hip Hop Mulher teve, em sua primeira edição, há oito anos, participantes de várias cidades de São Paulo, de outros 10 estados brasileiros e também de países como Estados Unidos, Canadá, México e Moçambique.

Ao unir todas essas vozes, “esse fenômeno artístico que funciona como um espelho crítico da sociedade”, segundo Márcio Macedo, continua cativando diferentes públicos com causas e reivindicação próprias. Daqui pra frente? O pesquisador arrisca uma previsão: “O futuro e a existência do hip hop, como de qualquer movimento artístico, depende da capacidade dele de se reinventar e de continuar encantando, divertindo, educando e fazendo sentido para as novas gerações de adeptos. Se isso ocorrer, ele vai existir durante muito tempo.”

 

MANIFESTAÇÃO PLURAL

 

DANÇA

3 ao Quadrado
Nove B-Boys batalham ao som de um DJ, animados por um MC, realizando movimentos acrobáticos que serão avaliados pela plateia. Em seguida, o público pode experimentar os passos em uma jam com os artistas, como numa festa de hip hop. 

(Em Cartaz no Bom Retiro, dia 5 de novembro)

 

Dança por Correio – com Zumb.boys
No espetáculo, o grupo Zumb.boys busca interferir nos fluxos cotidianos e na paisagem urbana fazendo com que o público escolha uma carta. A partir dessa escolha será determinado o que será dançado e o intérprete traduzirá os sentimentos que a carta expressou.

(Em Cartaz em Bauru, dia 19 de novembro)

Foto: Elmo Sellitti

 

TEATRO

Farinha Com Açúcar ou Sobre a Sustança de Meninos e Homens
O Coletivo Negro apresenta essa peça-show, tributo aos Racionais MC´s, inspirada em relatos reais e na produção cultural de homens negros. 

(Em Cartaz em Ribeirão Preto, dia 1 de novembro | Bom Retiro, dia 10 de novembro | Presidente Prudente, dia 17 de novembro)

Foto: Andreu Morer

 

MÚSICA

Thaíde
Ícone na cultura hip hop, Thaíde apresenta Vamo que Vamo Que o Show Não Pode Parar.

(Em Cartaz no Bom Retiro, dia 15 de novembro)

Foto: Marcelo Costa

 

GOG
Um dos pioneiros na cena nacional do hip hop, GOG vem de Brasília para São Paulo apresentar o 11º disco: Mumm-Ra High Tech. Neste novo trabalho, ele alia batidas eletrônicas ao rap.

(Em Cartaz no Ipiranga, dia 11 de novembro)

Foto: Divulgação


Rimas e Melodias
Show do coletivo formado por Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Stefanie, Tássia Reis, Tatiana Bispo e DJ Mayra com a proposta de fortalecer a presença feminina e negra no hip hop.

(Em Cartaz no Ipiranga, dia 15 de novembro)

Foto: Nice Lima

 

Rincon Sapiência e Banda
O cantor apresenta o álbum de estreia – Galanga Livre –, uma imersão no universo da música africana, com influências do rap, do coco, do afrobeat, entre outros ritmos.

(Em Cartaz no Itaquera, dia 20 de novembro)

Foto: Paulo Cavalcanti


Pavilhão 9
Depois de um hiato de 12 anos, o Pavilhão 9 volta à cena com um novo trabalho: Antes Durante Depois. A banda teve fama e prestígio na década de 1990, no universo do hip hop, pelas rimas corrosivas sobre marginalizados pela sociedade.

(Em Cartaz no Pompeia, dias 10 e 11 de novembro)

Foto: Divulgação

 

POESIA

Slam SP – Campeonato Paulista de Poesia Falada
O SLAM SP – Campeonato Paulista de Poesia Falada, é composto de batalhas de poesia falada, acontecem em São Paulo e reúnem, em dois dias de atividades, representantes de mais de 30 slams da cidade. Esse campeonato também acontecerá em outros dez estados brasileiros, como etapas classificatórias dos poetas que participarão em dezembro do SLAM BR – Campeonato Nacional de Poesia Falada. De onde sairá o representante do Brasil na Copa do Mundo de Slam da França, do qual já participaram seis poetas brasileiros desde 2010. 

(Em Cartaz no 24 de Maio, dias 3 e 4 de novembro)

 

OFICINA

Fazendo Rap em Casa – Batidas e Rimas
Utilizando programas gratuitos e disponíveis na internet, a oficina ministrada pelo jornalista Fabio Bridges, educador da unidade, ensina o público a criar as próprias batidas e gravar suas rimas.

(Em Cartaz no Santo Amaro, de 8 e 29 de novembro)

 

 

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