Postado em
As donas da voz
As donas da voz
Iniciativas colaborativas na internet repercutem e expandem redes de mobilização entre mulheres
Na internet, em redes sociais como Facebook e Twitter, as vozes de mulheres têm reverberado e ampliado seu alcance. Multiplicam-se grupos formados por dez, 15, até 20 mil participantes, que tratam de temas diversos, como indicação profissional, dicas de finanças, troca de experiências, apoio para viagens, hospedagem colaborativa e incentivo ao trabalho de profissionais autônomas. Essas iniciativas têm em comum a repercussão de temas presentes na sociedade contemporânea: o protagonismo e o empoderamento feminino, que se manifestam em campanhas que extrapolam a própria internet.
Toda essa mobilização indica que as redes sociais vêm sendo um importante espaço para participação no debate público, aponta a pesquisadora Natalia Neri, líder da linha de pesquisa Internet e Gênero, Raça e Outros Marcadores Sociais no InternetLab – Pesquisa em Direito e Tecnologia: “A possibilidade de criação de grupos privados, mas também de páginas e hashtags, tem permitido que vozes se encontrem e se amplifiquem. A amplificação das vozes, por sua vez, mostra que essa apropriação da tecnologia é relevante porque também tem impacto fora dela, pode gerar ou potencializar mobilizações em espaços públicos e visibilizar pautas pouco comuns nos meios de comunicação tradicionais”.
Do virtual para o real
No caso da produtora Camila Mazzini, criadora de um dos grupos de indicação de trabalho no Facebook, a ideia surgiu quando começou a buscar uma mulher para realizar um reparo na torneira da pia de sua casa. Inicialmente criado para reunir mulheres que prestam esse tipo de serviço, o grupo logo se expandiu para diversas áreas profissionais e hoje tem mais de 11 mil participantes, que entram por indicação umas das outras. “Uma amiga está fazendo um filme e conseguiu metade dos serviços de que precisava entre as integrantes”, conta Camila.
A auxiliar de estilo Samantha Alves, criadora do grupo Compro de Quem faz das Minas-São Paulo, vê iniciativas do tipo como uma maneira de incentivar e divulgar o trabalho de profissionais autônomas, mas também de fortalecer o papel da mulher na sociedade. O grupo tem mais de 13 mil integrantes, que anunciam desde roupas até comida vegetariana. “Além de valorizar o trabalho de outras mulheres, criamos uma rede de companheirismo que muitas vezes se transporta para além do mundo virtual”, comenta.
A advogada Bruna Rangel, integrante do coletivo Não me Kahlo e uma das autoras do livro #Meuamigosecreto – Feminismo Além das Redes (Edições de Janeiro, 2016), percebe uma dinâmica entre as redes de colaboração dentro e fora da internet. “Existe uma rede de apoio se formando. Eu mesma participo de diversos grupos assim, desde mulheres que procuram dicas de viagens até se hospedar na casa de outras, indicação de profissionais e cuidados dos filhos umas das outras”, relata. “Em um contexto social que nos tira, enquanto mulheres, de espaços formais de poder e decisão, a internet abre a perspectiva de alcançarmos um público que não conseguiríamos. Por exemplo, existem poucas mulheres colunistas na mídia tradicional, mas podemos ter um blog. Então, a gente acaba criando na internet nosso próprio espaço, e nesse espaço acabamos até pautando questões nas mídias tradicionais, como ocorreu com as hashtags.”
Feminismo na rede
Esse perfil de colaboração em grupo historicamente faz parte dos movimentos feministas, analisa a professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Maíra Kubik. “Na segunda onda do feminismo um momento muito importante tinha relação com as rodas de conversa. A internet é uma ferramenta que possibilita que essas redes de troca de experiência se amplifiquem e se dinamizem”, observa.
Um dos exemplos de mobilização que chamaram a atenção no último ano, a hashtag #primeiroassédio foi compartilhada 82 mil vezes em menos de uma semana e reuniu no Twitter e no Facebook relatos de situações de assédio. “Hashtags como o #primeiroassédio demonstram que as mulheres não estão sozinhas em suas experiências, que são experiências que decorrem de uma configuração social de violência contra elas”, avalia Maíra. A professora considera que essas iniciativas têm sido bastante eficientes. “Há também uma saída dessas mobilizações da internet para as ruas. A partir do compartilhamento de experiências, é possível conjuntamente encontrar propostas e formas de mobilização”, acrescenta. “Esses encontros permitem não só uma troca de experiências, mas também o estabelecimento de alianças e discussões coletivas sobre o lugar onde as mulheres estão e o lugar onde podem e querem estar na sociedade.”
#empoderamento
Hashtags levam a público o compartilhamento de experiências pessoais
Hashtags são palavras-chaves que, utilizadas junto do símbolo #, tornam possível categorizar e reunir conteúdos publicados em redes sociais. Nos últimos anos, diversas campanhas têm utilizado esse recurso para mobilizar pessoas a compartilhar mensagens e depoimentos sobre determinadas causas. Conheça as hashtags que marcaram a discussão sobre empoderamento feminino:
#meuprimeiroassédio
A hashtag ganhou a web brasileira em outubro de 2015, após comentários de assédio nas redes sociais em relação à participante de um reality show de culinária infantil. Assim, mulheres compartilharam histórias da primeira vez em que passaram por uma situação de assédio sexual. Em menos de uma semana, a hashtag já havia sido replicada mais de 82 mil vezes, e a campanha se expandiu para o exterior, com a hashtag #firstharassment.
#agoraéquesãoelas
Após a adesão da hashtag #primeiroassédio, a iniciativa propunha que colunistas homens cedessem seu espaço para mulheres, chamando a atenção para a falta de vozes feministas em colunas de jornais, revistas e sites.
#chegadefiufiu
Criada pelo projeto Think Olga em 2013, a campanha buscava o compartilhamento de histórias de mulheres que passam por situação de assédio sexual em espaços públicos. A campanha realizou ainda pesquisa com quase 8 mil entrevistadas e revelou que 99,6% delas já haviam sofrido alguma forma de assédio.
#meuamigosecreto
No fim de 2015, em referência às brincadeiras de amigo secreto que ocorrem nesta época do ano, a hashtag surgiu para denunciar comportamentos machistas de pessoas próximas, sem revelar nomes.
#vamosjuntas
Além da hashtag, uma página no Facebook com o mesmo nome encoraja a união de mulheres que se sentem inseguras em andar sozinhas nas ruas ou em transportes públicos, incentivando que procurem a companhia de outras mulheres que podem estar na mesma situação para realizar percursos juntas.
#askhermore
Traduzida do inglês como “pergunte mais a ela”, a campanha criada pelo The Representation Project ganhou visibilidade durante a premiação do Oscar de 2015, incentivando que no tapete vermelho as atrizes de Hollywood fossem questionadas sobre seus trabalhos, e não apenas sobre seus vestidos, como costuma acontecer.
Mulheres no comando
Atividades têm como foco a visibilidade feminina na cultura e na arte
Damas da Voz
Sesc Campo Limpo | 1/10
Cantoras apresentam apurado repertório das vozes femininas nacionais e internacionais, exibindo diferentes estilos e timbres. Em outubro, Carolina Soares (foto) presta tributo a Clara Nunes.
Mais informações no portal Sesc em São Paulo.
Mulheres na música: uma história sob o ponto de vista do gênero
Centro de Pesquisa e Formação | 27/10 a 24/11
Ministrado por Camila Frésca, doutora em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), o curso aborda a presença feminina na música, desde a abadessa Hildegard von Bingen, passando por intérpretes e compositoras da Renascença à modernidade e chegando até a dificuldade das grandes orquestras, já no século 20, em aceitar mulheres em suas fileiras.
Mais informações no portal Sesc em São Paulo.
Escritoras na Boca de Cena
Sesc Consolação | 17/10 a 8/11
O projeto destaca a presença da literatura feminina no palco, com espetáculos baseados na obra e vida de grandes escritoras. Neste mês, acontece o espetáculo O Coração dos Homens – adaptação do poema da autora brasileira Verônica Stigger.
Mais informações no portal Sesc em São Paulo.
Festival de Turismo Mulheres no Mapa
Diversas unidades | 21/10 a 6/11
Diversas unidades do Sesc recebem roteiros, bate-papos e intervenções artísticas que destacam o protagonismo feminino nas atividades turísticas.
Mais informações no portal Sesc em São Paulo.
Mostra de Criadoras em Moda: Mulheres Afro-Latinas
Sesc Interlagos
Em sua terceira edição, a mostra discute o tema Geração e Ancestralidade. Como parte da programação, até novembro a unidade recebe a exposição Tecituras de Tempo & Identidade, com fotografias feitas por Daisy Serena de criadoras dos ateliês Xongani, Abayomi, África Plus Size Brasil e Cynthia Mariah.
Mais informações no portal Sesc em São Paulo.
Galeria de fotos:
::