O brilho das Pastoras do Rosário
Na astronomia, nebulosas são “berços de estrelas”, grandes nuvens formadas por gases e poeiras. Elas dançam no tempo e no espaço, conectando passado, presente e futuro assim como Carla Lopes, Dona Margarida, Lara de Jesus, Majestade Sol, Marlei Madalena, Rainha Neuza, Sandrinha do Rosário e Wilma Ayó, as Pastoras do Rosário, que lançam pelo Selo Sesc seu primeiro disco: Da Nebulosa ao Brilho.
O grupo foi formado em 2017 na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, na zona leste de São Paulo, construída pela antiga Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, descendentes africanos mantidos em regime de escravidão no século XVIII. O espaço, tombado pelo CONDEPHAAT desde 1982, é um patrimônio da luta das culturas populares afro-brasileiras e segue sendo foco de resistência.
Transcendendo suas paredes, o grupo se inspirou na tradição das pastoras do samba e agregou a essas rodas a influência de congadas e moçambiques – primeiro com participações especiais, como as feitas com Alessandra Leão (projeto GomaLaca), Emicida, Mateus Aleluia e agora com um disco autoral. O trabalho tem direção geral e artística de Renato Gama e conta com um repertório musical desenvolvido especialmente para elas, com 14 composições inéditas e uma releitura de Carolina Maria de Jesus, além de participações especiais de Fabiana Cozza, Izzy Gordon, Lia de Itamaracá, Luedji Luna, Carlos Casemiro, Sérgio Pererê, Tita Reis e Jongo de Guaianás.
Nas letras, mensagens de irmandade, força, resiliência, empoderamento e respeito à ancestralidade, a exemplo dos versos de “Contas do Rosário”, de Tita Reis com participação de Fabiana Cozza (“Conte comigo irmã / Vamos juntos fazer a conta / Sempre mais fica bonito / Um Rosário de muitas contas”), “Nascedouro”, de Lucia Maria e Renato Gama com participação de Luedji Luna (“Retirar o peso / Desfazer o trauma / Reconhecer o corpo / Afinado com a alma”), “Mãe preta”, de Ronaldo Gama com participação de Izzy Gordon (“Mãe preta que mandou dizer / Mãe Preta mandou ensinar / Que o nosso batuque é a força / Caminho pra gente pisar / Pra fortalecer / Pra purificar”) e “Vedete da favela”, com texto de Carolina Maria de Jesus (“Salve ela, ô / Salve ela / Salve ela / A vedete da favela”).
A arte do disco é assinada pelo artista Guinho Nascimento e destaca os adornos, colares e jóias de cada uma, com seu figurino e fundamentos. Mais que isso, as saúda: “O disco tem essa mão do ancestral, essa criança que vai recebendo a semente. Às vezes a gente fala de ancestralidade como um lugar mítico e distante, pouca gente fala de ancestralidade viva e se relaciona com ela. No meu trabalho eu questiono muito como a gente está tratando o nosso ancestral em vida. A gente pára para ouvi-los? Esse é um lugar de retratar, honrar e louvar essas mulheres que têm história, importância e contribuição gigantesca na vida de todos”, aponta ele.
O primeiro passo desse lançamento foi a chegada do single Nascedouro, com a voz das Pastoras junto com a de Luedji Luna. A celebração desse grande momento das estrelas do Rosário acontecerá em dois shows no Sesc Vila Mariana nos dias 14 e 15 de outubro.
Como clama a escritora Selma Maria no encarte do disco, “Um salve a todas as pretas mulheres do passado e do futuro!”.
O álbum Da Nebulosa ao Brilho está disponível nas principais plataformas de streaming, no Sesc Digital e, em CD, nas Lojas Sesc.