Sesc SP

postado em 13/07/2023

Hermínio Bello de Carvalho cataventando

Foto: Philippe Leon Anastassakis
Foto: Philippe Leon Anastassakis

Escritor, compositor, letrista, poeta, apresentador e produtor, Hermínio Bello de Carvalho celebra mais de 70 anos de carreira com lançamento de álbum. O disco Cataventos chega em formato digital pelo Selo Sesc às principais plataformas de áudio e ao Sesc Digital.

HBC, como é carinhosamente chamado, foi parceiro de Cartola, Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola, Pixinguinha. Fez letras para choros de Jacob do Bandolim e foi cantado por Chico Buarque, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Gal Costa, Ney Matogrosso. Com direção de Helton Altman e produção musical e arranjos de Lucas Porto, Cataventos conta com sambas, sambas-canção e uma valsa em 15 faixas.

Parceiros de longa data juntam-se a novos expoentes neste álbum. Assim, mais uma vez, Hermínio Bello de Carvalho coloca em pé de igualdade artistas consagrados e revelações da música brasileira. Segundo Lucas Porto, parceiro e amigo desde 2007 quando se conheceram na Escola Portátil de Música no Rio de Janeiro, a lista de composições é “um prato cheio para qualquer arranjador, pelo contraste natural entre músicas inéditas recentes e outras com mais de 30 anos que foram redescobertas, como ‘Labaredas’, cantada pelo Ayrton Montarroyos, uma parceria de Hermínio com Cartola que foi gravada apenas uma vez na década de 1980”.

As 15 faixas carregam as vozes de Alaíde Costa, Alfredo Del-Penho, Ayrton Montarroyos, Áurea Martins, Gabi Buarque, Giulia Drummond, Joyce Moreno, Maria Bethânia, Marcos Sacramento, Paulinho da Viola, Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Vidal Assis e Zé Renato. Ainda, abrindo e fechando o trabalho, a atriz Fernanda Montenegro declama dois poemas. “Fica evidente que este é um disco de música e poesia, com a primeira e a últimas faixas dando-nos o privilégio da voz de Fernanda Montenegro. Nunca, nunca mesmo, poderia imaginar que ela um dia estaria recitando um poema meu”, conta Hermínio.

Dentre as canções presentes no disco, vale fazer alguns destaques. “Valsa da Solidão” foi a primeira música feita com Paulinho da Viola, mas só agora foi gravada pelo artista. Já “Cobras e Lagartos”, a mais exitosa parceria com a compositora Sueli Costa, ganhou uma homenagem de Maria Bethânia, que a gravou com arranjo e violões de João Camarero. Entre as inéditas, destacam-se “Louva-a-Deus”, parceria com Vidal Assis e Luis Barcelos na voz de Joyce Moreno e Alfredo Del-Penho, e “Só se for agora”, interpretada pela cantora Alaíde Costa.

“Sou curioso, de ouvido bom, comentarista de música desde os 16 anos de idade. Gosto de trabalhar com estranhezas. Durmo pouco, leio muito e produzo muito também. Tenho mais uns cinco livros por editar e mais uns dois discos prontos. E sim, cultivo cataventos. Estou permanentemente cataventando, exposto aos raios e às ventanias, abençoado por meus anjos da guarda desde menino:  Pixinguinha e Cartola, parceiros fúlgidos, luzentes; e Clementina de Jesus, baobá iluminado pelo olhar incandescente de Mário de Andrade, meu farol. Sigo meu destino pisando um chão coruscado de esmeraldas e estrelas – sina dos poetas”

Cataventos está disponível para audição nas principais plataformas de áudio e gratuitamente no Sesc Digital.


Cataventos
por Joyce Moreno


O álbum “Cataventos” é um espanto. Faz a gente se perguntar: como um homem de 88 anos, com a história e as realizações de Hermínio Bello de Carvalho, consegue ainda ter fôlego para lançar uma obra inédita desse porte?

Quando tantos bem mais novos que ele já se aposentaram, penduraram as chuteiras ou se mantiveram num círculo de eternas repetições, vivendo de antigas glórias, eis que esse guerreiro cultural rompe a cortina do passado e nos apresenta esta série de canções inéditas, de fio a pavio, com parceiros não tão recentes e outros que recém-foram alunos e alunas seus/suas na Escola Portátil de Música… Só mesmo um HBC (como a gente preguiçosamente se refere ao nosso amado poeta) para dar conta de tarefa tão gigante!

Claro que aqui falo do letrista, de suas tantas canções, mas vejam a abertura com a grandiosa Fernanda Montenegro – sua nova amiga de infância – aquela voz inconfundível, dizendo o poema “Labirinto”, para em seguida desaguar em “Cobras e Lagartos” na igualmente inconfundível voz de Maria Bethânia… É um poema dentro do outro, como um caprichoso origami, anunciando que agora virão as novíssimas canções. E lá viemos eu e meu parceiro Alfredo Del Penho, ô sorte! para abrir a porteira das novidades, com o samba “Louva-a-deus”. E vem toda uma juventude linda cantar Hermínio: Gabi Buarque, Ayrton Montarroyos, Vidal Assis, Pedrinho Miranda, Giulia Drummond… Além da divina Alaíde Costa, do “one and only” Marcos Sacramento, da tão amada pelo nosso poeta Áurea Martins, da “voz de água” (definição “herminiana”) de Zé Renato, do querido (e também valoroso pesquisador) Pedro Paulo Malta… Até chegarmos, de volta ao começo, àquele parceiro que se tornou compositor por incentivo de Hermínio, nos distantes anos 1960: Paulinho da Viola. E fecha-se o ciclo de forma sublime, com Dona Fernanda, mais uma vez e um deslumbrante poema musicado com perfeição por Vital Lima, “Enunciação”.

Com direção de produção de Helton Altman, produção musical e arranjos de Lucas Porto (outra cria da Escola Portátil, hoje respeitado violonista e arranjador), capa de Mello Menezes – estes “Cataventos” giram em tantas direções que deixam a gente tonta, de tanta beleza.

Mil vivas a Hermínio Bello de Carvalho, que o poeta está cada vez mais vivo!


Cataventos está disponível para audição nas principais plataformas de áudio e gratuitamente no Sesc Digital.