Sesc SP

postado em 28/02/2020

Apaixonados por livros

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Para celebrar o prazer proporcionado pela leitura e a importância social, cultural, econômica e simbólica do livro, a Ateliê Editorial e as Edições Sesc uniram-se para lançar a Coleção Bibliofilia

 

Considerado como uma fonte de prazer estético e, mais do que isso, como um símbolo incontestável da nossa evolução cultural, o livro tem sido objeto de inúmeras pesquisas e reflexões sobre aspectos tão diversos quanto sua materialidade, as relações socioculturais de formação de leitores e os componentes de sua cadeia produtiva. A recorrência dessa temática em jornais, revistas, programas de TV e até mesmo em livros que versam sobre livros sugere que o interesse por este assunto extrapola o universo acadêmico e atinge um espectro de público amplo e diversificado. Pessoas de diferentes faixas etárias e níveis de formação seguem comprando livros, criando clubes de leitura e falando sobre seus autores e histórias preferidos em podcasts e canais no YouTube.

Apesar da substituição do livro impresso pelo digital ser prenunciado desde o surgimento deste último, os dados demonstram que o interesse pela leitura no formato tradicional tem se renovado. E é justamente por isso que a Ateliê Editorial e as Edições Sesc São Paulo uniram-se para lançar a Coleção Bibliofilia, série concebida para celebrar o prazer proporcionado pela leitura e a importância social, cultural, econômica e simbólica do livro.

Organizada por Marisa Midori Deaecto e Plinio Martins Filho, a coleção estreia com três títulos: O que é um livro?, de João Adolfo Hansen; Da argila à nuvem, de Yann Sordet, e A sabedoria do bibliotecário, de Michel Melot. Impressos sob um cuidadoso projeto gráfico desenvolvido pelo designer Gustavo Piqueira – com capas feitas em serigrafia e em formato de bolso –, os livros formam uma espécie de trilogia que busca transmitir o fascínio exercido por este objeto que nos acompanha há mais de dois mil anos.


O que é um livro?

 

No primeiro volume da Coleção Bibliofilia, João Adolfo Hansen convida o leitor a refletir sobre os múltiplos significados de um livro. Segundo ele, o livro pode ser considerado tanto um objeto material quanto um objeto simbólico. No primeiro caso, “é mercadoria, produto acabado de vários processos intelectuais, técnicos e industriais”. No segundo, “é texto, que pressupõe uma autoria, que o acabou como obra, e leitores, que nunca acabam”, explica.

Percorrendo o fio da história, Hansen relembra a origem dos livros, indo dos rolos aos códices de pergaminhos manuscritos e encadernados, até chegar nos livros impressos após a inovação de Gutemberg, no século XV. Nesse caminho, passa por figuras como Homero, Ovídio, os irmãos Grimm, Borges e Padre Antônio Vieira, explica como os textos clássicos da Grécia e Roma Antiga foram preservados, copiados, comentados e editados até chegarem às versões que conhecemos atualmente e aborda questões como a censura, o controle e as mudanças nos modos de ler trazidas pelas novas mídias.

Para Hansen, um livro só existe quando é lido, colocando o leitor no mesmo nível de importância do autor, sem deixar de levar em consideração a distância no tempo e no espaço entre os dois. Não por acaso, a maior parte do texto se dedica a essa instância, do leitor, da leitura e das múltiplas interpretações da obra, utilizando casos curiosos que ele presenciou como professor. Conclui que o leitor e como ele lê são parte fundamental do livro tanto quanto o papel, a tinta ou as ideias do autor.

 

Da argila à nuvem

 

O segundo volume da Coleção Bibliofilia foi concebido para servir de introdução ao catálogo de uma exposição sobre a “arqueologia dos catálogos”, realizada em Paris e Genebra em 2015. O autor Yann Sordet sustenta que a lista catalográfica acompanha os textos desde a invenção da escrita, mostrando uma tábua de argila em escrita cuneiforme do período sumério, de mais de 2.000 anos antes de Cristo, que contém uma lista léxica. Boa parte de exemplos dessa que é considerada a mais antiga forma de escrita, na verdade, consiste em itens inventariados para fins administrativos, contábeis ou pedagógicos.

Sordet prossegue a uma minuciosa análise histórica dos catálogos, registros, inventários, índices, listas, etc., e dos bibliotecários, profissionais que diligentemente organizam esse universo de informação. Ressaltando que a divisão entre essas diversas categorias é muitas vezes artificial, ele explica em detalhes o significado de cada uma, e as escolhas por trás da hierarquização e ordenamento dos livros em uma biblioteca. Entre os catálogos que ele aborda, estão os “Pínakes de Calímaco”, cento e vinte rolos que serviam como inventário, catálogo e repertório de tragédias e comédias representadas em Atenas nos séculos V e IV a.C. e reunidas na Biblioteca de Alexandria, que marcam o “nascimento da bibliografia”.

O autor percorre o caminho dos catálogos das coleção de códices manuscritos guardados nas abadias da Idade Média, o impacto da invenção da imprensa de tipos móveis, a expansão das universidades e bibliotecas, o desenvolvimento do capitalismo e, por fim, a ubiquidade da tecnologia digital, quando os catálogos abandonam os suportes físicos e migram para a “nuvem”. O livro é ricamente ilustrado com fac-similes de alta resolução de alguns destes catálogos antigos, e rigorosamente referenciado nas legendas e notas de rodapé, o que certamente fará a alegria dos bibliotecários entusiastas da arte da catalogação bibliográfica, e também para os profissionais e interessados nas áreas de tipografia, produção gráfica e editoração.

 

A sabedoria do bibliotecário

 

Completando os três volumes da Coleção Bibliofilia, Michel Melot presta uma homenagem à figura do bibliotecário, profisssional tão importante na conservação, organização de difusão do conhecimento. O texto, poético e carinhoso, afirma que o bibliotecário é sábio porque “sabe que jamais conseguirá abrir todos os livros” e que “o bibliotecário ama os livros como o marinheiro ama o mar”. Junto com a figura do bibliotecário, é homenageada a biblioteca como espaço físico e instituição que fortalece laços sociais e comunitários.

Melot afirma que, apesar da figura do bibliotecário existir antes do surgimento da democracia, essa profissão é democrática por definição, pois pressupõe a convicção de que a verdade não pode existir senão partilhada e contingente. O bibliotecário é tolerante, pois vive da multiplicidade e diversidade de opiniões. Na impossibilidade de reunir todos os livros já publicados sob um mesmo teto, toda biblioteca é uma escolha, e o bibliotecário “é o primeiro autor de sua biblioteca”, responsável por sua composição, e deve exercê-la com curiosidade, tolerância e competência.

Como bibliotecário de profissão e vocação, Melot descreve com paixão e autoridade as minúcias da atuação desse profissional, os dilemas e contradições do trabalho de arquivamento e classificação e a temida “morte” do bibliotecário enquanto guardião do conhecimento, num mundo em que este conhecimento está disponível e organizado por algoritmos nas redes digitais. Anedotas de sua própria experiência, desde estagiário até diretor de algumas das mais importantes bibliotecas francesas, pontuam a narrativa. A leitura se revela prazerosa não só para os bibliotecários de ofício, mas para todos aqueles que se consideram apaixonados por livros.

 

Veja também:

*Serviço:

o que:

Lançamento da Coleção Bibliofilia [CANCELADO]

Bate-papo com Plínio Martins Filho, Marisa Midori e João Adolfo Hansen, seguido de sessão de autógrafos.

onde:

Centro de Pesquisa e Formação Sesc São Paulo | R. Dr. Plínio Barreto, 285 - 4º andar - Bela Vista, São Paulo - SP

quando:

20 de março de 2020 - sexta-feira, 19h30

quanto:

Grátis. 

 

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