Sesc SP

postado em 14/11/2017

Escassez ecológica

vinganca-platao-dest3

      


Em A vingança de Platão: política na era da ecologia, William Ophuls discute modos de vida sustentáveis em um mudo pautado pelo consumo exagerado

Por Wagner Costa Ribeiro*

 

Política na era da ecologia é mais que um subtítulo. É uma importante matriz para se pensar sobre o mundo contemporâneo e suas desigualdades sociais e ambientais.

A vingança de Platão é uma obra que analisa como a sociedade de escassez, na qual estamos inseridos, sofre de ausência de valores éticos e morais que está levando também à escassez de recursos naturais. A natureza em estado natural é cada vez mais uma raridade, portanto cara, sob a ótica capitalista. Para William Ophuls, a busca de uma necessária mudança social deve começar pela revisão dessa situação a partir de matrizes do pensamento ocidental, razão pela qual ele retoma ideias de Aristóteles e Platão e as combina com as de pensadores como Thomas Hobbes, Karl Marx, além de autores do século XX, como Carl Jung, James Lovelock e Donella Meadows.

Tal erudição resultou em um texto intenso, rico e estimulante. Trata-se de um livro para refletir e para degustar em meio à barbárie instalada no mundo atual, pautado pela produção para o consumo exagerado.

Esse esforço é necessário, ao menos para quem está inquieto com os rumos da hipercivilização, termo cunhado por Ophuls, que o define como um estágio no qual a civilização é, também, o motor de sua destruição. A enorme devastação ambiental do mundo expressa a lucidez desse argumento, mesmo que ela se realize de modo desigual e combinado, levando à população de alguns países a uma situação mais calamitosa que em outros, ainda que todos sejam afetados por algumas de suas consequências, como as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade. Para ele é preciso combater a espetacularização da desgraça, que também foi transformada em fonte de arrecadação de dinheiro, veiculada como “informação”. Ou seja, é preciso evitar catástrofes socioambientais, não apenas divulgá-las.

O autor dá o diagnóstico e aponta alternativas quando sugere um novo significado à vida humana – ao que eu acrescentaria as demais formas de vida no planeta.

Entre os aspectos que ele destaca está o combate à militarização da vida. A atividade de segurança envolve desde armas até sofisticados sistemas de vigilância e controle populacional, muito presentes em tempos de “ameaças” terroristas. Tudo em busca de uma apregoada segurança, que cada vez mais extrapola a dimensão coletiva e busca garantir a vida de alguns indivíduos como um negócio qualquer. Outro ponto tratado no livro que o leitor tem em mãos é a desigualdade que o modo de produção hegemônico gera. Como afirma Ophuls, enquanto alguns estão diante de um universo de produtos de consumo, outros ainda estão privados de itens básicos à reprodução da vida.

Não resta dúvida de que é preciso rever o modelo econômico predominante. O uso de recursos naturais apenas como fonte de geração de lucro não é mais suficiente para justificar uma imensa cadeia produtiva que destrói o resultado de milhões de anos de processos naturais em prol do benefício de uma minoria da população humana.

Os diversos membros dos programas de pós-graduação que abordam os temas ambientais encontrarão nessa obra uma fonte de estímulo à reflexão sobre os temas citados acima. O mesmo vale para a militância socioambiental em sua busca por ações concretas para um mundo menos desigual e com menos impactos ambientais.

 


*Wagner Costa Ribeiro é professor titular dos programas de pós-graduação em geografia humana e em ciência ambiental da Universidade de São Paulo. Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

Veja também:

:: trecho do livro

 

 

Produtos relacionados