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postado em 25/10/2017

Vozes do oriente

Ilustração de Yahya ibn Mahmud al-Wasiti retirada da Maqamat, de al-Hariri. 1237
Ilustração de Yahya ibn Mahmud al-Wasiti retirada da Maqamat, de al-Hariri. 1237

      


Civilização islâmica em trinta biografias apresenta uma síntese histórica do primeiro milênio do islã a partir da trajetória de califas, sultões, estudiosos, viajantes, místicos e escritores

Por Mamede Mustafa Jarouche*

 

Neste trabalho admirável, o historiador americano Chase F. Robinson traça a história do Oriente Médio entre os séculos VII e XVI da era cristã, tendo como ponto de partida trinta biografias. Por meio da sucessão de eventos que caracteriza e determina cada uma delas, delineia o panorama do período em que as trinta personalidades viveram. Sua escolha recaiu sobre aqueles cuja vida foi plena de história por motivos de primazia política, intelectual, religiosa, cultural e que tiveram um trajeto ímpar cuja exemplaridade ajuda a sintetizar a história do islã em seu primeiro milênio.

O livro é dividido em quatro partes: a primeira, englobando o período de 600 a 850 d.C., corresponde à fase de constituição e formação; a segunda, de 850 a 1050 d.C., à fase de consolidação de uma autêntica comunidade islâmica, durante a qual se forjaram os laços que, em sua maioria, duram até hoje; a terceira, de 1050 a 1250 d.C., à fase que o autor denomina “síntese provisória”, e que é contemporânea, grosso modo, não somente das Cruzadas como também do declínio dos árabes como etnia dominante no mundo do islã; e a quarta, de 1250 a 1525 d.C., à fase que em mais de um sentido consolida o gradual enfraquecimento do mundo do islã face à Europa, prenunciando uma série de conflitos nos séculos seguintes.

Foram biografados vinte e seis homens e quatro mulheres. Num rol de evidente prevalência masculina, três das personalidades femininas ganham destaque: Aisha, a esposa preferida do profeta Muhammad (Maomé) e que também foi líder política e militar; Rabia al-Adawiyya, poeta mística adepta do amor divino e cujo nome de difícil pronúncia não impede que seja muito festejada em círculos sufis ocidentais; e Karima al-Marwaziyya, especialista nos hadithes (tradições) do profeta.

Este livro tem como mérito, além da erudição que não fatiga, o esforço honesto, isento da condescendência tão comum em trabalhos orientalistas, de compreender essa grande alteridade que é o mundo do islã.

 


*Mamede Mustafa Jarouche é professor de língua e literatura árabe na Universidade de São Paulo (USP) e tradutor do Livro das mil e uma noites para o português e do romance Um copo de cólera, de Raduan Nassar, para o árabe. Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

Veja também:

:: trecho do livro

 

 

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