Sesc SP

postado em 09/09/2014

Caminhos do corpo

destaque g orientado

      


Gesto orientado completa trilogia sobre o método de reeducação do movimento criado por Ivaldo Bertazzo

Por Iara Biderman*

 
Gesto orientado: reeducação do movimento, o terceiro livro de Ivaldo Bertazzo sobre seu método lançado pelas Edições Sesc São Paulo, é, ao seu modo, um livro de viagem.

Como nos exemplares deste gênero literário, Bertazzo leva o leitor a acompanhá-lo numa aventura e a vivenciar, quase plasticamente, as surpresas, armadilhas e belezas do caminho.

Peculiar, a viagem do  Gesto orientado é de outra natureza: ela começa, sim, na descrição de um destino geográfico, mas isso é só o ponto de partida para acompanhar a viagem do movimento dentro do corpo.

Diz o autor: “o corpo é um continente a ser explorado, com sua história e suas dinâmicas internas, seus movimentos tectônicos, suas fronteiras e sua complexa organização, seu ecossistema e seu frágil e perseverante equilíbrio”.

Viajante apaixonado, Bertazzo introduz o leitor a essa exploração com a descrição da cidade de Gangtok, na Índia, e do monastério budista Rumtek.

Da descrição da paisagem e da arquitetura (forma) do local, ele passa a descrever o ciclo de atividades cotidianas (função) dos moradores do monastério.

E assim leva o leitor, sem que este perceba, da província indiana a esse lugar de carne e osso, músculos, articulações, ligamentos, neurônios e células que é o que temos de mais próximo e do qual ficamos tão distantes.

Então é também uma viagem de volta, que Bertazzo conduz com a paciência, o ritmo e a graça que encontramos no gesto belo e harmônico – aquele que é alinhado à natureza do corpo. É este o destino do livro.

O trajeto, também seguido nos dois primeiros volumes,  Corpo vivo e Cérebro ativo, refaz as etapas do desenvolvimento, tanto o do primata ao homos sapiens, quanto do bebê no útero ao que engatinha, fica em pé, anda, cresce e, se não prestar atenção, desaba sobre o próprio peso – da vida e da gravidade.

Mas, se a vida é imprevisível e a gravidade, inescapável, Bertazzo indica um caminho de autonomia: a percepção, a consciência, a estrutura e as ações que levam “à maior liberdade de ser [forma] e de agir [função]” e, assim, recuperam e manifestam a identidade de cada pessoa.

A viagem proposta por Bertazzo é prazerosa, mas não deixa o leitor-viajante acomodado.

Sentado confortavelmente em sua cadeira, a pessoa que prossegue pelas páginas do livro começa a sentir um comichão no corpo.

Talvez uma vontade de puxar para trás a bacia projetada à frente naquele corpo esparramado na poltrona, ou mesmo o impulso de se levantar e sentir a maravilha e a delicadeza da verticalidade humana descrita pelo autor.

E uma vontade de se arriscar, porque, como diz Bertazzo, todo movimento é risco. O que o Gesto orientado propõe é ser um plano de navegação para o leitor se lançar a uma variedade de experiências corporais, uma autoprovocação organizada em que o risco é controlado.

E aí começa a aventura da redescoberta do gesto próprio, que é ao mesmo tempo individual e universal.
O movimento, garante o autor, sempre poderá ser remodelado. Mas não em uma viagem de ponte-aérea, um bate e volta ao continente corporal.

Em uma época de busca por resultados imediatos, a leitura dos livros de Bertazzo lembra que a viagem significativa - a que transforma e acrescenta algo à vida das pessoas - é feita com ritmo, reflexão, alternância e envolvimento de todos os sentidos.

Seu caminho tem linhas retas e curvas, torções e enrolamentos. E uma sequência inteligente para seguir os roteiros.

Depois de explicar os fundamentos de seu plano de navegação, Bertazzo convida o leitor a uma série de atividades.

Cada grupo de atividades tem seu foco específico, mas todas envolvem uma reativação geral dos sentidos em que não tem vez a ideia de estímulos isolados, tão cara aos programas de fitness contemporâneos.

O caminho para redescobrir a elegante unidade do corpo e do movimento passa pela ativação da pele, a rotação das articulações, a estabilização dos ligamentos, o conhecimento do ritmo, o uso da visão e da respiração e até uma nova atenção às expressões faciais – de uma forma nunca olhada por academias de ginásticas ou clínicas estéticas.

Na mala, entram bastões, bolas, cama elástica, blocos de espuma, bancos, pranchas. Em alguns momentos, o roteiro é feito com outra pessoa, que ajuda no caminho. E seguir em movimento é a essência da viagem.

 


*Iara Biderman é repórter do jornal Folha de S.Paulo, onde trabalhou nos cadernos Equilíbrio e Saúde. Atualmente escreve para a Ilustrada. 

 

Veja também:

:: Vídeo

 

:: Trechos do livro

 

 

 

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