Sesc SP

postado em 14/02/2014

A eterna novidade do mundo

Carlos Moreira. Vão livre do MASP - década de 1970
Carlos Moreira. Vão livre do MASP - década de 1970

      


Fotografias de Carlos Moreira sobre a cidade de São Paulo revelam um olhar sempre renovado para a paisagem urbana

 

Carlos Antônio Moreira nasceu em São Paulo em 1936. Formado em economia, nunca exerceu a profissão, optando por se dedicar integralmente à fotografia a partir de 1964, mesmo ano de sua graduação. Nas últimas cinco décadas, seu olhar introspectivo esteve voltado para o cotidiano paulistano, compondo um registro singular do homem comum e dos cenários banais que fazem parte da conturbada paisagem urbana. Documentada por meio de imagens em que transparecem esmero e sensibilidade, a metrópole e seus personagens adquirem em suas mãos o estatuto de arte.

Uma seleção cuidadosa desse extenso ensaio fotográfico agora pode ser conferida no livro Carlos Moreira: São Paulo, uma coedição da Editora Tempo d’Imagem e Edições Sesc São Paulo. O livro, organizado por Rosely Nakagawa e pela Editora Tempo d’Imagem, marca as cinco décadas de produção do artista. Suas fotografias compõem um dos mais importantes acervos sobre São Paulo, mostrando ao mesmo tempo as transformações da cidade (físicas e humanas) e da própria fotografia contemporânea. A publicação conta com mais de cem imagens, reunindo fotos inéditas e outras realizadas especialmente para este projeto.

Nas inúmeras caminhadas que Carlos Moreira fez pela cidade, a vida pulsante das ruas é o objeto em foco: pessoas, calçadas, vitrines, edifícios, espaços insuspeitados têm a pureza de suas formas capturadas no momento decisivo. Com um refinado equilíbrio de tons e um apurado domínio da técnica – desenvolvida pela intuição e pela influência de grandes nomes da fotografia mundial, caso de Henri Cartier-Bresson (1908 – 2004) – seus enquadramentos e composições revelam um estilo ao mesmo tempo simples e elegante.

No início do seu trabalho, percebe-se a organização do caos que se apresenta no movimento, nos agrupamentos das pessoas e na imensa paisagem. A partir dos anos 1990, o caos começa a se apresentar como um estado a ser contemplado, não como um ícone de transformação, mas como modo de ser e ver. A fotografia digital entra em seu processo criativo neste contexto, valendo-se das possibilidades permitidas pelas novas tecnologias.

Considerado o primeiro livro propriamente dito sobre a obra de Carlos Moreira, esta publicação fortalece os vínculos entre os paulistanos e sua cidade. Ao voltar inúmeras vezes para fotografar nos mesmos locais (praça Roosevelt, vale do Anhangabaú, parque Ibirapuera, avenida Paulista...), ele realiza um trabalho capaz de provocar uma reflexão mais profunda sobre identidade  e convivência. Este ensaio tem ainda o poder de renovar o olhar para os caminhos habituais, como se estivessem sendo vistos pela primeira vez. Encontrando ressonância nos versos de Alberto Caeiro, o poeta das sensações, olhar para as fotos de Carlos Moreira: São Paulo é como “...nascer a cada momento / Para a eterna novidade do mundo”. 

 

Veja também:

:: Trechos do livro

 

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