Sesc SP

postado em 15/11/2024

Arte e resistência: a vida e a obra do artista e ativista Frans Krajcberg

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João Meirelles é o autor de biografia lançada pelas Edições Sesc SP em coedição com a Edusp

“Esta obra só faz sentido se falar da minha luta”
Frans Krajcberg, abril de 2011

Lançada em coedição pelas Edições Sesc São Paulo e pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), Frans Krajcberg: a natureza como cultura, é resultado da “encomenda” que o escultor, pintor, fotógrafo e ativista ambiental Frans Krajcberg (1921-2017) fez ao ativista, amigo e colaborador João Meirelles, em 1985. Quase 40 anos após o pedido e muita pesquisa, finalmente a biografia de Krajcberg vem a público. Com fotos exclusivas e depoimentos inéditos, o livro apresenta a vida e a obra deste que é considerado um dos maiores artistas plásticos do século 20, nascido na Polônia em uma família judaica e naturalizado brasileiro. 

Frans Krajcberg é considerado um dos maiores artistas plásticos de seu tempo. Como escultor, fotógrafo e pintor, acumulou centenas de prêmios, participou de mais de 200 exposições coletivas e 92 individuais, sendo presença constante nas Bienais de São Paulo e no circuito de arte nacional e internacional. Ao final da vida, doou seu acervo pessoal de obras e objetos, bem como seu sítio em Nova Viçosa, ao Governo do Estado da Bahia, responsável por seu legado. 

Destaca-se também, na Nota dos Editores contida no livro, a extensa pesquisa, com “registros documentais, seus diários de campos e entrevistas com pessoas próximas a Krajcberg”, e o fato de que Meirelles “conseguiu manter o distanciamento emocional necessário para produzir uma obra equilibrada, sem julgamentos nem louvores infundados”. Krajcberg, nascido em uma comunidade judaica na Polônia, tinha 18 anos quando as tropas nazistas invadiram o país, dando início à 2ª Guerra Mundial, “idade suficiente para que os horrores da guerra e do Holocausto ficassem impressos em sua alma”. Escravizado em um campo de trabalhos forçados, conseguiu escapar e lutou ao lado do Exército Popular da Polônia, ligado à União Soviética, para derrotar os nazistas.  

O grito de Krajcberg contra as queimadas

A maioria de seus familiares próximos (com exceção de uma irmã) foram mortos nos campos de concentração. Em 1948, Krajcberg emigrou para o Brasil, onde foi acolhido pela família de um tio.  Não conseguiu sossegar. “Os traumas da juventude o fizeram desgostar da convivência com as pessoas”. Junto à natureza, “se sentia mais verdadeiro, mais inteiro”. Viajou por todo o Brasil e se apaixonou pela natureza dos diversos biomas brasileiros, das araucárias do Paraná à Mata Atlântica e os campos de Minas Gerais. Ao se deparar com as queimadas na viagem a Juruena, no Mato Grosso, “as árvores calcinadas devem ter evocado memórias de guerra em Krajcberg, que começou a gritar, e continuou gritando até o mundo escutar sua voz contra as queimadas e a devastação, pela proteção aos biomas brasileiros”.

Meirelles, na Introdução, relembra a primeira viagem que fez com Frans, de Nova Viçosa a Juruena, um percurso de 3 mil quilômetros. Ali, a Floresta Amazônica começava a ser destruída pelas queimadas para a criação de gado. O biógrafo relata uma experiência definidora de sua vida - acompanhar Krajcberg em meio à floresta ardente: “Naquela manhã de calor, ele finalmente decidiu vencer o ciclope de uma grande queimada. Estancou a camionete e saiu correndo em direção às chamas. O fogo consumia os troncos, que choravam e chiavam, exaustos... Frans, revoltado, discursou para as grandes castanheiras que testemunhavam tudo, em pé, desoladas de dor. Gritava, gritava até enrouquecer”.  

O biógrafo lembra que a história em comum dele com o biografado pode ser dividida em três tempos. De 1984 a 1988, uma intensa convivência, “tão relevante para forjar minha carreira como ativista ambiental”. Depois, um “longo hiato de quase duas décadas”. O terceiro momento vai de 2011, quando Frans comemorou 90 anos, até sua morte, em 2017. “A biografia foi escrita principalmente neste último período, e seguiu até o presente momento”, conta Meirelles.  

A biografia escrita por João Meirelles nos ajuda a compreender como, a partir de uma existência violentamente maltratada pela história, Frans Krajcberg soube construir um projeto coerente, cujos fundamentos são a estética e a ética da sobrevivência e cujo testemunho é hoje, para muitos, um chamamento à ação.
Jacques Leenhardt

Além dos 34 capítulos que compõem um quadro completo dos 96 anos de vida de Krajcberg, de sua obra e evolução artística, e de seu ativismo ambiental, esta edição traz 32 páginas coloridas com obras selecionadas e um anexo com manifestos do artista.

Veja também:

:: trecho do livro

 

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