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LIVRO E LEITURA postado em 05/02/2024

Romancista, homem público e antirracista

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Graciliano: romancista, homem público, antirracista, livro de Edilson Dias de Moura, revela um viés progressista e antirracista de Graciliano Ramos que se entrelaça aos enredos e personagens, que o transformaram num dos grandes escritores da literatura brasileira

 

Autor de obras clássicas da literatura nacional, Graciliano Ramos (1892-1953) teve em vida uma atuação menos conhecida como administrador público. Essa faceta do grande romancista da segunda geração do modernismo brasileiro é revelada em Graciliano: romancista, homem público, antirracista, do pesquisador Edilson Dias de Moura.

O livro teve origem na pesquisa de doutoramento de Moura, que, ao mesclar análise literária, consulta documental e história, fez descobertas sobre o escritor, chegando a um estudo inédito sobre como a postura política de Graciliano em sua vida pública teve influência direta na produção de seus romances. 

Alagoano nascido em Quebrangulo, Ramos foi prefeito de Palmeira dos Índios entre 1928 e 1929, diretor da Imprensa Oficial de Alagoas em 1931 e diretor de Instrução Pública do mesmo estado entre 1933 e 1936. Neste último cargo, colocou em prática ações voltadas ao ensino laico, ao acesso de crianças negras à escola pública, à profissionalização do magistério, à distribuição de merenda e à promoção de professoras negras a cargos escolares diretivos, por exemplo.

 

Iniciativas como essas acabaram por desagradar determinados setores conservadores da sociedade, que já se direcionava ao Estado Novo. O clima hostil decorrente do posicionamento progressista de Graciliano culminou com seu afastamento do cargo e com sua prisão arbitrária, em 1936. A experiência na prisão deu origem ao livro autobiográfico Memórias do cárcere, publicado postumamente em 1953.  

Moura intercala a vivência de Ramos como homem público à análise literária de seus quatro romances: Caetés (1933), São Bernardo (1935), Angústia (1936) e Vidas Secas (1938), todos publicados na década de 1930. O tecido social e o cenário da educação no Brasil à época, especialmente na região Nordeste, aparecem com frequência na literatura de Graciliano, e a pesquisa de Moura desnuda justamente como essa presença é reflexo das relações entre o trabalho de criação literária e a atuação inovadora do escritor alagoano como administrador público.

Em uma época de racismo institucionalizado e forte conservadorismo, o compromisso progressista e antirracista de Graciliano Ramos tanto em sua vida pública como em sua arte pode fortalecer as lutas já existentes e inspirar novas, em prol de uma educação mais igualitária e de um país definitivamente contra o racismo.

 

Trecho do livro

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