Sesc SP

postado em 26/04/2023

Anti-canônico

Ilustração de Hilde Weber, primeira mulher chargista da imprensa brasileira.
Ilustração de Hilde Weber, primeira mulher chargista da imprensa brasileira.

      


Livro Modernismo: o lado oposto e outros lados explora temas pouco conhecidos sobre o período da Semana de 22, como literatura policial, literatura infantil, o humor gráfico realizado por mulheres e artistas negros que foram negligenciados por décadas 

 

O centenário da Semana de 22 tem sido uma temática recorrente em diversos projetos do Sesc. Revisitar esse passado e possibilitar novas leituras é importante para a criação de outros enfoques sobre a vida intelectual do país no período. 

Com apoio cultural das Publicações BBM — Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, Modernismo: o lado oposto e os outros lados, organizado por Elias Thomé Saliba, é dividido em oito blocos temáticos, esmiuçados por 19 pesquisadores que apresentam aos leitores elementos muitas vezes desconhecidos pela exaltação vanguardista da estética moderna.

O subtítulo do livro, “O lado oposto e os outros lados”, foi inspirado em artigo homônimo de 1926 do então jovem historiador Sérgio Buarque de Holanda, considerado um divisor de águas no movimento inaugurado em 1922.

A obra traz artigos de pesquisadores especialistas que discutem temáticas pouco abordadas, como a literatura policial e a literatura infantil, o humor gráfico —inclusive aquele realizado por mulheres —, os escritores que antecederam o movimento, mas que já apresentavam novidades na estética e na temática, artistas negros que foram negligenciados por décadas em consequência do apagamento histórico, experimentos teatrais e científicos. 

 


Charge do ilustrador J. Carlos, de 1928. Uma pequena inversão para zombar dos modernos.
 

Entre os autores, estão os historiadores Nelson Schapochnik e Elena Paiaro Peres e o filósofo Francisco Foot Hardman. Schapochnik escreve o texto “A era dos inquéritos: livros, leitura e leitores na Pauliceia”, em que traz informações a respeito das enquetes (ou inquéritos) utilizados como uma nova forma do fazer jornalismo — e literatura — no começo do século XX. O escritor Monteiro Lobato, inclusive, lançou uma enquete no então jornal vespertino Estadinho, convocando a participação de leitores para responder questões sobre o Saci, personagem emblemático de suas histórias. Peres assina “Poesia em comprimidos, pensamentos em gotas. Expressão afro-romântica em tempos de Modernismo”, que trata da vida e da obra primorosa da escritora Carolina de Jesus.

Foot Hardman apresenta o texto “Ilusões cronológicas: etéreos que se querem eternos”, em que chama atenção para os processos descontínuos e fragmentários da história brasileira: “[...] jamais iludida, portanto, com o pretenso desvelamento completo das intrigas. Sendo indiciária, haveria que fugir das tentações dogmáticas ainda presentes nas ciências sociais herdeiras do positivismo e, também, de parte considerável das teorias literárias contemporâneas, eurocêntricas no mais das vezes, ou então ávidas dos últimos modismos universitários norte-americanos, exibidos como imprescindíveis até o limite de sua efêmera passagem”.  

 


Trecho do livro

 

Produtos relacionados