Sesc SP

postado em 05/09/2022

Crítica e ação cultural

Cena de Grande Sertão: veredas. Sesc Consolação, 2017 | Foto: Alexandre Nunes
Cena de Grande Sertão: veredas. Sesc Consolação, 2017 | Foto: Alexandre Nunes

      


No livro Crise e pensamento crítico: o teatro em comunicação com o público, Shirlei Torres Perez propõe o entendimento da crítica como ato complementar ao pensamento de curadoria e mediação

 

A crítica de arte visa não apenas a investigação estética e conceitual da obra, mas também propõe uma visão crítica sobre seus aspectos sociais, históricos e culturais. Assim, seu exercício e registro contribuem para a memória e a compreensão contextualizada da produção artística. Apesar desse importante papel, a crítica tem passado por mudanças e desafios com a redução de seu espaço no jornalismo cultural e na mídia impressa de modo geral. Em busca de mitigar essa situação, a doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Shirlei Torres Perez, estabelece relações entre crítica e ação cultural no livro Crise e pensamento crítico: o teatro em comunicação com o público, obra que propõe o entendimento da crítica como ato complementar ao pensamento de curadoria e mediação.

O volume traz um enfoque panorâmico sobre as poéticas teatrais nos séculos XIX e XX e as coloca em diálogo com a teoria e prática da crítica de arte, em especial no atual contexto de incertezas e questionamento de valores. Neste momento de crise, o teatro mais do que nunca incorpora discussões sobre questões atuais, ao mesmo tempo em que inova sua linguagem, propiciando diferentes formas de interação com o público. Assim, o livro foca na construção da cena como um modo e um processo de tradução do mundo, no qual é fundamental “o momento-espaço em que há o encontro do público com o trabalho do artista”.

 


Cena de Manifiesto de NiñosMostra Sesc de Artes, 2007 | Foto: Isabel D’Elia

 

O livro está dividido em três grandes blocos: Crítica como pensamento de crise, Um olhar de crise para o teatro e Vivências comunicativas: testando escritas do outro. Neste último, dez espetáculos são analisados, agrupados por abordagens, processos e procedimentos em três eixos. No primeiro, “O estrangeiro e o íntimo: o cotidiano como inviabilidade”, são discutidos os espetáculos Isto te interessa?, da Cia Brasileira de Teatro (Curitiba); Braakland: terra esquecida, da Cia Dakar (Holanda); e Os efêmeros, do Théâtre du Soleil (França). No segundo, “A (im)possibilidade de contar e a (in)capacidade de perceber”, estão as obras Manifesto de niños, do Periférico de Objetos (Argentina); Jogo de cartas, de Robert Lepage (Canadá); e Arquivo, do bielo-russo residente em Israel Arkadi Zaides. No terceiro eixo, “Do enfrentamento e da recusa – construções sobre o inexorável”, estão Sobre o conceito da face do Filho de Deus, da Cia Rafaello Sanzio (Itália); A velha, com direção de Robert Wilson (EUA), e Grande Sertão: veredas, da encenadora brasileira Bia Lessa.

No texto de orelha, o cenógrafo, figurinista e diretor de teatro Márcio Medina observa que “Shirlei Torres Perez nos conduz a um painel potente, significativo e representativo, no qual o teatro é um potencializador de nosso senso crítico como lugar político e de desenvolvimento humano – não apenas uma fonte de fruição estética, mas um espaço que nos faz pensar por nós mesmos e ressignificar nossas opiniões.” A publicação de Crise e pensamento crítico contribui para o estudo das artes cênicas ao produzir registros analíticos, preservar a memória e mesmo criar parâmetros para um melhor aproveitamento das obras que chegam ao público. E nisto reside a maior realização deste livro: propor uma abrangente reflexão sobre o fazer teatral e sua capacidade de transformar o mundo.

 


Trecho do livro

 

Produtos relacionados