Sesc SP

postado em 12/05/2022

Interpretações e utopias

Montagem a partir da foto de Celso Furtado em 1962 | Arquivo Nacional - Wikipedia
Montagem a partir da foto de Celso Furtado em 1962 | Arquivo Nacional - Wikipedia

      


Escrito por Celso Furtado há mais de 60 anos, Formação Econômica do Brasil continua sendo uma obra indispensável para quem se dedica a pensar em um projeto de país mais justo e igualitário

 

“Nada traduz tão bem a face criadora de uma sociedade
como sua capacidade de inventar utopias”.

Celso Furtado

 

Em janeiro de 1959, Celso Furtado (1920 - 2004) publicou Formação Econômica do Brasil, obra que rapidamente se transformou em clássico da literatura econômica e social do país. Ao apresentar uma síntese da história econômica do Brasil, o livro passou a ser leitura obrigatória para cientistas sociais inseridos no debate sobre a história e a economia brasileira, como também uma porta de entrada para estrangeiros interessados em conhecer aspectos da uma sociedade que vivia, em meados do século XX, um processo de intensa transformação.

Para a redação da obra, Celso Furtado mobilizou um arcabouço de teoria econômica original para a literatura nacional. Como membro da Comissão Econômica para a América Latina – Cepal, Furtado pôde aprofundar sua análise sobre a especificidade da formação das economias latino-americanas, enfatizando a dimensão do subdesenvolvimento, assim como apontando como seria o papel do Estado no desenvolvimento desses países latino-americanos e no Brasil particularmente.

O conhecimento da dinâmica do subdesenvolvimento era pré-condição para um projeto articulado e coerente de desenvolvimento. Se este projeto ainda não aparece com todos os seus contornos em Formação Econômica do Brasil, ficava clara, para todos os seus leitores, a convicção de que, pela primeira vez na história, o projeto de desenvolvimento nacional tornava-se uma possibilidade concreta.  

 


Com mais de 300 mil exemplares vendidos e traduzida para oito idiomas, obra é um instrumento de análise dos caminhos para o desenvolvimento do país.

 

Em reconhecimento à importância dessa obra pioneira para o pensamento brasileiro, em 2019 foi realizado o evento Celso Furtado e os 60 anos de Formação Econômica do Brasil, organizado pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e pelo Instituto de Estudos Brasileiros, ambos da USP, em pareceria com o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo. O evento contou com nove mesas e 22 especialistas sobre a obra e vida de Celso Furtado. O seminário discutiu não somente a relevância teórica e histórica da obra consagrada de Furtado, como também avaliou sua contribuição interpretativa para pensar sobre os desafios contemporâneos.

O livro Celso Furtado e os 60 anos de Formação Econômica do Brasil, publicado pelas Edições Sesc São Paulo com o apoio da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, reúne parte significativa das contribuições apresentadas naquela oportunidade, investigando as diversas dimensões abertas pela obra ao longo de suas seis décadas de existência. Com organização de Alexandre de Freitas Barbosa e Alexandre Macchione Saes, nele é dada ênfase ao vigor de Formação Econômica do Brasil mesmo 60 anos depois de sua primeira edição. Neste sentido, mais do que uma coletânea com diferentes especialistas, o livro constitui uma visão organizada dos nossos dilemas atuais, reinterpretados à luz de uma problemática comum: a permanência dos desafios estruturais do país.

De certa forma, a presente reapresentação atualizada dos nossos desafios levou os autores à mesma atitude básica que norteou Celso Furtado: sair do imediato e do detalhe, para reconstituir a dimensão histórica. Ultrapassando o enfoque estreito da chamada ciência econômica, os textos refletem a multiplicidade de diálogos possíveis a partir dos campos mais diversos: da história econômica e social, da economia, da sociologia e da cultura. Em seu conjunto, os autores indicam que Formação Econômica do Brasil se coloca hoje como uma ferramenta indispensável para a formulação de novas interpretações e utopias, sobretudo para quem se propõe a pensar em um projeto de país mais justo e igualitário.

 


Trecho do livro

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