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postado em 20/04/2022

A teoria da evolução como nunca vista antes

Imagem a partir da capa do livro  | Syndics of Cambridge University Library
Imagem a partir da capa do livro | Syndics of Cambridge University Library

      


As vinte mil léguas de Charles Darwin, livro que integra exposição em cartaz no Sesc Interlagos, convida o público a ler textos científicos como obras literárias

Por Gustavo Ranieri*


Quando finalizou e publicou, em novembro de 1859, A origem das espécies, Charles Darwin (1809-1882) sabia que o livro que revolucionou a ciência moderna não seria lido apenas pelos colegas de profissão ou dentro de círculos acadêmicos, mas também por curiosos não iniciados no assunto. É isso o que contam as escritoras e roteiristas Leda Cartum e Sofia Nestrovski, autoras de As vinte mil léguas de Charles Darwin: o caminho até A Origem das Espécies, publicação que integra a exposição interativa “Darwin, o original”, em cartaz no Sesc Interlagos, em São Paulo, até 11 de dezembro de 2022.

Coedição das Edições Sesc São Paulo com a editora Fósforo, o livro é a versão impressa da primeira temporada do projeto Vinte Mil Léguas, podcast de ciências e livros. O título faz referência à obra Vinte mil léguas submarinas (1869), de Júlio Verne – autor de ficção científica contemporâneo de Darwin – e amplia a intenção original da dupla de apresentar cientistas como escritores, convidando o público a ler textos científicos como obras literárias.

 


Trecho do livro

 

As vinte mil léguas de Charles Darwin se apresenta para o leitor de modo curioso. Como o texto original foi escrito para ser lido no podcast, é natural que, mesmo depois de adaptado para o formato livro, ele esteja carregado de uma narrativa imagética. A cada linha é possível ter a sensação de que alguém está lendo para você ou com você. Ou como escrevem: “Neste livro, que agora se apresenta para ser lido em silêncio, entendemos também que cada leitor vai encontrar sua maneira própria e particular de escutar aquilo que lê”.

Desse modo, criando e apontando histórias dentro de outras histórias, as escritoras apresentam um amplo panorama do ambiente e da vivência que permitiram ao cientista formular sua teoria sobre a origem e evolução das espécies. E muito mais do que se imagina estão nessas páginas: as influências familiares; os anos de estudo em Cambridge; a longuíssima viagem a bordo do HMS Beagle – incluindo a passagem pelo Brasil –; e o contato do pesquisador com ideias de outros pensadores, assim como sua vida cotidiana na Inglaterra vitoriana.

 


Charles Darwin por George Richmond, 1840. Coleção Darwin Museum, Down House.

 

A seguir, Leda Cartum e Sofia Nestrovski falam sobre a importância da publicação, o negacionismo científico e a experiência de adaptar roteiros de podcast em livro. Confira:


O livro As vinte mil léguas de Charles Darwin, assim como o podcast Vinte mil léguas, que o originou, e a exposição Darwin, o original, a qual ele integra, podem ser vistos como um tipo de resposta ao negacionismo científico tão em evidência nos dias atuais?
O negacionismo científico que é uma resposta – uma reação – a qualquer trabalho de ciência e de divulgação científica. A ciência sempre existiu, sempre provocou reações, sempre foi negada, e muitas das teorias que hoje temos como paradigma, como é o caso da teoria da seleção natural de Charles Darwin, foram contestadas no momento em que surgiram. Nosso trabalho de unir ciência e literatura para ler Darwin é um esforço de entender a ciência historicamente, de descobrir personagens e situações que foram esquecidos, olhar para a rede de relações que possibilitou o nascimento da teoria da seleção natural. Contando essas histórias, acreditamos que é possível aproximar um pouco mais as pessoas da ciência – que muitas vezes pode parecer fria, distante e até mesmo ameaçadora.

Vocês tiveram a experiência de criar textos para serem lidos como podcast e, posteriormente, adaptá-los para serem livro. O que mais as seduzem em cada um desses formatos?
Na versão em áudio, nós contamos com uma trilha sonora original (composta e executada por Fred Ferreira) que ajuda a contar a história: ela cria ambientação, dá ênfases em determinados pontos do texto, conduz de um assunto a outro etc. Também a possibilidade de entoar o texto, falando-o em voz alta, é algo que nos interessa, e pudemos contar com momentos de preparação vocal e também de direção de atores para as duas temporadas do podcast. No livro, por outro lado, entendemos que o tempo é outro: diferente do podcast, em que o ritmo de escuta já é dado, com o livro, o leitor pode parar, voltar para um trecho anterior ou folhear como bem entender. Por causa disso, nós nos sentimos mais à vontade para trazer alguns desdobramentos que não cabem na versão em áudio, considerando que os episódios têm menos de uma hora de duração. Além de podermos nos deter mais em alguns pontos, também oferecemos uma série de ilustrações (a maioria, da época de Darwin) que, de certa forma, cumprem uma parte do papel que a trilha cumpriu no podcast.

O que dizer aos mais jovens para que embarquem na leitura com ouvidos atentos desse As vinte mil léguas de Charles Darwin?
O mesmo que diríamos aos mais velhos. O pensamento de Darwin oferece uma maneira de renovar nosso olhar para o mundo. Ele nos faz ver os seres vivos de um jeito diferente, e nos faz pensar mais a fundo nas relações que existem entre todos, inclusive nós mesmos. O que diríamos, então, é que aproveitem o livro para entrar em contato com Darwin e, por consequência, olhar para o mundo com mais atenção.

*Gustavo Ranieri é escritor e jornalista.

 

EXPOSIÇÃO INTERATIVA


Exposição Darwin, o original | Foto: Renata Teixeira / Sesc

 

Quando se completam 140 anos de seu falecimento, o Sesc São Paulo realiza a exposição “Darwin, o original”, com entrada gratuita e visitação aberta de quarta a domingo e feriados no Sesc Interlagos. Inédita no Brasil, ela foi concebida em parceria com a instituição francesa Universcience, que montou originalmente a mostra em colaboração com o Museu Nacional de História Natural da França.

A exposição interativa empreende uma fascinante viagem pelas ideias revolucionárias de Charles Darwin (1809-1882) e as reviravoltas científicas que ele ajudou a criar ao elaborar sua teoria da evolução das espécies. Aliás, Leda Cartum e Sofia Nestrovski assinam a curadoria da sala “Darwin e o Brasil”, criada exclusivamente pelo Sesc para integrar a mostra. Saiba mais em www.sescsp.org.br/darwinooriginal

 

Veja também:

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