Sesc SP

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Plataformas para educar

Ilustração: Fernanda Simionato
Ilustração: Fernanda Simionato

Gerência de Artes Visuais e Tecnologia

A ação do Sesc decorre de variadas experiências no campo cultural, tendo a ação educativa presente no cerne da instituição desde a sua criação em 1946. A “Carta da Paz Social”, documento elaborado por líderes empresariais e cujos princípios iriam inspirar a criação da entidade, já coloca como prerrogativa o resultado de uma “obra educativa, através da qual se consiga fraternizar os homens, fortalecendo neles os sentimentos de solidariedade e confiança”.

Para alcançar esses objetivos, a instituição lançou mão de diversas possibilidades de atuação junto com o público prioritário – os trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo -, mas também com as comunidades por onde passou e/ou se instalou. Até o final da década de quarenta, o trabalho do Sesc destacava-se por um cunho médico-assistencial, correspondendo à carência de recursos da sociedade brasileira em relação à saúde pública e à proteção da saúde do trabalhador, mas já apresentava em seus primeiros relatórios outros tipos de atividades proporcionadas pelos chamados educadores sociais.

Em consonância com as discussões da época, o ICOM (Conselho Internacional de Museus) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) trazia à luz, já em 1951, o papel educativo dos museus, entendendo educação como ponto indissociável da cultura.

No campo cultural, embora o Sesc não se configure como museu, muitas de suas ações se assemelham à própria definição de museu proposta pelo ICOM, que o define como “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade”. Entre os pontos convergentes com tal definição, destaque-se não apenas o fato do Sesc manter uma coleção de obras de arte dispostas ao público em todas as suas unidades, mas a amplitude de sua ação, que oferece a públicos de variadas faixas etárias e estratos sociais programações ligadas aos diversos campos artístico-culturais, com um forte viés inclusivo e educativo – aspectos estes que se manifestam fundamentalmente pela crença no papel da arte de favorecer o crescimento humano por meio de experiências de fruição duradouras e significativas.

A ideia de que cultura e educação formam um binômio indissociável é, portanto, um ponto fundante para a instituição, aspecto sublinhado principalmente a partir dos anos 1980 - momento em que as dinâmicas socioeducativas de sua ação cultural ganham força e lastreiam sua própria expansão no seio institucional. Estruturalmente, esta conjugação é identificada no aprimoramento dos espaços voltados à arte e no diferencial dos espaços de acolhimento de público, identificados como áreas de convivência. Entre elas, especial atenção foi conferida à presença de exposições nestes locais em busca de uma franca aproximação com os frequentadores das unidades. Nesse sentido, é possível enxergar esse partido como contraponto a um certo hermetismo que as instituições museológicas ainda enfrentavam na sociedade brasileira, buscando como  efeito colateral a maior aproximação com variados públicos.

Inicialmente, a função dos museus era associada exclusivamente à salvaguarda e à exposição das peças para pesquisadores e especialistas. À medida que o público começa a ter acesso a esses espaços, surgem também as primeiras iniciativas voltadas à educação patrimonial e a utilização do objeto como propulsor para a aprendizagem.

No Brasil, as primeiras experiências educacionais em museus são localizadas no Museu Nacional do Rio de Janeiro, na década de 1920. No estado de São Paulo, as ações do Museu Paulista estavam ligadas à ideologia de constituição de uma identidade nacional. Nos museus de arte, uma das pioneiras desse trabalho foi Suzana Rodrigues, que criou, em 1948, o Club Infantil de Arte no MASP, um espaço de ensino de arte para crianças. Com a criação da Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, se instaura um importante processo educativo no campo das artes visuais. Sob a perspectiva do ensino da história da arte, Wolfgang Pfeiffer, um destacado museólogo alemão, cria em 1953 o primeiro curso para monitores da Bienal.

No Sesc, o surgimento das ações educativas ligadas ao universo das exposições se deu de maneira distinta ao verificado no campo dos museus, vinculando-se menos à presença de “monitores” no espaço expositivo mas à própria concepção conceitual da programação. Esta abordagem pode ser verificada principalmente na aproximação com temas centrais da tradição popular brasileira, numa espécie de resgate histórico das formas criativas com que o povo brasileiro manifestava-se na arte e no artesanato, mas também nas chamadas exposições temáticas – que com o advento do Sesc Pompeia, e as ideias libertárias da arquiteta Lina Bo Bardi, jogaram luz à força dos traços culturais presentes na identidade nacional e à ludicidade como uma forma potente de interação e diálogo com o público.

Por muito tempo, alinhado ao conceito de arte-educação proposto por Ana Mae Barbosa, e o que se convencionou chamar de Abordagem Triangular - reunindo pontos fundantes do ensino-aprendizagem da arte, como a fruição, a contextualização e o fazer artístico -, o Sesc configurou sua ação no campo da mediação cultural, em consonância também com outras teorias para além da recepção de grupos nas exposições, com uma grade significativa de oficinas e cursos, teóricos e práticos, com o objetivo de desenvolver a percepção para os códigos da arte e uma visão crítica sobre a produção artística contemporânea.

Para o Sesc, o ato de visitar uma exposição ou participar de algum dos processos da chamada arte-educação é um momento especial, por proporcionar encontros e diálogos com expressões e pensamentos reunidos a partir do trabalho de um ou mais artistas, organizados sob determinados pretextos poéticos. Parte-se da ideia de que o espaço, por si só, pode ser um facilitador dos processos de aproximação e apreensão de conteúdos, já que a atmosfera que se cria no entorno de uma obra de arte também influencia a fruição do espectador. Da mesma forma, o educador atua na perspectiva de criar e propor situações de fruição e aprendizagem a partir do diálogo e troca.

A arte-educação, nesse sentido, não é meramente a transmissão de conhecimento ou tradução de um conteúdo, mas o estímulo à participação ativa e criativa do espectador, contribuindo para possíveis construções de sentidos. Em sua política cultural e educativa, o Sesc tributa especial força na permanência dos processos em arte, o que se traduz em favorecer o convívio de seus visitantes e frequentadores com a produção artística contemporânea - seja pela sistematização de exposições, pelo oferecimento de cursos ou pela disponibilização de seu acervo de arte nos espaços de circulação - almejando, assim, constituir-se como plataforma permanente e ativa de processos para a educação.