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Sobre os mistérios da Morte e o amparo àqueles que dela se aproximam
Historiadores, como Philippe Ariés, em sua obras “História da Morte no ocidente: da Idade média aos nossos dias”, nos mostram que a humanidade, desde tempos imemoriais, teme a morte. Ritos, preces, promessas, sacrifícios, pactos e cerimônias fúnebres em todas as civilizações formam um conjunto de expedientes lançados pelo ser humano em direção aos céus com a finalidade de mitigar a angústia diante da inexorabilidade de seu desaparecimento e do mistério desse desenlace. Do esforço na busca de compreensão brotam ricas e elaboradas mitologias e, assim, edifica-se, a própria cultura. Psicólogos, profissionais da área médica, antropólogos, afirmam, no entanto, que nas décadas mais recentes tem ocorrido na sociedade ocidental um inédito e surpreendente fenômeno: a negação de nossa finitude, expressão do grande tabu do século XX. Num passado recente, mor ria-se em casa, junto à família. O processo do mor rer era acompanhado com compaixão pelos entes queridos. O moribundo eraouvido em seus derradeiros pedidos e recomendações. A morte estava mais presente no cotidiano. Atualmente, o hospital é o lugar onde nascemos e morremos. A morte tornou-se solitária nas unidades de terapia intensiva, local onde, muitas vezes, se luta em vão pela continuidade de uma vida meramente vegetativa. A família se retira e retira de seu doente a possibilidade de decisão sobre seu destino, delegando essa responsabilidade aos profissionais da saúde. Esconde-se dos netos a morte do avô. Mente-se às crianças dizendo que a vovó fez uma “viagem” e que demorará a voltar.