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História para contar

Uma das Linoleogravuras e Xilogravuras produzidas entre 2009 e 2013 pelo artista Luciano Ogura
Uma das Linoleogravuras e Xilogravuras produzidas entre 2009 e 2013 pelo artista Luciano Ogura


Parceiras, a literatura de cordel e a xilogravura compõem marco fundamental para o entendimentoda cultura popular


A xilogravura possui relação estreita e reconhecida com a literatura de cordel, principalmente em seu início, quando as imagens que ilustravam as histórias eram quase todas feitas em xilo. Desse contato evidencia-se a origem do nome cordel no final do século 19, época em que as imagens gravadas e impressas tinham que ser penduradas para secar em cordas ou cordéis.

“A relação é também contemporânea, mas é importante lembrar que a literatura de cordel começou a ser editada abundantemente no Nordeste a partir de 1890, ao ser instalado o primeiro parque gráfico focado na produção da literatura de cordel e que abastecia a região”, afirma Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Cordel, com sede no Rio de Janeiro.

No Brasil, expandiu-se da Bahia ao Pará, antes de chegar a outras regiões. Os folhetos vendidos nas feiras tornaram-se a principal fonte de divertimento e informação para a população, que os via como uma mistura de jornal e a enciclopédia.

No primeiro momento, a literatura de cordel não era ilustrada com xilo, mas com figuras de casais de artistas de cinema quando se tratava de romance, ou só com o título do livro, por exemplo. Com o passar do tempo e na tentativa de baratear os custos das suas publicações, os cordelistas utilizavam a xilogravura para ilustrar as capas dos folhetos. “Xilo e cordel são intrínsecos, estão relacionados um com o outro, mesmo a xilo sendo anterior a este”, observa Ferreira.

Para ele, não há uma característica específica que identifique a literatura de cordel atualmente, contudo é evidente o avanço das ferramentas utilizadas para a produção.

“Antigamente existia a literatura de cordel caracterizada pelo humor, pela jocosidade. Hoje em dia pode ser vista como uma manifestação cultural tão abrangente que trata de todos os temas da humanidade, desde o fato circunstancial até o primeiro momento mais importante da evolução humana. Aconteceu, virou Cordel!”, explica.

Em sua opinião, um dos artistas que mais se destacam na relação entre xilogravura e cordel é o pernambucano J. Borges. “Ele somou o xilógrafo ao homem inteligente, colocou a literatura junto com a internet e avançou no tempo por meio das suas exposições que ganham o mundo”, declara.

O artista, que mantém uma rotina de produção constante, desenhando quase todos os dias, começou a ilustrar cordel ainda menino e, desde então, é reconhecido pela inovação de formas e sistemas de cores. Sua inspiração vem do que observa no cotidiano das pessoas, além do folclore e das lendas. “A inspiração vem do que vejo e do que sinto. Tudo isso serve para desenvolver um trabalho, tanto em gravura, como no cordel”, resume com simplicidade o mestre autodidata, que, aos 80 anos de idade, continua na ativa e valorizando esses dois marcos da cultura popular brasileira.


Encontros gráficos

Projeto destinado a artistas em formação promove intercâmbio por meio de bate-papos e oficinas criativas

Aprogramação dedicada às artes visuais no Sesc Belenzinho ganhou mais um capítulo com os Encontros Gráficos de novembro. O objetivo do projeto é oferecer ao público encontros mensais com artistas de artes gráficas, palestras e intercâmbios que apresentam elementos ligados à tradição e seus desdobramentos na atualidade, por meio de intersecções com as artes urbanas, o estudo da estampa em si, os materiais, aplicações, artes gráficas industriais, entre outros temas.

Como parte do projeto, houve em novembro um bate-papo dedicado à história do cordel na Lira Nordestina e a oficina Intercâmbio de Gravuristas: Lira Nordestina (CE) e Ateliê Ogura (SP). A orientação das atividades foi compartilhada entre José Lourenço Gonzaga e Cícero Lourenço, representantes da editora cearense Lira Nordestina, especializada em literatura de cordel, e Luciano Ogura, arquiteto e urbanista que desenvolve trabalhos diversos em xilogravura e ilustração.

Ogura conta que tendo em vista o público variado que normalmente se reúne em atividades relacionadas ao tema, a ideia foi apresentar em detalhes um panorama da gravura no Brasil. “Desde a história da aplicação da técnica pelos diferentes continentes e povos, relacionando-a à cultura do cordel”, explica. “Com uma abordagem mais heterogênea deixamos cada um buscar sua linguagem e ferramentas para descobrir como é o processo de criar a xilo, mesclando os universos artísticos ou trabalhando com tema próprio nas composições.”